segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

O samba que debocha

A visão de dois garotos vestidos de fofão os fez lembrar que o carnaval enfim chegava. Uma lembrança que ficava mais melancólica com aquele tempo chuvoso que se sobressaia a cada dia. O passageiro mostrou ao amigo motorista as duas crianças que andavam pelas ruas do município de Bacabeira. O motorista entendeu o inusitado da cena porque aquele indicio de carnaval morreria naquele dia mesmo. Quanta diferença para outros anos em que o mês de janeiro em que os sinais da proximidade do Carnaval proliferavam p;;elas ruas e pelas programações de rádios. O dia todo e nenhuma musica de carnaval nsas programações radiofônicas. Quanta siferença para outros anos. Tudo na vida das pessoas apontava para os três dias de carnaval. Com o carnava a cidade se transfigurava; sem o carnaval, a cidade silenciava. Qual o ritmo que mais se escutava durante o carnaval? Os foliões escutavam de tudo e cada menos samba. Samba e carnaval não são fenômenos sociais complementares. Eles existem independentes um do outro. Não é obrigatório que o samba festeje. É mais provável que o samba ironize. O samba ironiza a si próprio como na letra “O samba não é carioca/O samba não é baiano...” que consta da música “Misterio do Samba”, da banda pernambucana Mundo livre S/A. Nei Matogrosso e Pedro Luis e a Parede bem que tentam disfarçar a ironia presente na musica “A ordem é samba” do cd “Vagabundo” : “É samba que eles querem/ eu tenho/ É samba que eles querem/Lá vai/É samba que eles querem/eu canto/è samba que eles querem/nada mais”. Quem queria cantar samba e sambar por volta de 2003 no Rio de Janeiro e no restante do Brasil? O samba nessa música é mais uma figura de linguagem. Nei Matogrosso canta samba mas poderia cantar alguma mercadoria exposta as ruas do Rio de janeiro na época da escravidão. Na letra e na forma como Nei canta percebe-se um tom de deboche o que contesta a visão de que expressões culturais de origem popular devem ser festivas.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

A retalho

A praia se encontrava deserta. Os restaurantes começavam a abrir sus portas para possíveis consumidores. Algo no ar ameaçava aqueles predispostos a andar pela praia ou simplesmente se sentar nas cadeiras. O tempo ainda não amadurecera por completo. Estavam no inverno ou no verão? Seu editor cobrava dele uma pauta para aquele dia. “Que tal escrever algo que lembre a prática dos comércios de antigamente de vender manteiga de uma quarta?” Não só a manteiga. Em tempos idos, comprava-se vários produtos a retalho. “Uma quarta de manteiga”?!!! Não dava pra medir e nem pesar uma quarta de manteiga. Quem quiser que tente pesar uma quarta de manteiga. Quer dizer, o dono do comércio da esquina despejava a manteiga numa tira de papel jornal e ai daquele que duvidasse da quantidade despejada. Se era difícil pesar ou medir uma quarta imagine como deve ser difícil contabilizar uma dose de cachaça ou de conhaque. O que é uma dose para fins de comercio de acordo com a visão do comerciante? Não se sabe. Nem queira saber. O que se sabe é que num dia morrendo de tédio, daqueles dias que nem os amigos salvam, o individuo procurava o que fazer no boteco do bairro ou no boteco do povoado. “Bote uma dose”. O comerciante bem obediente lascava uma dose de qualquer coisa no copo. Uma dose que valia um real, dois reais e assim via. Essa prática de comprar a retalho remete a uma época de pouca circulação de dinheiro. Os tempos mudaram. O individuo chega e pede logo uma manteiga inteira e uma garrafa de cachaça completa. Pra que perder tempo?

