quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Beber o morto

De preferência, e melhor contar ou criar uma história? Desde sempre o homem Narra histórias com as quais possa lidar com o mundo que o cerca e possa lidar com o grupo social onde se inseriu. Em determinado momento, o homem compreendeu que somente a narrativa não e suficiente. Aí entra o papel da criação ou onde entra o papel do homem na criação. Afinal o homem e um mero narrador da criação de Deus ou seu papel e bem maior? Essa é uma questão que irá perpassar toda a existência humana. A narrativa é essencial porque sem ela não haveria origem percurso e chegada. Só que uma hora a narrativa cansa. E sempre a mesma história contada do mesmo jeito. O processo da criação vem justamente no sentido de superar velhas formas de narrar. Superar, matar, enterrar o morto e beber o morto como se faz em velórios. Chega uma hora que a forma de narrar deu o que tinha que dar. Qual será o corajoso que escancara isso? Dom Quixote escrito por Cervantes entre o século XVI e o século XVII escancarou. As velhas formas morreram ou estavam prestes a morrer. Elas se referiam aos romances de cavalaria e a maneiras de comportar de agir e de ver idealisticamente. Dom Quixote quer brincar com o gênero do romance das cavalarias uma forma de homenagem que pode ser transporto para beber o morto que e uma homenagem profana a alguém que acabou de partir. A literatura compreende milhares de mortos e milhares de homenagens a eles. Em um recente texto dedicado a Sérgio Buarque de Holanda, uma amiga brincou "Vais levar um cofo de bacuris para Sérgio Buarque?". O tom de deboche se explicitava mas era um deboche respeitoso. Não se entregou o cofo de bacuris e nem tinha como se entregar. No próximo suco de bacuri, mencionar se a o nome de Sérgio Buarque e suas obras e quem fez o deboche.

domingo, 14 de janeiro de 2024

conversa de caranguejo

A chuva veio pela madrugada aos poucos e aos muitos. De manhã, ela se insurgiu. Chovia para lembrar. Lembrar que São Luís era Amazônia e litoral. O manguezal a beira do rio anil se recuperava. Quem passava pela ponte que ligava o Ivar Saldanha ao Maranhão Novo e o IPASE se prestasse atenção percebia a projeção dos Manguezais cada vez maiores se insinuando sobre a ponte. A insinuação obedece um ritmo e esse ritmo e dos caranguejos sururus e outras espécies da lama dos Manguezais. O junior e pedreiro mas também cata caranguejos nos lamaçais. No bar da baixinha, palestrou saboreando uma cachaça. "Quem vê uma chuva dessas pensa logo em catar caranguejo. Equívoco. Os caranguejos só saem na primeira lavada da maré. Nessa lavada eles se ouricam. Vai agora e vê se tem algum caranguejo. Enfia o braço na toca. Traz nada. Vai ter muito caranguejo em fevereiro. Teve um dia que eu tinha certeza da presença deles. Convidei uns caras. Ninguém quis ir. Fui só. Minha irmã brigou comigo. Voltei com um saco cheio de caranguejos" Um dos ouvintes brincou "Era só abrir o saco e chamar". A conversa se encerrou com uma torta de caranguejo.

celebrar

Celebra se uma divisão entre sofisticação e artesanato no Brasil e no Maranhão e isso inclui produção e consumo de frutas. Segue se a lógica que provar determinadas frutas é para poucos mortais. Quebrando a casca do bacuri e sorvendo sua polpa você será premiado com a imortalidade? O consumo de frutas por parte da população maranhense e ludovicense e mínimo e geralmente esse consumo limita se a frutas exóticas. As frutas atraem pelo formato pela cor pelo cheiro e pela disponibilidade. Tem que se estraga a beira da estrada e o que se vê muito por aí. A beira da estrada continua sendo o melhor lugar para se apreciar a variedade de frutas e o tamanho do desperdício. E o desperdício no fundo e menosprezo por qualquer cultura e por sua história. Numa situação limite, o ser humano tende a se lembrar da mangueira da jaqueira e de outras histórias que marcaram a sua história e a da sua comunidade. Deixa a situação limite passar para ver o que acontece. A situação limite se encerra e junto se encerram as lembranças. Para muitos, lembrar virou um ato sofisticado. Requer tempo e ninguém tem mais tempo. Esquece se para abrir espaço porque o homem precisa de espaço para novas lembranças. As velhas lembranças não servem mais. Elas impedem a vivência de novas experiências. Lembrar coisas vencidas e um ato sofisticado porque para lembrar sao necessários repertórios que poucos têm. A pressão do agronegócio para que comunidades ou famílias vendam seus territórios ou se retirem deles por qualquer oferta se acentuou nos últimos anos. Várias lideranças são pressionadas não só pelo agronegócio como também por parentes ou por vizinhos. Aceitar a proposta do agronegócio equivale a esquecerem tudo que passaram e tudo que lutaram, como frisou uma liderança de urbano Santos. O Vicente de Paulo e sua família, moradores do povoado Carrancas, resistem com afinco as propostas do plantador de soja André Introvini. Eles resistem graças as lembranças que mantém de quando chegaram aquela Chapada nos anos 80. Os bacurizeiros que hoje carregam devem ter mais de vinte anos e quanto mais o tempo avança mais o número de bacurizeiros aumenta mais produz frutos e mais se consome suco do bacuri.

