sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Os rios de outrora

A memoria não é real. Ela pode ser sentida ou imaginada. A chuva e o tempo encoberto favorecem a que insights memorialístico se desprendam do interior da memoria para que a realidade ao redor seja redescoberta. A chuva desperta a memoria ou a memoria se permite levar pela chuva? A chuva tem seu ritmo. As vezes terrível, outras vezes manso. “A chuva vem de mansinho para nos pegar no colinho”. A memoria se sente atraída por esse ritmo com o qual a Chuva empurra as águas dos rios para as margens que outrora lhes pertenciam. Outrora pode parecer um tempo longiquo, mas não é. Outrora os ludovicenses banhavam em rios de agua pura. Para quem conhece São Luís e os municípios vizinhos o tempo dos rios de outrora vagueia pelos anos setenta e oitenta. Outrora passava um rio pela rua dezenove de março no Monte Castelo que provavelmente nascia e crescia nas partes altas e descia em direção aos manguezais. Será preciso reivindicar o outrora para rever o que fora esse rio?

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

O almoço desconsolado

Um grupo de amigos decidiu se reunir num restaurante para almoçarem e entabularem conversas dos mais variados campos de conhecimento. Quem diria que os amigos almoçariam num restaurante á beira da praia como se fossem excelentíssimos representantes da burguesia local. A escolha do prato recaiu sobre carne. O restaurante se especializara em carne, embora a sua localização passasse a ideia de um restaurante dedicado a pratoscom peixes e mariscos. Se você pretende ascender socialmente, deve abdicar do seu passado baixadeiro comedor de peixe e galinha caipira e assumir o seu pendor por carne de gado. A carne servida veio em grande quantidade, como tudo que esse restaurante serve, mas passava uma sensação de desconsolo. Ascender socialmente em alguns casos significa abundancia e ao mesmo tempo desconsolo. Tem decisões que não dá para voltar atrás nem no sentido politico e nem no sentido temporal. Felizmente, o grupo de amigos provou um prato com um tira gosto de isca de peixe como prévia do prato principal. Se não fosse por isso, o desconsolo calaria todo o grupo.

domingo, 26 de dezembro de 2021

O jantar

Com pouca gene à rua, a cidade se volta para dentro de si. Passa a chave à porta e fecha as janelas. Ela se sente solitária. Acha melhor permanecer deitada a manhã toda. A chuva a chama para debaixo dos lençóis. A despensa se esvaziou e na geladeira o que praticamente resta congelou. A cidade cresce como erva daninha que toma conta do quintal. A cidade parou em cima da faixa. Troca-se de carro com ele em movimento. O carro bateu no poste e o socorro demorou a chegar. A cidade perdeu o rumo e caiu com a cara no asfalto do meio-dia. o motorista adormeceu ao volante e a carona acordou com o pedido de divorcio nas mãos. Acautelem-se, pois o padre abençoa o almoço. Peçam a Deus que venha logo para o janar não esfriar.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Aversão e retrocesso pelas praças e ruas de São Luis

Dá pra ver pelas praças de São luis que os governantes e seus auxiliares não morrem de amores pelo assunto arborização e paisagismo. A espécie mais escolhida para arborizar a cidade é a Palmeira imperial. Quando não é palmeira imperial, o que a prefeitura planta nas praças parece mais um capim ressecado. O mau trato com relação as praças e as vias publicas de São Luis é um assunto que vem de longe. Contam uma historia que determinado prefeito cortou as árvores de uma praça que davam sombra apenas porque os cidadãos ficavam a debater politica embaixo delas. Cortar é bem mais simples do que plantar e conservar as árvores que se enraízam pelos espaços públicos. Do ponto de visa mental e emocional, é claro. Pra que ter trabalho com plantas e árvores, não é verdade? os governantes nem querem ter trabalho com os cidadãos. A aversão com que os governantes e a população tratam seu patrimônio natural condiz com os despropósitos com que cuidam do patrimônio histórico e artístico de São Luis. Em algum momento da Historia, escritores moravam em casarões erguidos nas várias ruas abertas no centro de São Luis. Gonçalves Dias, poeta romântico, passou boa parte de sua vida em um casarão à rua de Santana. Só se acessa essa informação na hipótese de você andar ao lado de alguém que a tenha e que se predisponha a auxilia-lo em seu crescimento intelectual e social. não sendo assim, melhor esquecer porque a antiga casa de Gonçalves Dias virou uma casa comercial como outra qualquer. Habitua-se tanto ao retrocesso que o retrocesso se torna rotina

