quarta-feira, 10 de abril de 2024

nao nos despreze

"não nos despreze", esse pedido inédito de Vicente de Paulo o afligiu. Como assim, desprezar ele e a família? Ainda mais naquele momento de perda da sua esposa e das constantes ameaças de perder a terra por conta das pressões exercidas pela família Introvini. "Não nos despreze" fazia sentido no contexto geral em que a família de Vicente de Paulo sempre viveu distante do povoado Carrancas sobre a Chapada e sempre contou com poucos amigos que pudessem chamar em horas dificultosas. "Não nos despreze" quer dizer "não nos esqueça". Por que não esqueceriam ? Por que não desprezaram? Tantos esqueceram e desprezaram. Quem esquece e despreza não quer saber do outro e de seus problemas. Mais fácil passar ao largo. O fórum Carajás tem por objetivo prestar assessoria aos movimentos sociais e comunidades em conflito. Esquecer e desprezar não cabe nesse objetivo.

mais desmatamentos

Quanto mais desmatamentos nas chapadas do Maranhão, menos bacurizeiros a florarem e menos bacurizeiros a darem frutos. E menos imagens como essa que Chico da cohab explicitou em 2007 na Chapada entre Chapadinha e Afonso Cunha: "Aquele bacurizeiro lembra uma juba de leão porque sua vegetação de tão descaída parece uma barba e uma juba". Essa fala se deu no momento em que o agronegócio começava a entrar nesse território. O grupo João Santos tinha um projeto na região mas não foi pra frente e as famílias oligárquicas se enfraqueceram em seus projetos impraticáveis. Essas áreas de Chapadinha e Afonso Cunha postulavam a riqueza do bacuri, riqueza ainda em voga. Por quanto tempo? As comunidades de Vila Borges Vila Chapéu Vila Januário e Buriti dos Boi persistem na coleta do bacuri ano após ano. Eles desceram na chapada de Buriti dos boi para receberem polpa de bacuri e quiabo. Andaram pelo quintal da família do Gilmar, liderança da comunidade. Prezava a pronúncia de Buriti dos Boi mesmo incorreta porque soava estranho numa sociedade que o normal é desmatar e ameaçar comunidades. Tantas e tantas vezes escutara agricultores e sertanejos conversando entre si como numa conversa codificada que só eles entendiam. Não entendia nada mas agradava a sonoridade. Tipo a conversa de um dos moradores de Buriti dos Boi. Ele viu uma cobra sucuruju no meio da estrada. Saia da Vila Borges e dirigia se a Buriti dos boi. Com o sol a pino. Na parte baixa de Buriti dos boi, alardeava se uma sequência de brejos. Muito brejo. Muito peixe que a mulher de Gilmar reclamou por não terem ido provar o peixe preparado no leite de côco. Tudo bem. O problema do caminho da sucuruju era que havia um campo de soja e campo de soja e violentamente seco. Passaram da sucuruju para outras conversas, caroço de bacuri, café com pao e por aí vai. De repente, chuva, chuva e chuva. O morador de Buriti dos boi concluiu que a cobra pressentiu que vinha chuva e que ela podia rastejar na boa pela chapada.