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

A Historia é escrita e o voo da Japeçoca

A Historia é escrita pelos poderosos; mas mesmo nessa Historia pode se ler uma ponta de conhecimento das classes sociais mais baixas ou dos povos originários que foram exterminados ou que se miscigenaram. Num banhado do povoado Cedro, município de Arari, um japeçoca aterrissava o seu corpo diminuto sobre as águas. Eles pararam o carro para que um deles fotografasse a ave. As cores da ave condiziam com variações de preto e amarelo que num corpo tão franzino se destacavam. A região da comunidade quilombola de Cedro ficara mais conhecida pelos assassinatos de lideranças. Um conhecimento que o governo do esta;do do Maranhão gostaria que não saísse dos limites do povoado e no máximo não saísse dos limites do município de Arari. Melhor que ninguém saiba dos assassinatos ou se ficar sabendo melhor não ir lá. A frentista do posto de gasolina na entrada da cidade respondeu assim a pergunta de como chegar ao povoado Cedro: “Vocês vão por essa rua e vao se deparar com a igreja matriz. Atrás dela verão uma rua. Sigam por ela. Digo uma coisa; Cedro é longe”. Na estrada vicinal, a mesma pergunta foi feita a um jovem e ele respondeu dessaa forma: “Voces subirão umas cinco ladeiras. Ainda está longe”. No geral a corrida levou vinte minutos de carro. As instruções dos moradores pareciam mais uma forma de desestimular possíveis interessados em conhecer o povoado. A realidade do povoado não é fácil partindo principio que nada nesse mundo é fácil. Assassinatos de lideranças, mortes de animais dos agricultores, proibição de reforma e construção de casas e proibição de pesca nos banhados advindas dos proprietários da terra. Os quilombolas se viram como podem. Eles escrevem sua História assim como a Japeçoca, palavra de origem indígena, escreve seu voo colorido antes de pousar sobre as águas.

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Encarte de disco de vinil

Ele provinha da época dos encartes dos discos de vinil. Uma época não tão distante que pudesse figurar nos livros de Historia como uma época lembrada por curiosidades. Nos encartes continham informações técnicas sobre o disco, letras de músicas, texto explicativo e fotos ou gravuras. Por o vinil no prato e dar sequencia mexendo o braço da agulha ;para cair direitinho no inicio da musica não era para qualquer um. Continua não sendo para qualquer um como se vê por ai. O disco de vinil exigia que a pessoa se dedicasse tanto ao ato de absorver as musicas em suas extensões assim como exigia que a pessoa se dedicasse a ler o encarte em sua sinuosidade. Se a pessoa gosta mesmo de musica, ler e ouvir se tornam inseparáveis.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

A arquitetura do crime

De repente, ele se viu na inspiração que Joseph Conrad teve antes de escrever Lord Jim. Um homem todo vestido de branco e de chapéu andava por um porto no sudeste asiático. Conrad se perguntou o que esse senhor fazia ali e vestido daquela maneira. Assim nasceu Lor Jim um dos grandes romances escritos em inglês. Onde ele visualizaria um tipo desses vestido todo de branco e de chapéu pelos portos de São Luis e pelos portos do Maranhão? O Maranhão possui o maior litoral do Brasil. Os maranhenses não se aventuram com propósito de descobrir o que há nesse litoral. E o litoral não é só as praias ou os ambientes influenciados pela água do oceano e nem só os peixes que nadam em suas águas. O litoral tambem pode ser visto dentro de uma perspectiva maior. Como não pensar nos Campos de Perizes integrando esse litoral e como não pensar nas Jaçanãs integrante desses espaços de terra firme que a água toma e retoma dependendo da maré? O povoado quilombola Cedro, município de Arari, vivenciou (ainda vivencia)momentos difíceis nos últimos anos com os assassinatos de lideranças praticados por pistoleiros contratados por um consorcio do crime, suspeita-se. O que está em jogo são mais de 500 hectares de terra e muita água o que incentiva a expansão da pecuária ou a expansão da rizicultura na região que faz ligação com a Baixada Maranhense. a comunidade de Cedro se localiza perto do rio Mearim e suas águas quando enchem encostam nessa e em outras comunidades. O marido da senhora maria do Bom Parto foi o ultimo a ser assassinado. No quintal de sua casa, por pistoleiros escondidos na escuridão. Atiraram e deram no pé sem que ninguém visse nada de tão escuro que estava. Agora, a dona Maria do Bom Parto desconfia da presença de qualquer desconhecido que chega a sua porta. Os assassinatos das lideranças quilombolas tem uma arquitetura (mandante, contratante e pistoleiros). Só o sistema de segurança publica do Maranhão que não vê.