sábado, 6 de janeiro de 2024

leste maranhense

Eles vindos de São Raimundo das Mangabeiras, Pastos Bons e São Domingos do Azeitão pernoitavam em Presidente Dutra e na espera pelo jantar ao anoitecer viam caminhões repletos de eucaliptos. De onde esses caminhões saíram e para onde se dirigiam? Certo que a sua carga atenderia a fábrica da Suzano em Imperatriz. Em que municípios ela plantara esses eucaliptos? A suspeita recaia em cima de Matões e Parnarama, bacia do rio Parnaíba. Investigava as atividades da Suzano em todo Maranhão e os conflitos da empresa com as comunidades quilombolas e tradicionais desses municípios foram divulgados pela internet. Vez ou outra dava vontade de ir ver os conflitos com os próprios olhos e sondava como chegar aos municípios. Tinha que descer em Caxias e de lá seguia em transporte alternativo. Outra comunidade próxima a Caxias que se informara na internet foi Jacarezinho, município de São João do soter. A informação revelava uma investigação do MPF com relação a tentativa de grilagem por parte da Suzano em cima da área da comunidade. Para quem não se recorda a Suzano planejava plantar milhares de eucaliptos em diversos municípios do centro leste que alimentariam a sua fábrica de celulose no Piauí. A empresa alardeava a compra de extensões de terra mas ao final das contas e das compras o que se viu mesmo foi grilagem terras que possibilitaram a investida dos plantadores de soja depois da desistência da Suzano em levar em frente deu projeto. Boa parte da pressão que os plantadores de soja exercem sobre territórios tradicionais no Maranhão acontecem em áreas que a Suzano ou afirmava que era dona ou arrendara. As áreas da comunidade quilombola de Tanque da Rodagem em Matões e Jacarezinho em São João do Soter exemplificam essa pressão que se vale da irresponsabilidade do estado em não cumprir o seu papel constitucional de regularizar os territórios tradicionais e quilombolas. Cabe a sociedade civil organizada cobrar do estado a responsabilidade pela inação. Quando os plantadores de soja ameaçaram tanque da rodagem de despejo a sociedade civil junto com os movimentos sociais e os moradores de tanque impediram que o despejo fosse consumado. Os plantadores de soja nunca encararam de frente o seu Edvaldo liderança de Jacarezinho, município de São João do Soter. Havia da sua parte liderança e responsabilidade até quando recebia alguém de fora mesmo um grileiro. O Fórum Carajás em sua primeira visita recebeu o convite para almoçar. A esposa do seu Edvaldo serviu carne assada para eles e o dono da casa comeu peixe das águas doces do quilombo. Carne assada parecia o melhor tratamento para as visitas mas Seu Edvaldo ao devorar os peixes com gosto dava uma inveja saudável.