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Plantios de eucalipto entre Urbano Santos e Barreirinhas

A região limítrofe entre Barreirinhas e Urbano Santos se se coloca numa situação de limbo fundiário e territorial. Devido a essa situação incerta em que se desconhece a que município pertence determinada área, as empresas de reflorestamento se aproveitam para desmatar e plantar eucalipto em milhares de hectares com a presunção de que os seus plantios se encontram no município de Urbano Santos que não possui legislação ambiental impeditiva ao plantio de eucalipto. Diversas partes do município de Urbano Santos foram tomadas por empresas de eucalipto como a Suzano Papel Celulose e a Margusa. Os plantios de eucalipto nas bordas dos municípios de Urbano Santos e Barreirinhas tinham como destino a produção de carvão vegetal o qual seria levado a planta da Margusa em Bacabeira. O transito Urbano Santos e Barreirinhas se dava por essa estrada em que quase não vê comunidades porque elas se localizam mais adentro. Quem passa pela estrada e vê somente eucalipto nem imagina o quanto de comunidades que residem nas partes baixas próximas ao rio jacu, afluente do rio Preguiças, cujas cabeceiras foram desmatadas. Vez ou outra, as empresas de eucalipto tentm avançar sobre as áreas de Chapada do município de Barreirinhas com a desculpa que na verdade pensam estar em Urbano Santos. As comunidades de Buritizinho, Anajás dos Grces e Tabocas por diversas vezes impediram a ação dessas empresas que mantem o olho gordo voltado para essas Chapadas na esperança que as comunidades desistam delas.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Proposta para melhorar a estrutura ambiental do governo do Maranhão

Um governo qualquer que seja a sua matiz ideológica deve procurar sempre aprimorar os seus objetivos de curto médio e longo prazo pensando em melhorar a prestação de serviços para a sociedade. Tendo em vista essa premissa, o governo do Maranhão deveria reorganizar a sua estrutura administrativa que em alguns pontos deixa muito a desejar. Pronuncie deixa a desejar e deixa muito a desejar e sinta a diferença entre uma expressão e outra. A estrutura administrativa do governo do Maranhão deixa muito a desejar em alguns pontos. Que pontos são esses? Bem, explicitar que pontos são esses é uma tarefa delicada. Não é de bom tom criticar os outros sem que esses outros peçam sua opinião e o governo do Maranhão, por alguma razão, se mostra refratário a aceitar criticas, justas e injustas, construtivas e destrutivas, com propósito e fora de propósito e etc. Para o governo do Maranhão é inaceitável receber criticas. Entende-se essa dificuldade. Um governante sempre vai acreditar que o seu governo é o melhor de todos os governos. Por essa razão e por outras, uma critica bem fundamentada e bem direcionada não vai mal. Alguns pontos que o governo do Maranhão ao fazer mudanças melhoraria e muito a imagem do seu governo dizem respeito aos tratamentos que as suas secretarias dão as comunidades tradicionais e quilombolas que vivem na zona rural e nas periferias do estado do Maranhão. A Secretaria do meio ambiente do Maranhão quando cobrada a sua presença pelas comunidades afetadas por um grande empreendimento responde que não tem recurso para combustível, para as diárias, para a hospedagem e etc. a desculpa esfarrapada avorita da SEMA foi dada inúmeras vezes e a função da SEMA que é cuidar dos biomas do estado nunca é cumprida. Para que a sociedade maranhense não mais se decepcione com essas desculpas esfarrapadas propõe-se que a SEMA reivindique a criação de um departamento estritamente voltado para as demandas das comunidades tradicionais e quilombolas. A única despesa do governo do Maranhão seria criar uns cargos comissionados e uma sala espaçosa no prédio da SEMA. Caso alguma liderança ligue ou mande um e-mail para a SEMA a resposta automática será encaminharemos sua demanda para o departamento de comunidades tradicionais e quilombolas e aguarde o retorno.