domingo, 23 de janeiro de 2022

A noite é quase invencível

Os barqueiros não erram e nem podem errar. Dois sujeitos aguardavam o horário do barco que navegaria de São josé de Ribamar ao litoral de Icatu, a uma vila de pescadores. Prefeririam viajar pelo dia e aportar antes de escurecer. Perderam o horário do barco e foram obrigados a embarcar num barco que sairia um pouco antes da noite. A pessoa que eles visitariam nem imaginava que receberia visita ainda mais vindo de São luis e ainda mais naquele horário tão inusitado. Você não enxerga nada a noite. Os barqueiros encergam, tenha certeza. É uma tripulação formada pelo condutor e pelos marujos. A viagem exige mais de duas horas num barco a motor. Os passageiros que usam desse meio de transporte são em sua quase totalidade moradores das comunidades de pescadores que vivem em lugarejos a beira marsem luz elétrica e sem acesso fácil a sede do município visto que as estradas é tudo areal. A noite é quase invencível em sua dimensão. Nada resta a fazer senão conversar ou dormir por duas horas. Os dois amigos revezavam o domínio da conversa. O amigo mais velho se mostrava habituado a esse exercício de navegar a noite. Ele morava numa comunidade ribeirinha de São luis e tinha como profissão ser pescador. O outro amigo, mesmo sem enxergar nada, deslumbrava-se com aquela experiência noturna e aquática. O porto onde desceriam era mais um local para por os pes , equilibrar-se e caminhar por alguns minutos. Nenhuma pessoaos esperavam e nenhuma pessoa esperava quem quer que seja. Foram descobrir a casa da senhora. O amigo pescador jurava que lembrava a casa . e não é que acertou!!! A senhora se surpreendeu com os dois em sua porta e ofereceu duas redes para dormir e um peixe cozido para jantar. No outro dia bem cedo, eles voltariam a São Jose de Ribamar.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Os jornais e os cadernos de cultura lidos por aí

Se pudesse, pararia em cada banca de revista da praça Deodoro. Ao todo, havia cinco bancas de revista no ano de 2001. Subia no ônibus Bom Milagre ou Alemanha quanto o vieculo percorria a avenida Getulio Vargas e parava do cine Monte Castelo. Nesta parada de ônibus, davam-se os primeiros contatos com jornais e revistas. Os contatos duravam pouco porque o dono da banca marcava cerrado e olhava feio quem se dispunha a se demorar manuseando e lendo uma revista ou mais de uma. Os donos das bancas do Centro eram mais tolerantes quanto ao tempo que uma revista ficava nas mãos de um cliente. Ele contava com essa tolerância para ler partes de um jornal. O ano de 2001 mal começara e a Folha de São Paulo publica no caderno Mais, caderno de cultura dos dias de domingo, um artigo do ensaísta judeu George Steiner sobre o livro “A obra das Passagens”, escrito pelo filosofo judeu alemão Walter benjamin. Ele lera Benjamin nas aulas de estética do curso de comunicação social da Universidade Federal do Maranhão porque seus professores indicavam a sua leitura. Por certo que a leitura que fez de Benjamin e dos outros Frankfurtianos foi relapsa. Ele se graduou em 1999 e longos dois anos levaram para que reencontrasse um texto referente a obra de Benjamin. Numa banca de revista, que local mais inesperado. De imediato, não deu para ler tudo. Seria muita cara de pau. Um determinado trecho que George Steiner cita de Benjamin o embasbacou: “Devemos investigar a influencia dos negócios funerários em Rimbaud e Latreaumont”. Que diabo era aquilo? Essa parte de Benjamin a Universidade não ensinou. Sabia quem poderia arranjar o caderno “Mais” no centro de São Luis naquele instante. O amigo quadrinista Joacy Jamys que assessorava o sindicato dos Urbanitários, cuja sede ficava na casa de Aluísio Azevedo à rua do Sol. Uma historia parecida acompanhou o disco “Lances de Agora” do compositor maranhense Chico Maranhão lançado pelo Discos Marcus Pereira em 1978, mesmo ano do disco Bandeira de Aço de Papete. O musico Ronal Pinheiro faz um solo de bandolim na faixa “Samba Choro”. Quem comentou o solo de bandolim e ao mesmo tempo elogiou o disco foi o historiador Tinhorão num artigo para o Caderno B do Jornal do Brasil o qual Ronald em um daqueles acasos que ficam pra toda vida descobriu no chão enquanto caminhava pelas ruas do Rio de Janeiro. Essas informações se fazem presentes no livro “Lembranças, Lenços, Lances de agora: memórias e sons da cidade na voz de Chico Maranhão”, do poeta ludovicense Celso Borges. Só não se faz presente a critica de Tinhorão ao disco de Chico Maranhão o que realmente é uma falta.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Não confie em plantador de soja