bacuri e as ferias

Bacuri e as férias Só havia quatro casas na rua com árvores plantadas na calçada. A deles era a mais frondosa. Bacupari, uma árvore que dá uma frutinha amarela. Os pais dele se enfiavam por debaixo das folhas e colhiam os frutos maduros. As árvores dos vizinhos não davam sombra e nem frutos portanto aquele velho hábito infantil da pessoa entrar no terreno alheio e apanhar frutas cabia somente ao bacupari plantado por seu pai. Este costumava brincar que a vizinha vivia debaixo do bacupari apanhando os frutos sem sua permissão. Essa história meio de porta de rua e meio de calçada , ele associou ao bacuri e as suas férias. Tomou conhecimento do fruto bacuri numa idade adulta ao tomar um suco delicioso na cidade de Santa Quitéria. Para quem não sabe a cidade de Santa Quitéria também e conhecida por bacuri devido a enorme quantidade de bacurizeiros nas chapadas. Vários dos gostos que as pessoas adotam ao longo da vida nascem na infância. Como ele passava férias no interior em julho e julho e mês em que a safra de frutas acaba não poderia conhecer bacuri. Com os desmatamentos nas chapadas para os plantios de soja e com os desmatamentos na zona urbana para construção de edifícios e condomínios as pessoas perdem a possibilidade de "saquear" os terrenos alheios e experimentar as frutas sazonais em natura.

cruz do nego

Cruz do Nego Seria injusto ao capitalismo afirmar que um dos cernes da sua atuação consiste em destruir os vestígios da história ? Cruz do Nego e um pequeno cemitério onde foram enterrados os restos mortais de um escravo que carregava o correio das fazendas na região de Parnarama e Matoes para entregar no município de Pastos Bons. Cansado pela longa distância, ele parou para descansar. Infelizmente, uma onça o matou. Várias pessoas todos os dias de finados vão a Cruz do Nego fazer promessas. Um plantador de soja pretende expulsar as comunidades quilombolas de tanque da rodagem e são João onde o cemitério se encontra. Ele ordenou o desmatamento em uma área próxima a Cruz do Nego. O desmatamento ocorre dentro do território quilombola de tanque da rodagem e são João e ameaça um território sagrado e ameaça parte da história da escravidão e das comunicações no Maranhão.

a banhista

Você olha e vê aquelas terras do cerrado maranhense totalmente nuas de vegetação. Seria possível não só contemplar o desastre causado pela monocultura da soja mas também seria possível pintar aquelas paisagens e tirar dela uma obra prima que de algum sentido aquilo tudo? Pintar nudez sempre fez parte da tradição. Ingres, pintor francês do começo do século XIX não pintava o nu frontal como se vê no quadro "a banhista de valpincon". Manet, por outro lado, pintou "Olympia" quase um nu frontal porque a personagem central do quadro cobre com uma das mãos o seu sexo. Manet podia ter pintado uma obra prima como fizeram Velásquez Rembrandt Caravaggio e tantos outros.tinha tudo nas mãos mas não quis. As maos de Manet são as mãos de Olympia e as mãos da empregada negra que leva um buquê de flores de algum admirador. O que era clássico reverência em Velásquez uma das inspirações de Manet virou em Olympia provocação afronta. Tarsila do Amaral a maior pintora brasileira de todos os tempos não tinha como pintar uma obra prima. Faltava a ela perspectiva histórica e faltava a ela diálogo com a história da arte no Brasil. Tudo bem, afinal a provocação vem para suprir determinadas lacunas. Abaporu pintura de Tarsila e provocação, mas provocação com que intuito? A pintura clássica do Brasil no século XIX e monumental e de grandes feitos heróicos.Abaporu e estático pura pasmaceira inerte. O corpo totalmente desproporcional, grande nos pés e pequeno na cabeça da a entender que o Brasil era desproporção. O Brasil do café que queria ser moderno mas com o golpe de 30 escolheu ser o avesso. Então olhando e vendo as paisagens do cerrado maranhense completamente nuas e possível criar algo humano e original desse cenário desolador?

toda descoberta

Toda descoberta e um pouco acidental sem que isso queira dizer que o acidente se sobrepõe há toda uma pesquisa feita e há todo um percurso executado por essa pesquisa. E toda descoberta exige para existir um vocabulário despretensioso manso e amoroso. "Querem beber suco de buriti?", perguntou Eliane presidente do STTR de paulino neves as visitas. Como assim suco de buriti?!!! "Claro que queremos", respondeu por todos. Encerrara se a conversa que os entretinha a respeito de energia eólica petróleo e plantios de soja nos limites próximos a Paulino neves nos municípios de Santa Quitéria Santana e Barreirinhas. Hora de pegar estrada e aí Eliane solta a pergunta como quem não quer nada, mas quer continuar a conversa por outros caminhos sem perder o traçado anterior.Quem guarda polpa de Buriti para beber o ou oferecer o suco no futuro não pode ser qualquer pessoa.os caminhos que Eliane percorria para Chegar a Paulino neves passavam pela água mais de uma hora de barco da sua comunidade até a cidade e Buriti e pura água. Quando ela oferece suco de buriti oferece também água e a cultura da sua comunidade. Os buritizeiros são os senhores do Cerrado. Lutava para lembrar como começará a gostar de buriti. Toma se buriti com farinha seca e açúcar acompanhado de peixe e carne. E um alimento de origem indígena e não poderia ser diferente. Existem buritizeiros com mais de 500 anos de existência claro se escaparam do fogo do desmatamento dos agrotóxicos e etc. E com certeza antes desses existiram outros. Portanto a existência dos buritizeiros percorre boa parte da história do cerrado. E as populações que andam nos Cerrados desde muito tempo são as populações indígenas bem antes do gado da soja do eucalipto do gás e etc.

