sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

As memorias inquietas

Um amigo, proprietário de um sebo, prometera explicar o porque do nome rua do sol. Desenvolvera um desapreço por aquele nome porque no final das contas não dizia muita coisa e ele detestava o sol. Dar o nome de sol a uma rua só porque nela os raios solares batem e refletem com mais força, por favor, é de uma falta de criatividade tremenda. Com certeza, haveria outros nomes a serem dados por razões historicas e sociais. O assunto principal deste se deteve à rua do Sol numa tarde de quinta feira. Nada incomum se esquivar de carros e pedestres ao andar pelo asfalto e pelas calçadas anuladas de tantas rachaduras e tantas vãos. Ou você escolhe o asfalto ou você escolhe o cimento. Ele pressentia que a rua do Sol definhava pelo súbito esvaziamento que ela vivia há algum tempo. A tarde começava e poucos vivente s transitavam pela rua como se todos estivessem em suas casas tirando um cochilo após o almoço. Os poucos a se postarem a beira da calçada carregavam a fisionomia e o falar dos guardadores de carro e dos vendedores de bombons. Podia-se ter certeza que naquelas casas poucas pessoas ainda moravam. A maioria dos casarões se transformara em lanchonetes, restaurantes, óticas, livrarias e sebos. A sua memoria literária desembarcava na rua do sol a partir dos anos noventa. A livraria Espaço Aberto, do compositor Joaias Sobrinho, quebrava um pouco a monotonia secularda rua. Antes de prosseguir no sentido da praça João Lisboa, parava por alguns breves minutos na livraria. Nada de comprar livros, se bem que nada naquela junção de conhecimento significava muita coisa. Será que se lembrava com exatidão qual era a casa da Espaço aberto? As andanças constantes pela rua do Sol consolidavam as particularidades daquele terreno em sua mente. Se ele queria particularidades, outros desejavam generalidades. O filho do proprietário de uma lanchonete perguntou se era maranhense. Respondeu que sim. Pela sua cara de branco podia se pensar um europeu recém chegado. O rapaz se adiantou. Os homens que ele atendera conversavam a respeito do casarão quase em frente que pertencera a família de Aluisio Asevedo. Os dois senhores alugram a casa e preparavam a elaboração de um documento histórico. “E o bar que funcionava na casa, cade?”, quis saber. “Fechou”, respondeu. O rapaz do casarão dos Asevedo passou para o casarão ao lado que pertencera aos Duailibe. “Antigamente a cidade de São Luis se resumia a essas ruas, a Madre Deus, o Reviver, a região Baixo meretricio, o Monte Castelo e o João Paulo. Eu morava na rua dos Afogados e na casa em frente morava o politico Henrique de laroque. Essas ruas tem nome de politico ou poeta”.

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