domingo, 19 de dezembro de 2021

Bacuri

Bacuri, em tupi, o fruto que “cai logo”. Começa a amadurecer em julho e com as primeiras chuvas de dezembro e janeiro cai. Em São Luis, nesse mês de dezembro de 2021 se nota o bacuri em certa quantidade pelo mercado do João Paulo. Nos demais mercados, é quase certo ver o bacuri pelas bancas dos feirantes. O bacuri se faz presente em quase todo o Maranhão, mas nessa época do ano o bacuri que se consome vem do centro sul do estado onde o período chuvoso se inicia em outubro. O consumidor vai a feira comprar tomate, cebola, vinagreira entre outros legumes e folhas para o almoço e surpreende-se com a visão de carradas de bacuri. Quebra-me ou não me devoras. Quem quiser comer bscuri terá o trabalho de quebrar a casca que mescla cores das mais variadas e uma não suplanta a outra diferente da manga. Um amarelo meio esverdeado ou um verde meio amarelado? O bacuri é indecifrável e inclassificável. Precisa-se quebrar a casca sem muito esforço ou com um pouco de esforço porque o conteúdo do fruto recompensará quem se dispôs a quebra-lo. De todas as frutas do Cerrado, arrisca-se a dizer que o bacuri é o mais nobre se bem que em termos de nobreza as demais frutas do Cerrado não deixam a desejar. A nobreza no caso do Cerrado não é uma questão de estilo e sim uma questão de existência afinal é o bioma mais antigo em todo o Brasil e dele dependem os outros biomas. E o Cerrado é tão nobre que acolhe sem grandes exigências o bacuri, uma espécie amazônica, em suas florestas de baixa estatura e de cabeça pra baixo. Entender como o bacuri se insinuou pelo Cerrado do Maranhão, do Piaui e do Tocantins e em que época isso ocorreu auxiliaria a compreensão de como se deu a entrada e a fixação de populações nesses estados. Auxiliaria tambem a entender as consequências que advirão ao emio ambiente e a vida dessas populações com os desmatamentos de grandes porções do Cerrado nesses estados.

sábado, 18 de dezembro de 2021

A vida é curta

Dar-se por satisfeito. Um ato de consciência individual. A vida é curta. Concluiu ao ver a vassoura que a empregada varria a casa. a vida é curta e o que restava a fazer era comprar uma vassoura nova. por que as vassouras duravam tão pouco? Comprara aquela vassoura num mercadinho da Liberdade porque as vassouras da Casa do tempero vizinha a sua casa mal duravam uma semana. A vida é curta. O comércio de vassouras deve ser muito ativo porque elas duram muito pouco. Quem fabricava as vassouras? Algum empresário inescrupuloso que escravizava imigrantes? Em algum casarão abandonado no centro de São Luis? A vida é curta e se dê por satisfeito.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

A família que toma terra dos outros

Uma estratégia bastante utilizada pelos plantadores de soja no Baixo Parnaiba para obter terras sem que provem comprovar a posse são os pedidos de reintegração de posse que movem contra os agricultores familiares reais detentores da posse dessas terras. Os plantadores de soja agem como um consórcio em que um auxilia o outro na obtenção dessas terras. A advogada Fátima Kerber entrou om um pedido de reintegração de posse contra o senhor Zacarias por uma área de mais de 80 hectares no município de Mata Roma. No seu pedido de liminar, ela alega que recebeu a área em questão de sua avó a qual comprou do senhor Zacarias em 2003, e que arrendou a área para um plantador de soja. Para sua surpresa, na versão apresentada por ela, o senhor Zacarias e sua mulher, dois velhinhos de mais de 80 anos, invadiram esse terreno e tomaram cinco hectares. para comprovar a sua tese de invasão ela inscreve no processo como testemunha a mesma pessoa para quem ela rarrendou a terra. é preciso analisar a versão da senhora Fátima Kerber. A sua avo, que Deus a tenha onde estiver, comprou um terreno do senhor Zacarias, o qual garante que nunca vendeu, e presenteou a sua neta que na impossibilidade de trabalhar pois não planta soja arrendou para outra pessoa que sim planta soja e vive desse plantio. Foi um presente de avó para neta que pobre coitada precisou arrendar esse terreno e assim garantir algum dinheiro para si. A avó devia ter uma grana sobrando e resolveu fazer essa compra pensando em sua neta. A senhora Fátima Kerber então arrenda essa terra para um plantador de soja que a utiliza por vários anos e quando não vê cinco hectares serem ocupados por dois velhinhos de mais de 80 anos que venderam esse terreno em 2003. E aí a senhora Fátima Kerber entra com uma ação de reintegração de posse na qual a sua principal testemunha é aquele para quem arrendou o terreno para plantar soja. Para começo de conversa, a família Kerber não é uma família de agricultores familiares do sul que vieram para o Maranhão com recursos contados para comprarem uma propriedade e assim exercerem a atividade agrícola. A família Kerber negocia terras em boa parte do Baixo Parnaiba e uma forma de negociar terras é tomar terras de pessoas idosas como o senhor Zacarias em Mata Roma do senhor Vicente de Paulo no povoado Carrancas e do senhor Manoel Carlos, povoado Coruja, os dois do município de Buriti e ou as arrendam para os seus companheiros do consorcio da soja ou sua família planta.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