o maior poema

O maior poema da literatura maranhense não foi escrito em solo maranhense. Por razões políticas, ele foi escrito bem distante. Houve diversos casos em que os escritores nascidos no Maranhão para ficarem famosos conhecidos ou pelo menos ganharem dinheiro com a profissão se mudavam para outros estados. O grande poema da literatura maranhense foi escrito em outro país numa situação da qual muitos maranhenses pouco ouviram falar ou leram algo a respeito. O grande poema maranhense e sobre a cidade de São Luís, a capital do estado. O fato dela ser a capital pouco interessa ao poeta. O que muito lhe interessa e a cidade que ele carrega na memória. A cidade só vive na memória e nos textos escritos. Pouco interessa ao escritor o que a vem a ser o fora da cidade. E uma cidade imatura desconfiada. Quase nada que discorra sobre quem vive a margem dela ou quem vive em lugares que só os navegantes se aventurariam. Quase não há no poema contato com o mar ou aqueles que vivem do contato com o mar. Quem foram esses ? Os indígenas e seus descendentes seriam uma boa resposta. Navegar pela baía de São Marcos subindo as águas oceânicas e as águas do rio Mearim no século XVII em seus volumes caudalosos deveria requerer inúmeros conhecimentos e inúmeras práticas. E só os indígenas tinham esse conhecimento.

bar da baixinha

Não tinha outra. O bar da baixinha servia de albergue para uma variedade de indivíduos que trafegavam pela confluência do monte castelo fe em Deus Alemanha e apeadouro. E quem parava na Baixinha para tomar umas e outras escutava reggae. Gostando ou não gostando do gênero musical, o cliente aceitava na boa para não criar atrito. A grande maioria da clientela da baixinha botava fé em escutar reggae. Do monte castelo pra baixo em direção ao rio anil o reggae mandava no pedaço. Os outros ritmos seguiam numa escala mais abaixo em predileção. Para escutar esses ritmos tinha que se valer do Direito de único cliente a beber no bar e poder pedir a música que quisesse. Acontecia em algum momento dos "donos do bar" não se fazerem presente. em um desses momentos pediu ao filho da Baixinha que colocasse uma música. Ele lhe passou o celular. Na hora de escolher a música, deparou se com Gorillaz. "Quem escuta Gorillaz por aqui?""Deve ser meu namorado". Tá bom, além de reggae brega rock pop MPB, periferia também escuta Gorillaz que mistura quase tudo isso e muito mais.

grandes conflitos

Nos intervalos dos graves conflitos sócio ambientais localizados no município de santa Quitéria, em que as comunidades do pólo coceira resistiam as tentativas de desmatamentos por parte da Suzano papel e celulose e de plantadores de soja, havia oportunidade para o desenrolar de bons diálogos de onde surgiam ideias para por fim aos conflitos e quem sabe ensejar a regularização fundiária dos territorios tradicionais como requeriam as comunidades as ONGs e os pesquisadores. A casa do seu Veríssimo, no povoado Coceira, costumava receber e aconchegar reuniões de e almoços para um monte de gente que podia ser de lá mesmo da comunidade ou podia ser de outros povoados e de outras cidades que vinham para discutir entre si e/ou com órgãos fundiários do governo do Maranhão a situação em que viviam. A família do seu Veríssimo possuía pequenas propriedades ou pequenas posses nos baixoes e nas chapadas onde plantavam soltavam seus animais onde colhiam bacuri e pequi e onde cortavam suas madeiras para construírem suas casas, suas cercas e suas casas de farinha. A condição material de Seu Veríssimo diferia um pouco da de outros moradores. A professora Maristela do curso de ciências sociais da UFMA ao escutar essa análise advogou a tese da aliança dos pequenos proprietários e dos posseiros como forma de derrotar a Suzano e os plantadores de soja. Incluiria nessa tese um outro ator: os pequenos comerciantes tanto os fixos como os motorizados. Um não vive sem o outro. Essa aliança favoreceu a derrota da Suzano e dos plantadores de soja e a regularização fundiária das chapadas de Santa Quitéria. Havia clara a percepção que se a Suzano desmatasse as chapadas e plantasse eucalipto diminuiria a produção da agricultura familiar e em consequência reduziria a circulação de recursos no comércio local. Foi uma aliança informal se bem que agricultura familiar proprietários e comerciantes se faziam presentes nas associações que são espaços formais de representação. A luta das comunidades contra a Suzano e contra os plantadores de soja soube combinar formalidade e informalidade produção de alimentos e preservação do meio ambiente.