nabokov

Vladimir Nabokov escritor russo auto exilado nos estados unidos considerava Dom Quixote de Miguel Cervantes uma obra com vários defeitos no estilo. Por mais ácida que seja sua crítica, ele também ressalta a grandeza da obra em várias passagens e uma delas e aquela em que Dom Quixote faz um discurso exaltando o quanto havia de bom em décadas passadas e que esse bom ia se perdendo paulatinamente. Em seguida, Nabokov cita uma passagem de Rei lear, uma das obras máximas de Shakespeare, que trata da velhice e da perda da razão. Será que Cervantes em sua homenagem aos romances de cavalaria e Shakespeare em seus dramas teatrais trágicos nao queriam revelar que sim o mundo deles envelhecia e como consequência trazia e traria uma série de agravantes : perda da mobilidade da força física saúde mental do ambiente saudável dos amigos da família das histórias em comum da fartura das festas dos amores e das aventuras? Um mundo envelhecia e morreria e outro surgiria em seu lugar. Cervantes e Shakespeare não podiam prever que mundo surgiria no lugar no dos seus mundos até porque esse mundo está em renovação o tempo todo muito em função das forças liberadas pela burguesia. Vê se que no caso do Maranhão um mundo vem sendo posto abaixo diariamente pelas forças políticas e económicas que detém o poder. E um mundo quase feudal mítico e religioso que não se modernizou no devido tempo e que dá lugar a um mundo capitalista ou pós capitalista capitalizado e individualista sem que as estruturas sócio económicas realmente se alterem. Em recente reunião na comunidade de jucaral município de urbano Santos tratou se da tentativa de empresários da soja de grilagem 2500 hectares pertencentes a comunidade. Para desmatar fazer carvão vegetal e plantar soja com objetivo de exportar. Raimundo presidente da associação de Jucaral fez uma colocação interessante a um dos empresários: " vocês perguntam para que queremos tanta terra sendo que somos 500 pessoas. E vocês que são apenas quatro empresários e já possuem mais de quatro mil hectares e querem mais 2500 hectares. Para que vocês querem tanta terra?".

o suporte

O papel vem a ser o grande suporte da vida humana. Ele aceita tudo. Enverga qualquer peso, principalmente o peso da história. O arroz assim como o papel e um dos pilares da vida humana. O papel recebe a tinta, o arroz recebe o feijão a carne a farinha a farofa o ovo a banana o macarrão. A soja se tornou um suporte menos por sua historicidade e mais pelos investimentos pesados feitos pelo agronegócio pelos governos e pelos cientistas. Da para pensar que a soja veio de propósito para substituir o arroz. O açaí ou a juçara, como os maranhenses preferem falar como forma de se diferenciar do resto do mundo, suportou durante décadas a visão cheio de preconceitos de ser comida de pobre e ter gosto de terra. A verdade é que historicamente os pobres consumiam grandes quantidades durante parte do ano porque não havia outra coisa para comer e com relação ao gosto de terra: fazer o que? As raízes se alicerçam na terra. O açaí ou a juçara e um almoço como costumam dizer e como o arroz gosta de companhia. A farinha seca, a farinha dagua, o peixe, a carne, o camarão, cachaça, tudo comida e bebida que os pobres produziam e guardavam para consumir no ano ou em um dia no caso da cachaça. Tem gente que pergunta como é possível misturar cachaça com açaí ou juçara. Reza a lenda que para o açaí ou juçara não tem problema quando e consumido em primeiro lugar. Ocorrendo o contrário o negócio pega. E impressionante a capacidade do açaí ou juçara aceitar ser suporte de tantas culturas diversificadas de origem natural e industrial. O açaí ou a juçara absorve o leite ninho o leite condensado a granola o amendoim sem perder o gosto. Esse é um processo híbrido em que o açaí ou a juçara atua como espécie dominante. Também e um processo econômico com impactos significativos no social. A demanda cresceu violentamente nos últimos anos puxada pelo mercado interno brasileiro e pelo mercado internacional o que elevou os preços Pode esperar que futuramente o açaí ou a juçara faltem na mesa dos mais pobres.

o centro

De tantas perguntas, aquela jamais lhe ocorrera embora ela se fizesse presente de maneira implícita em vários de seus textos. O que era o centro para ele? Durante muito tempo o centro significou estar num lugar e ser impedido de andar por seus ambientes porque não era pro seu bico. Fique na sua e fique satisfeito com o que tem. Não tinha como ter um discernimento desse fato. Esse discernimento só viria com o tempo. O tempo sempre esteve ao redor. Indescritível em sua mudez. Sentia se ligado a um tempo que não sabia dizer ou muito menos escrever o que era. Nao perturbe o tempo. Ele está de passagem pelo que sobrou do centro. Pelas ruas que se esqueceu os nomes. Pelas praças vazias que os cidadãos vêem de suas janelas. Pelos casais de mãos dadas que entram na igreja para assistirem a missa. O que era o centro, não saberia dizer e tampouco escrever.