Não confie em plntador de soja Quantas famílias perderam os seus direitos as suas terras e aos seus territórios por confiarem em políticos e/ou empresários que pediram aos líder ou lideres dessas famílias para assinarem algum documento que se descobriu mais tarde não passava de um documento autorizando o desmatamento da terra ou território onde essas famílias moravam e trabalhavam? É indiscutível que as comunidades tradicionais tem dificuldades com a leitura e a interpretação de textos que muitas das vezes são escritos com uma linguagem hermética que só quem escreveu é capaz de decifrar. Na manhã do dia primeiro de dezembro de 2021, um grupo de trabalhadores a mando do plantador de soja André Introvini começou a cercar uma área nos fundos da propriedade do agricultor familiar Vicente de Paulo no povoado Carrancas, municipio de Buriti, baixo parnaiba maranhense. O serviço executado pelos trabalhadores do Andre Introvini era vigiado por seguranças armados e pelo próprio Andre Inrovini que acompanhava o trabalho da estrada. A presença de seguranças tinha como propósito intimidar a família de Vicente de Paulo e os vizinhos que tentassem se interpor as ações dos trabalhadores. Andre Introvini e Vicente de Paulo disputam parte da Chapada do povoado Carrancas e para justificar essa ação o Andre alegava ter ganho na justiça. Só quando chegou um comando da policia militar, o Andre Introvini mostrou um documento que na verdade era uma decisão judicial condenando o Vicente de Paulo por supostamente atear fogo na Chapada. A decisão não tinha nenhuma relação com a disputa pela terra e o Andre Introvini queria ganhar no grito o que não ocorreu porque a família de Vicente e os seus vizinhos fizeram barulho e a policia militar os levou a delegacia de Chapadinha onde o delegado ouviu o André e o Vicente. No dia 13 de janeiro de 2022, um funcionário do Andre Introvini pediu ao Vicente de Paulo que assinasse um documento em que ele aceitava ser retirado de sua casa porque a fazenda São bernardo pulverizaria a área para o plantio de soja e havia uma decisão judicial impedindo que eles jogassem veneno a quinhentos metros da casa do Vicente. O Vicente não assinou o documento porque estava com muita febre e porque se suspeitava que havia angu nesse caroço , que o Andre podia aproveitar a não presença do Vicente e de sua família para se apossar de todo o terreno. O que ficou comprovado já que no dia 20 de janeiro mais uma vez o plantador de soja e seus seguranças impediam as pessoas de irem para as suas roças. Por conta da mobilização da vizinhança e da assessoria jurídica, a policia militar foi chamada e os seguranças se retiraram. As investidas do Andre Introvini são no sentido de obrigar o Vicente de Paulo a desistir do seu território. Uma prática comum nas disputas travadas entre o agronegócio e as comunidades tradicionais.