abordar uma situação

Antes de abordar uma situação, deve se antes de tudo saber o que se quer com relação a essa situação. Do que se trata e a quem se referir tanto num lado do campo como no lado oposto. Os impactos causados pela extração de gás na bacia do rio Mearim beiram os treze anos. Chegar a uma determinada idade leva a pessoa ou a instituição a uma análise. No caso da Eneva empresa responsável pela extração de gas esses anos levaram a um discurso de auto suficiência e pouco auto crítico. Esperar o que? Quando se está por cima da carne seca quanto menos crítica melhor. Seria muito ingénuo supor que a Eneva Discutiria em voz alta ou veicularia em rede nacional os impactos que a sua atividade económica trouxe para diversas comunidades quilombolas e tradicionais. O que ela faz em voz alta pelos municípios inseridos na área de influência direta do empreendimento e uma atividade de educação ambiental aqui e acolá. E com relação a TV e divulgar os seus feitos heróicos empresariais de extrair gás e transforma ló em energia e distribui ló no sistema. A empresa possui dinheiro para investir em marketing mas e o dinheiro para investir nas pessoas das comunidades, cadê? Dar uma boa conferida nas comunidades afetadas pela Eneva e devagarinho vem a sensação do silêncio e da desconfiança. As comunidades desconfiam de todos afinal desde sempre eles esperam algo vindo governo da universidade e de outros setores e nada vem. A prefeitura de Lima Campos ganha quanto de royalties da Eneva e quanto ela gasta na cidade? Na semana do aniversário de São Luís a Eneva patrocinou um evento de música no Arthur Azevedo organizado pelo governo do estado do Maranhão. Um evento bem seletivo para poucos. Na praça João Lisboa um taxista respondeu que ele não podia aceitar uma corrida porque estava a disposição de uma das pessoas presente ao evento o que deve ter custado um bom dinheiro. Esse patrocínio causou impacto na vida das comunidades em Lima Campos Santo António dos Lopes Capinzal Pedreiras ? Valeu a pena para esses municípios trocarem a biodiversidade a água de qualidade saúde física mental espiritual os laços familiares a agricultura familiar e o extrativismo pelos royalties do gás ?

Voltar a cena do crime: a arte de revisar o texto

O que se escreve num momento deixa de existir no momento seguinte em razão da correção dos erros na escrita e nas ideias. Corrigir deve ser uma das tarefas mais difíceis que o digam os professores que corrigem provas. O escritor a sua maneira corrige o que escreve. A frase não nasce pura, ela nasce corrigida. O grande ensinamento do jornalismo para a literatura foi a correção/revisão. O jornalista está constantemente a revisar o que escreve. A revisão é parte indispensável da tarefa diária do jornalismo. Só que o jornalismo revisa a forma, não revisa o conteúdo e nem as suas práticas. O grande revisor dos conteúdos e das práticas do jornalismo foi a literatura. As obras de Balzac George Orwell Dostoiévski Machado de Assis João do Rio são grandes revisoras do conteúdo e da prática jornalística. Dostoiévski escreveu Crime e Castigo a história do assassinato de duas velhas agiotas baseado em notícias de jornais. A incapacidade do jornalismo de voltar a cena do crime e publica e notória. O leitor de Crime e Castigo volta invariavelmente a cena do crime em sua memória.