o amigo filosofo fotografo

O amigo filosofo fotografo teve dois insights muito bons em todos anos das amizades dos dois. Saiu muito para almoçar no centro de São Luís e em um desses almoços sugeriu ao amigo que escrevesse artigos que pisassem o tema dos pratos típicos. Em todas as cidades do Maranhão, as pessoas cozinhavam um prato típico portanto havia material literário e gastronómico para um livro. A outra ideia foi a de ler vencidos e degenerados de nascimento Moraes o mulato de Aluísio Azevedo e tambores de São Luís de Josué de Montello como a trilogia da escravidão da literatura maranhense. Nenhuma das ideias foi adiante mas vira e mexe elas voltam a tona. Elas se afixaram no fundo da memória dos dois e esperam que um dia resolvam botar as mãos na massa. A ideia dos pratos típicos vem mais a sua feição pois intencionava escrever um livro com um pé na história. E o outro pé estaria na filosofia e no jornalismo. Todos os três campos de conhecimento derivam da linguagem. O ser humano não seria nada sem a linguagem. Bacuri significa fruta que cai. Esse é o nome dado pelos indígenas que circulavam pelas matas muito antes dos franceses e portugueses aportarem no litoral maranhense. Por que eles deram esse nome? Porque a polpa do bacuri tem o seu melhor sabor ao cair. Se for derrubada do pé pela ação humana, a polpa perde sabor e e capaz do bacurizeiro não botar frutos no ano seguinte. O município de santa Quitéria por muitas décadas era conhecido por Bacuri. Quase todas as chapadas se enriqueciam de bacuri. Essa noção de chapadas repletas cobertas infindáveis de bacurizeiros permaneceu por muito tempo no pensamento das pessoas de santa Quitéria mesmo as pessoas se mudando para longe onde era escasso o bacuri. Uma professora lembrou de uma viagem que fez pelas férias em sua infância e que uma das paradas fora nas cabeceiras do rio preguiças ( ou fora nas cabeceiras do rio Buriti?). Os únicos alimentos encontrados nesse povoado atendiam pelos nomes de bacuri e farinha. E que precisava quebrar a casca do fruto para ver, pegar e comer a polpa. Ainda não dava pra fazer suco pois a energia elétrica era uma quimera.

trinta anos

Trinta anos de lançamento dos discos/CD da lama ao caos de Chico Science e Nação zumbi e samba esquema noise do mundo livre, o primeiro pela sony music e o segundo pela banguela records. E possível repetir a experiência social estética e histórica que abriu espaço para uma geração de artistas e intelectuais anos mais com a mesma originalidade e mesma criatividade ? Repetir em um locus diferente? Os títulos dos discos/CDs podem dar inicio a várias respostas para essas perguntas. Normalmente, o comprador dava pouca importância aos títulos dos disco/CDs. Apenas uma fonte de informação para quando chegasse na loja saber o que perguntar. Os títulos dos discos/CDs das bandas pernambucanas querem por a prova o comportamento desse comprador. Da lama ao caos e uma referência irónica ao lema da bandeira brasileira ordem e progresso e samba esquema noise e uma homenagem ao samba esquema novo de Jorge Ben. Chico Science e Nação zumbi fazem referencia a um fato do começo da república e mundo livre faz referência a um disco lançado no começo dos anos 60. Eventos que não se restringiram aos seus determinados momentos históricos e se propagaram pelas décadas seguintes. Ordem e progresso lema positivista vira lama e caos lema do mangue beat. Samba esquema novo de Jorge Ben aposta numa visão inovadora do samba principal gênero musical brasileiro com influências do jazz rock jovem guarda bossa nova. Fred 04 lider do mundo livre não acredita muito numa visão inovadora. O samba dos anos 60 assume outra personalidade nos anos 80 mais pagodeira mais classe média. O esquema assumiu conotações de crime nos anos 80 e noise pode ser a barulheira do rock como pode ser a barulheira dos tiros na favela. Chico Science e Nação zumbi e mundo livre relem a história do Brasil com os olhos voltados para a lama de Recife como também com os olhos voltados para os discursos que dominaram o cenário estético e artístico por décadas.