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

carnaval na obra

É um saco conversar sozinho. Conhecimento só se põe a prova no diálogo. No ano de 1999, o jornalista era um frequentador assíduo do bar do Léo. Valia a pena beber no bar do Leo e pedir musica do acervo dele para ouvir no tape deck ou no tocador de cd. Vaidoso como era, um pedido de musica era uma oportunidade para que demonstrasse o quanto sabia de musica. Num dia de bar cheio, Leo atendia os clientes quando um compositor/cantor de musica popular maranhense pronunciou o seu nome e chamou para perto a fim de lhe entregar o seu cd recém lançado. Os músicos faziam questão de presentear leo ou Leonildo com os seus cds esperando claro que ele os tocasse em seu equipamento de som. No caso deste compositor, a reação de Leo foi de aversão. Ele não poupou palavras de um jeito que um surdo escutaria a quilômetros de distancia. É claro que a distancia no bar se media por metros e por essa razão é possível que o compositor tenha escutado ou percebido que o seu cd era indesejável. Esse cd deve ter encalhado nas prateleiras das lojas da rua grande e dos shoppings de São Luis. Nessa mesma noite, o jornalista exercitava um diálogo com uma amiga jornalista cujo ponto principal se fixava no cd “Carnaval na Obra, terceiro cd da banda pernambucana Mundo Livre S/A. Coma permissão do dono do bar, o jornalista se demorou atrás do balcão como se a ele coubesse anotar os pedidos. Que nada. Essa amiga surgiu de repente e anunciou que comprara o cd do Mundo Livre muito pela sugestão feita por ele. O Mundo Livre era a consciência critica do Mangue Beat e da cultura brasileira produzida industrialmente nos anos 80 e 90. Será que a amiga jornalista guardara o cd ou fora uma fase que durara pouco tempo? .

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

o enrolão

Finalmente, ele chegou a conclusão que melhor que concluir é enrolar. O governo do Maranhão, nos dois mandatos do governador Flavio Dino, enrolou e enrolou as comunidades tradicionais e quilombolas. A ultima enrolação ficou sabendo se deu na comunidade quilombola de Peixes, município de Colinas. Como um governo tem coragem de embromar uma comunidade cujas áreas produtivas foram inundadas pelas fortes chuvas do inverno de 2021/2022 fica a pergunta. Uma coisa que se aprende com o tempo; politico gosta de enrolar os outros. É prazeroso enrolar um pobre coitado que depende do Estado para sobreviver assim como é prazeroso enrolar um cigarro de fumo. O verdadeiro politico é um enrolão que na cara dura repete as mesmas enrolações de sempre. O governo é aquela enrolação que o povo finge que acredita. O escritor tambem é um enrolão de marca maior. Ele enrola o leitor até o momento em que este perde a paciência e parte para outra leitura. Ou não. O grande escritor enrola tão bem o leitor que este nem se dá conta de como foi enrolado. Para o escritor enrolar bem o seu leitor, precisa de prática, claro. Anos de prática. Prática não leva a lugar nenhum se não houver um fio condutor. O escritor deve jogar o fio condutor e onde ele parar de desenrolar começa a historia ou termina.

domingo, 16 de janeiro de 2022

Crime e Castigo

A narrativa de um livro nunca corresponde ;aos fatos a que ela se propõe analisar. E nem deve corresponder. A função da narrativa não é estabelecer relações de igualdade para com o narrado. A função a qual ela se destina é justamente destacar as desigualdades ;presentes no objeto central do seu estudo. A narrativa é o estudo de algo ou de alguém sob bases historicas e sociais. É claro, nem toda narrativa consegue o seu objetivo principal. Nem por isso, quer dizer que ela falhou por completo. As suas derrotas pode resultar em vitorias expressivas em algum trecho. Os trechos iniciais de “Crime e Castigo”, de Fiodor Dostoievski, afastam um leitor que procure um leitura de sentimentos mais elevados. No final do livro, o leitor encontrará um trecho que enche os seus olhos de sentimentos elevados, o que destoa do restante do livro cujos elementos narrativos principais são o crime, a passionalidade e a desesperança. As primeiras páginas de Crime e Castigo ultrajam o bom senso de quem realmente acredita que narrativa e realidade andam sempre agarradas como se nascessem dos mesmos pais. Se narrativa e realidade se igualassem não haveria necessidade de narrar o mundo pois o mundo seria inenarrável.