alcantara

A cena que originou Lord Jim livro do escritor polones/inglês Joseph Conrad o impressionou de tal que ele acha que cada pedaço do seu bairro é um porto onde desembarcam e por onde trafegam figuras insondáveis das quais seria melhor manter distância. Um negro subiu os degraus do porto/bar da Baixinha e proferiu dezenas de frases desconexas que se vingaria de um dos clientes. O negro escutou uma conversa e pensou que se tratava dele. O problema da comunicação entre os segmentos sociais e suas consequências sociais e psicológicas dão uma dimensão parcial do quanto as comunidades quilombolas e tradicionais viveram e vivem no isolamento. As comunidades quilombolas da ilha de Cajual município de Alcântara que assinaram documento aceitando a construção de um porto na ilha entenderem do que se tratava?

polpa de bacuri

Vicente de Paulo divisava uma chuva distante quilómetros de sua casa. O serviço meteorológico previu muita chuva para todo o litoral norte maranhense. Pelo ritmo que andava a chuva no final de 2023, vai chuviscar. Admirara-se da capacidade de Vicente enxergar longe só com um olho. As nuvens se deslocavam rápido, umas vindo de Anapurus e outras vindo das bandas de Brejo. Quanto tempo tinham antes da chuva cair? Precisavam de tempo para se deslocarem a comunidade da Bacaba pegar uma polpa de bacuri. Enfim, percorreram a chapada e viam o número de bacurizeiros aumentar em certas partes em contraposição a outras partes completamente alijadas de bacurizeiros e de outras espécies. A chuva se alastrou rápido. Comecou fraquinha e passou a torrencial. Na casa de Marcelo, encontraram no metido na rede. A polpa de bacuri estava guardada na casa do vovô na pindoba, ele disse. Não, eles não desistiriam da polpa. Foram atrás. Corriam o risco da chuva ter enchido os caminhos. Em vez de enchente, os caminhos permaneciam secos. Uma parte da chapada chovera muito em outra chovera fino. O vovô sairá e quem ficara responsável fora os familiares. O seu sogro antes de morar na pindoba um baixo morara na chapada cercado de bacurizeiros. O André introvini como de tantas outras vezes pressionara o para abrir mão da sua posse em troca de uma área no baixo. Ele aceitou. A polpa que vovo e família vendiam provinha de um único pé de bacuri em frente a casa deles. Como seria se ainda morassem na Chapada com inúmeros bacurizeiros ao redor?

conversa de zapp

Qualquer informação é sempre bem vinda ainda mais se é de alguma serventia. Numa conversa de zapp, a pessoa solta mais do que deveria: "Participei de uma reunião desse povo e eles estavam preocupados". Sem entender de imediato, o interlocutor se pergunta que povo. Aí a ficha caiu. O outro lado da linha do zapp se referia ao pessoal da soja numa certa parte do centro leste maranhense. Celebrada como mais uma fronteira agrícola como outras tantas no Maranhão, pairavam dúvidas sobre a possibilidade ou não de plantar soja nesse recanto do cerrado maranhense que pouca gente se dá conta e nem quer. Para que saber pelo que os outros passam. Nessa safra final de 2023 e começo de 2024 nada fora plantado. E o tempo está passando como dizia o gênio da lâmpada no sítio do picapau amarelo. E a possibilidade de acontecer uma queda da renda na zona rural do Maranhão nos próximos meses aumenta.

energia eolica

A realidade de Paulino neves não é um cartão postal como e o divulgado pelos órgãos oficiais e pelo turismo referente a realidade de Barreirinhas. Não se vende a ideia de um paraíso preservado por Deus, afinal a indústria eólica chegou e apropriou se de várias extensões das praias de Paulino neves. Se Deus existe em Paulino neves esse Deus se chama Omega que construiu um parque eólico sem dar maiores explicações das suas razões. A empresa evita qualquer contato com a população e com sua história. A empresa não mantém um escritório na sede do município como seria de prache. O escritório fica na área do empreendimento. Isso quer dizer muita coisa. Não querem papo e ponto final.

omega

A realidade de Paulino neves não é um cartão postal como e o divulgado pelos órgãos oficiais e pelo turismo referente a realidade de Barreirinhas. Não se vende a ideia de um paraíso preservado por Deus, afinal a indústria eólica chegou e apropriou se de várias extensões das praias de Paulino neves. Se Deus existe em Paulino neves esse Deus se chama Omega que construiu um parque eólico sem dar maiores explicações das suas razões. A empresa evita qualquer contato com a população e com sua história. A empresa não mantém um escritório na sede do município como seria de prache. O escritório fica na área do empreendimento. Isso quer dizer muita coisa. Não querem papo e ponto final.