por que ler os classicos

Por que ler os clássicos, livro do escritor italiano Italo Calvino, foi uma das primeiras grandes leituras que fizera na sua vida de leitor nos anos 90. Italo Calvino pergunta no plural porque há vários clássicos na história da literatura universal. Um leitor brasileiro deve achar um exagero a forma como Calvino se pronúncia porque no máximo leu um clássico a vida toda. Um romance de Machado de Assis como o que quase todos leram no segundo grau. O que dava a entender que um livro clássico era um livro com muitos anos de existência. Sobre livros clássicos acabara de ver "Um homem sem qualidades" do austríaco Robert Musil do começo do século XX. Não diria que e um clássico no sentido deletério que essa palavra assumiu o de ser incontestável. Machado de Assis acabou assumindo esse sentido. O de ser incontestável. Ser clássico significa assumir sentidos imprevistos. Muitas pessoas ficaram em Machado de Assis e lá ficaram falando mal do que e clássico. Leram pouco e o resultado foi que seu vocabulário ficou limitado e um vocabulário limitado tolhe o pensamento. Quem quer viver com seu pensamento tolhido a vida toda? Por que ler os clássicos de Calvino a sua maneira oferecia saídas para a sinuca de bico em que o pensamento intelectual da sua cidade havia se metido. Lia se pouco e quem quisesse ler mais leria o que numa cidade tão pouco afeita a leitura e a produção textual? E numa cidade vista como clássica e histórica. Mas clássica e histórica em que sentido ? Por que ler os clássicos de Calvino respondia a esse questionamento de maneira bem singela e prosaica. Melhor procurar outros sentidos para essa cidade que se diz clássica e histórica mas que e iletrada.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

ukisses

"A maior volta possível e o caminho mais curto para casa"(James Joyce). Eis um paradoxo. Paradoxos só se sustentam no papel. Normalmente o caminho mais curto e uma linha reta. No entanto não está a se falar de uma cidade qualquer. São Luís e uma cidade sinuosa e marcada pelo improviso em suas avenidas e ruas. Linha reta somente em prédios e casas. As vezes surge inesperada uma curva num prédio como e o caso de um vizinho ao estádio de futebol Nhozinho Santos cuja esquina não e um canto e sim um semi círculo. As linhas retas são funcionais mas as curvas são charmosas. O bairro da liberdade é a própria sinuosidade. Uma das ruas tradicionais gira e não encerra seu trajeto pois continua numa outra rua. Os nomes das ruas pressupõe um pensamento meio diversionista. Uma recebeu o nome Luís Guimarães, uma outra de Gregório de Matos e mais pra frente lê se Epitácio pessoa. Denominava se de Japão o bairro mais abaixo. As brincadeiras de crianças vinham carregadas de paradoxos. E como se escreveu paradoxos se sustentam no papel no asfalto ou na calçada. A amarelinha ou cancão ia do número um ao número nove em forma de quadrado e finalizava no céu sob uma forma de abóboda. Linhas retas conviviam muito bem com semi círculos. As ruas e calçadas amanheciam riscadas de giz pelas crianças que brincavam de pega bandeira cola descola cola ajuda e etc. As ruas dificilmente amanhecem riscadas nos dias atuais. Quem vive da pesca sabe que veleja se de acordo com o vento e a maré. Não há linha reta. O pescador obedece um mapa mental e sentimental construído há décadas ou séculos. Aí vem aquela dúvida será que a empresa contratada para fazer os questionários sócio económicos das comunidades impactadas pela possível implantação de um porto na ilha de Cajual município de Alcântara observará essas sinuosidades da pesca e do transporte marítimo ou os pesquisadores acham isso de menos?