O monte castelo e o modernismo

A posição onde expuseram a placa não ajudava m nada. Posicionaram a placa no primeiro andar da casa e nela escreveram “Vende”. A intenção obvia dos proprietários de4 venderrem a casa esbarrava na falta de exdperiencia com coisas básicas na arte de vender: uma boa publicidade. O proprietário, que se sentara na calçada do vizinho em frente a sua casa, permanecia quieto em seu casulo imaginário numa rua em que o movimento de pessoas numa tarde domingo inexistia. Nem a casa e nem o proprietário despertavam muita atenção de quem passava a qualquer hora do dia. o pouco contato que houve entre eles decorreu do fato que precisava alugar um carro no qual viajaria ao interior do estado do Maranhão. O motorista e amigo intermediou a conversa entre os dois. A negociação não chegou a bom term, pois o senhor aconselhado pela filha pediu mais dinheiro. Será que o velho queria mais dinheiro ou dificultou a negociação para que o carro não saísse da sua garagem? ;Olhando para o velho, sentaod sozinho numa calçada avesso a qualquer contato, e vendo a placa escrita errada e posicionada numa altura que dificulta a leitura por quem passa, vem a mente a possibilidade dele estar agindo da mesma forma como agiu na hora de alugar o carro. A intenção é vender a cada mas fará o possível para não vender essa casa que é uma legitima representante do modernismo arquitetônico que grassou por São Luyis nos anos sessenta. Contraditório que para o modernismo ludovicense ser visto e lembrado um homem precisa ter duvidas se deve vender a sua casa.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Chapada dos balaios

O rio Preguiça aparenta uma forma que poucos se atreveriam a afirmar qual é. A forma de um rio depende de seu relevo e depende do volume que ele distribui por sua calha e por suas margens. Ele dá forma a historias de mulheres, homens e crianças que por alguma arazão ou por mais de uma puseram os pés em suas águas talvez intuindo que o rio os levaria pra bem longe dos tormentos que experimentavam. A água é a melhor forma de fuga. Ela não deixa vestígios. Navega-se por horas e dias a ponto de ouvir o gorjeio dos pássaros e mais nada. Era possível navegar sem proferir uma palavra sequer. Qualquer volume de voz chamaria atenção dos que estavam a sua procura. Existe um lugar entre os povoados de Bom Principio e São Raimundo, município de Urbano Santos, em que os negros se escondiam em grotas cheias de águas capazes de esconder mais de um homem. Deram o nome de Chapada dos Balaios a esse lugar. A Balaiada ou a revolta dos Balaios referencia esse lugar.

domingo, 9 de janeiro de 2022

Atrás de bacuri pela Chapadas de Urbano Santos

O que dizer de um rio em que você pode se sentar na beirada da ponte a espera que um peixe se compadeça da sua isca e morda-a? O rio Preguiças é um pouco esse peixe e é um pouco a criança sentada na beirada da ponte. Essa criança não é a única a cortejar o rio Preguiças e os seres que vivem nele. No povoado São Raimundo, um pouco mais adiante pela estrada que cruza a comunidade de Boa União, o passatempo das crianças é mergulhar o rio Preguiças em suas profundezas e pescar de arpão. Um arpão rustico mais bem funcional que deixou impressionada a visita. Aqueles garotos cresceram debaixo daqueles buritizeiros e mergulhar para eles representa o grau máximo de liberdade que possam ansiar. Querer mais o que? Que tal catar bacuri ou pequi pelas Chapadas de São Raimundo e Bom Principio, os povoados de Urbano Santos onde a produção de bacuri vence qualquer um outro que se atreva a rivalizar. O Miqueias, filho da Francisca, obedece a mãe quando ela lhe pede que desça do carro e vá para debaixo dos bacurizeiros apanhar os bacuris dispostos ao chão. Bacuri bom é bacuri caído e não bacuri derrubado cuja polpa perde qualidade. A Francisca, presidente do STTR de Urbano Santos, pediu pro motorista que ele parasse o carro porque gostaria de fotografar um bacurizeiro super carregado de bacuris e renovou o pedido ao filho que desse uma volta em torno do bacurizeiro para quem sabe achar algum bacuri. Motorista e filho de Francisca voltaram de mãos abanando. “Andou gente atrás de bacuri desse pé hoje”, revelou o motorista.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