O preço do peixe nas praias de São Luis

Ir a praia com intuito de comer peixe talvez decorra de um dos grandes processos de apropriação cultural da sociedade moderna e ela nem se dá conta disso. Sem exageros, a vida que a sociedade moderna experimenta é um grande processo de apropriação cultural com relação aos antepassados dessa mesma sociedade. A apropriação cultural no caso de comer peixe a beira da praia se refere aos povos indígenas que viviam no litoral brasileiro bem antes da chegada dos europeus. Quer dizer, não é só uma apropriação cultural como tambem é uma apropriação econômica, social e ambiental de práticas alimentares e sociais de povos indígenas que, infelizmente, a construção histórica não consegue alcançar pela falta de documentos históricos e dados precisos que permitam apreender essas práticas de acordo com os povos indígenas aos quais elas pertencem. Uma forma de capturar essas práticas sem viajar ao passado fisicamente seria analisar as práticas atuais que mantem em seu cerne resíduos da historia social que se passou ou que ainda não passou por completo. Veja bem o caso de uma senhora que certamente herdou elementos da cultura indígena e como tal, em tese, herdaria o gosto pelo consumo de peixe de qualquer procedência e de qualquer natureza. O marido desmente essa visão ao expor que sua mulher come somente peixe pescada, um peixe de agua salgada. Quem em boa memória, deve lembrar que nos anos 80 e 90 o discurso e as práticas sociais nas praias de São Luis eram que dia de domingo combinava com praia e praia combinava com sol, futebol, cerveja e tira gosto (pescada frita, caranguejo, ostra e etc). Então, o dia de domingo para boa parte das famílias ludovicenses servia como uma exceção a regra semanal de trabalho. O consumo de peixe água salgada, segundo esse discurso e essas práticas, virou uma exceção para aqueles que podiam pagar o preço de uma pescada a beira da praia. Por qualquer restaurante que se passe na orla de São Luis o preço de uma pescada chega as altura, mais de 100 reais. Em São Jose de Ribamar, município da região metropolitana de São Luis, quem quiser comer uma pescada paga bem mais barato, 70 reais.

conversa entre professores

Luís Felipe de Alencastro, historiador e autor do livro "Trato dos Viventes" e personagem dessa história. Professor da UFMA recebe uma ligação em seu telefone fixo. Do outro lado da linha, falava Paulo Arantes, filósofo. Conversa vai, conversa vem, Paulo Arantes pergunta ao professor se ele lera Trato dos Viventes. Pergunta esta que o professor respondeu que não e nem que tinha interesse. Esse diálogo aconteceu no começo dos anos dois mil. O professor da UFMA em questão não morria de amores por esse tipo de produção intelectual. A tentativa de explicar o Brasil e sua formação por meio de grandes narrativas. Ele desconfiava de teses como a de Alencastro que tentavam dar uma resposta definitiva ao problema Brasil. Desconfiava também de qualquer música que não fosse experimental. O mangue beat não lhe dizia nada porque remetia a uma modernidade que nunca se completava no Brasil. O máximo de concessão que fazia era escutar Nação Zumbi cujos discos dialogavam com o tropicalismo rock dos anos 80 e manifestações folclóricas do nordeste brasileiro. Ele dizia ao fim e aí cabo que vivíamos o simulacro da coisa e do real, citando Baudrillard, pensador francês.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