A cidade das três fontes

Um dia de muita chuva requer dedicação. Dedicar-se a tal ponto que a pessoa fique deitada o dia todo se balançando em uma rede. Só se levantando para comer e beber qualquer coisa. Nada de muito esforço. Para que estragar o dia? Um dia chuvoso não é um dia perdido como se supõe. E nem melancólico. É um dia que as pessoas ficam em casa e saem para demorar pouco nas ruas. São luis é uma cidade que mantem uma relação de conflito com suas áreas alagadiças e com seus cursos de água. O ludovicense maltrata a agua e seus ambientes por razões econômicas e sociais que a Historia não apagou e sim alimentou porque os fatos históricos permanecem ativos por mais longiquos que estejam. Em qual fonte a Historia bebe e em qual fonte a Historia do Maranhão bebe? Pensar o Maranhão somente por São Luis é um tremendo erro assim como é um erro pensar em São Luis somente por suas áreas nobres e por sua imagem de cidade histórica e artística. A cidade das três fontes: fonte do Ribeirão, Fonte as Pedras e Fonte do Bispo. Ficou fácil gravar os nomes depois de gincanas culturais e de programas de auditório que demandavam esse conhecimento nos anos 80. Quem sabia, respondia, mas quantos se dignavam a descer a Fonte do Ribeirão, adentrar a Fonte das Pedras e quem sabe fazer o que em relação a Fonte do Bispo? A cidade das três fontes cujas importâncias e cujas historias a população aprendeu salteado.

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

O transeunte

Sempre fora um desastre no que dizia respeito a prestar auxilio a alguém que lhe pedisse informações. Essa realidade desastrosa aos poucos mudou para melhor. Aprendeu a gravar nomes de ruas e praças e aprendeu a gravar referencias. Portanto, a possibilidade de ele responder errado alguma solicitação de informação caiu consideravelmente. É um feito notável que demorou anos. Obteve êxito onde muitos fracassaram? Agradecia aos amigos que o acompanhavam pelas ruas centrais de São Luis, esse feito heroico e historico de manter a concentração a qualquer custo. Eles compunham um grupo que discutia arte e cultura e botavam em prática essas discussões por meio de pesquisas estéticas e sociais que não se encerravam em si mesmas. A fotografia exercia um fascinio sobre eles digno de nota. Um dia não se passava sem que um artigo de revista estimulasse o seu interesse pelos aspectos singulares da fotografia. Ele nessas horas se fechava em copas porque em termos de imagens e representação preferia as artes plástica. Pois bem, com os amigos aprendeu a se concentrar em detalhes e muito rápido. Foi dessa forma que respondeu a um rapaz que o abordou na praça da Misericordia, centro de São Luis. “Como faço para chegar ao Mercado Central?”. E agora, pensou. Praticamente, a pergunta colidiu com ele despertando-o da sua imersão na praça. Olhou em volta e viu uma rua a qual ele e os amigos subiram em 2020 vindos do mercado entral após visitarem a fonte das Pedras. É só descer essa rua que dará direitinho no mercado”. Sentiu-se aliviado e ao mesmo empo vitorioso por responder com segurança ao transeunte.

domingo, 2 de janeiro de 2022

Uma outra Alcântara

Outro dia se encorajara pra ir a Alcântara, município da região metropolitana de São Luis. Resistira o máximo que pôde. Achava completamente fora de propósito sair de sua casa, pegar um barco no centro histórico, atravessar a baia e desembarcar numa cidade cujo valor histórico residia em casarões desabitados e a mercê do tempo. Também não tinha com quem ir e mesmo se alguém o convidasse não iria. Sentir-se-ia sozinho em uma cidade com tantas historias a vista e outras tantas escondidas. Andaria feito um desajeitado pelas diversas ladeiras das quais as pessoas faziam questão de falar? Quanto temor se escondia nessa pergunta. De uma hora pra outra, a decisão de evitar conhecer Alcãntara mudou de conversa. A prosa mudou de rumo. É preciso obter conhecimento para que a prosa adquire cor e contorno. A maior parte da população morava fora do centro histórico de Alcântara: os quilombolas. Uma população que vivia a própria sorte e ao próprio sabor do tempo. Queria conhecer essas comunidades mais do que a cidade nitidamente portuguesa, a cidade regida pela historia tradicional. Queria conhecer a Tapuitapera, o nome anterior de Alcântara, dos tempos em que os indígenas cruzavam a baia de Cumã indo em direção as praias de Guimarães. Um dia, convidou um amigo para navegarem o litoral oeste em um barco a vela. O amigo respondeu “Vais sozinho. Não sabes o que é navegar em alto mar”.

sábado, 1 de janeiro de 2022

A baixada maranhense, a produção de sentidos e a ferrovia

O encerramento das atividades do jornal O Estado do Maranhão deixou muitos dos seus leitores órfãos por não verem em nenhum outro jornal a capacidade de assumir o papel de porta voz da direita maranhense em toda a sua expressividade o que o jornal O Estado fazia tão bem. Não é preciso se assumir de direita para ser de direita. No caso de um veiculo de comunicação, é só observar as matérias veiculadas para se constatar qual o projeto politico defendido pelos donos do meio de comunicação. O jornalismo é um sistema produtivo de informações diário que implica a dizer que ele depende de um fluxo intenso de materiais produzidos tanto em termos físicos como em termos simbólicos para que possa produzir e reproduzir noticias sem hesitar. O que seria o sistema capitalista caso o jornalismo inexistisse? À produção de sentidos, função exercida pelo jornalismo, corresponde a produção de riquezas. Um vive a custa do outro. A produção de sentidos presente nas noticias veiculadas pelo O Estado propugnava a imagem de um Maranhão reconciliado com seu passado excludente e desigual o que foi generosamente obtido através das politicas publicas desenvolvidas pelos consecutivos governos de direita que o estado experimentou. Esse estado reconciliado consigo mesmo desapareceu com o encerramento das atividades do jornal O Estado? Com certeza que não, pois ainda pode ser visto em matérias veiculadas no Reporter Mirante sobre a Baixada Ocidental maranhense. O caso do pai e do filho que pescam nos campos naturais; o caso do senhor que pesca mussum; e o caso do dos donos de búfalo que por falta de pasto, devido a seca, que levam os animais para pastarem no município de Penalva. Esse mundo reconciliado do homem e a natureza na Baixada só existe enquanto produção de sentidos. O projeto de construção de uma ferrovia que ligará Açailandia a Alcantara cujo firme proposito será transportar os grãos produzidos na região oeste maranhense representa um perigo real para a sobrevivência de várias comunidades que vivem na Baixada e em outras regiões por onde passará a ferrovia. A produção de sentidos não corre perigo de extinção porque sempre haverá produtores culturais capazes de fazer renascer a ideia de um Maranhão reconciliado consigo mesmo e com a natureza.

O verso

O aluno do curso de jornalismo chega e mostra ao professor de português um pequeno poema escrito por ele em que a cidade de São Luis é tema principal. Foi o ano de 1992. Um verso se destacava entre os demais. “Construiram uma praça no quintal de nossa casa”. O professor de português, perto da aposentadoria, demonstrou sua estranheza. “Por favor, explique”. O prefeito Jackson Lago inaugurara a praça Maria Aragão, construída abaixo da praça Gonçalves Dias e cujo projeto Oscar Niemwyer concebera. O aluno explicou rapidamente que a praça fora construída num terreno cheio de mato e que inundava durante o inverno. O verso indicava um sujeito perplexo perante uma obra publica que fugia da regra de construir obras publicas que simplesmente embelezassem a cidade sem contribuir para sua melhori, prática costumeira dos grupos políticos que governaram o estado do Maranhão e a cidade de São Luis.