As memorias inquietas

Um amigo, proprietário de um sebo, prometera explicar o porque do nome rua do sol. Desenvolvera um desapreço por aquele nome porque no final das contas não dizia muita coisa e ele detestava o sol. Dar o nome de sol a uma rua só porque nela os raios solares batem e refletem com mais força, por favor, é de uma falta de criatividade tremenda. Com certeza, haveria outros nomes a serem dados por razões historicas e sociais. O assunto principal deste se deteve à rua do Sol numa tarde de quinta feira. Nada incomum se esquivar de carros e pedestres ao andar pelo asfalto e pelas calçadas anuladas de tantas rachaduras e tantas vãos. Ou você escolhe o asfalto ou você escolhe o cimento. Ele pressentia que a rua do Sol definhava pelo súbito esvaziamento que ela vivia há algum tempo. A tarde começava e poucos vivente s transitavam pela rua como se todos estivessem em suas casas tirando um cochilo após o almoço. Os poucos a se postarem a beira da calçada carregavam a fisionomia e o falar dos guardadores de carro e dos vendedores de bombons. Podia-se ter certeza que naquelas casas poucas pessoas ainda moravam. A maioria dos casarões se transformara em lanchonetes, restaurantes, óticas, livrarias e sebos. A sua memoria literária desembarcava na rua do sol a partir dos anos noventa. A livraria Espaço Aberto, do compositor Joaias Sobrinho, quebrava um pouco a monotonia secularda rua. Antes de prosseguir no sentido da praça João Lisboa, parava por alguns breves minutos na livraria. Nada de comprar livros, se bem que nada naquela junção de conhecimento significava muita coisa. Será que se lembrava com exatidão qual era a casa da Espaço aberto? As andanças constantes pela rua do Sol consolidavam as particularidades daquele terreno em sua mente. Se ele queria particularidades, outros desejavam generalidades. O filho do proprietário de uma lanchonete perguntou se era maranhense. Respondeu que sim. Pela sua cara de branco podia se pensar um europeu recém chegado. O rapaz se adiantou. Os homens que ele atendera conversavam a respeito do casarão quase em frente que pertencera a família de Aluisio Asevedo. Os dois senhores alugram a casa e preparavam a elaboração de um documento histórico. “E o bar que funcionava na casa, cade?”, quis saber. “Fechou”, respondeu. O rapaz do casarão dos Asevedo passou para o casarão ao lado que pertencera aos Duailibe. “Antigamente a cidade de São Luis se resumia a essas ruas, a Madre Deus, o Reviver, a região Baixo meretricio, o Monte Castelo e o João Paulo. Eu morava na rua dos Afogados e na casa em frente morava o politico Henrique de laroque. Essas ruas tem nome de politico ou poeta”.

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Toca o tambor na Chapada

A destruição provocada pelo agronegócio não se limita ao meio ambiente. A sua destruição pela memoria coletiva. Ele necessita alterar a memoria em seu amago para que as pessoas não resistam aos seus discursos. O discurso Agro é pop Agro é tudo tenta subjugar todas as formas de produção agrícola e ambiental. Como é possível que uma expressão tenha tamanha pretensão. Os publicitários são pretensiosos e seu projeto é dominar o mundo através de poucas palavras. Uma hora quem sabe aparecerá o Agro é bumba meu boi, tambor de crioula, tambor de mina e etc. Esse dia talvez demore a chegar tendo em vista a reação que um grileiro teve ao ver a comunidade quilombola Buriti dos Boi tocar tambor na Chapada. Várias vezes o grileiro passou de caminhonete tentando entender a muvuca de gente que se aglomerava em volta dos bacurizeiros para celebrar o dia de Santa Bárbara. A escolha do dia de Santa Barbara, dia 04 de dezembro, para a realização da atividade em que se denunciaria a grilagem de terras nas Chapadas do município de Chapadinha foi uma feliz coincidência. O Chico da Cohab estimulou a comunidade do Buriti dos Boi a fabricar os tambores que ecoariam pela Chapada durante o encontro. O resultado da fabricação não saiu conforme o previsto porque um dos tambores queimou. Esqueceram de desligar a fogueira. Brincadeira. Um tambor precisa passar um tempo ao fogo para o couro ficar no ponto para o tocador enfiar as mãos. Sobrou um tambor que deu pro gasto. Um dos gastos era justamente assustar o grileiro que pretende se apossar de e desmatar mais de quatrocentos hectares de Chapada rica em bacuri. O outro gasto foi que Chico da Cohab despontou como poeta popular “eu tava lá no alto da floresta quando o tambor me chamou/toca o tambor/toca o tambor/ que os extrativistas do bacuri já chegou”.