duração

Todo e qualquer livro tem sua duração interna. Ulysses livro de James Joyce se passa no dia de um cidadão comum morador de Dublin cidade da Irlanda no começo do século XX. Por que não dizer várias durações? Voltando a Ulysses pode ser que a pessoa inicie a leitura e leve anos para terminar ou jamais termine. Qual seria a duração interna de um livro que tenha o Maranhão como cenário? Ou uma história que seja extremamente devotada a um pescador e seu ramo de atividade ? A duração interna de um romance se tornou uma peça chave do enredo porque ele precisa parecer crível perante o leitor. Um Permissionário do mercado de peixe na região do portinho centro de São Luís respondia questões sobre comércio de pescado que também diziam respeito a duração de uma viagem. O peixe que ele comprava vinha de Cedral diferente de outros comerciantes que compravam de Cururupu ou da Raposa. Todos os dias, Vans provenientes de Cedral, litoral oeste maranhense, traziam pescadas amarelas, pescadinhas e outros peixes para ele em seu box. O comerciante deve ter um lugar cativo nas Vans. A viagem que antigamente durava dias porque viajavam em barcos, dura poucas horas em carros ônibus e Vans vindos da baixada e no litoral. A duração de uma viagem de barco do litoral para sao Luís permitia que as pessoas pudessem contemplar inúmeras paisagens e pensar na vida o que talvez redundasse em histórias e em livros. O capitalismo encurtou distâncias e o transporte de pescado é a prova disso. As Vans saem carregadas de madrugada e bem cedo aportam no mercado de peixe de São Luís. Como essa duração mais curta afeta a mentalidade das pessoas? Como afeta a percepção das pessoas em relação ao ambiente por onde se movem? A viagem se tornou mais curta em termos porque provavelmente os pescadores consomem o mesmo tempo em suas rotinas de trabalho como consumiam antes. O que mudou não foi o tempo da pesca e sim o tempo do comércio que ficou mais rápido e frenético.

faca a coisa certa

Uma coisa é certa. Ou quase certa. A sociedade maranhense se mostra avessa a estudar e compreender as relações sócio económicas que a regem. Em uma mensagem enviada pelo ZAP, um professor, respondendo a um texto que problematizava o comércio do pescado no Maranhão, perguntou " e os caminhões do Mateus que transportam o pescado da baixada para as suas lojas?". O que há de mal nisso, alguém pode indagar. Nenhum mal sob a ótica do mercado, mas diz muito sobre como as riquezas do estado do Maranhão vao de uma região a outra sem que a sociedade receba o mínimo de informação. Outro caso e o de caminhões que transportam cascas de côco babacu da região do baixo Parnaíba para uma cervejaria onde gerarão energia térmica. O quanto os municípios e as comunidades ganham com esse vai e vem de riquezas e uma pergunta que deveria ser feita.

longe demais das capitais

Não pescava, mas provar um peixe ou um marisco ou um crustáceo fazia o abrir mão de qualquer outro prato. Um peixe cozido na panela, frito na frigideira ou assado na grelha. Um peixe embrulhado na bananeira, provou uma vez para nunca mais. Interessava lhe tanto a prova o deguste como as histórias que circundavam a pesca a coleta e o tratamento do peixe do sururu e do caranguejo. Caranguejo era menos afeito. Muito trabalho pra pouco resultado. Nunca escreveria "Timoneiro" música do disco Bebadosamba de Paulinho da Viola gravado em 1996. Suas aptidões literário musicais não chegavam a tanto. Compreendia a letra e o ritmo e essa compreensão fazia o escrever. Trecho da letra : " a rede do meu destino parece a de um pescador/quando retorna vazia vem carregada de dor". E um sambao. Paulinho da Viola pretende sempre a excelência em suas composições. A música e a letra simbolizam a ligação entre a pesca (cotidiano) o mar ( a narrativa) e o artista (interprete/compositor). A rede que retorna vazia vem carregada de dor, canta Paulinho da Viola. O pescador que joga sua rede sobre o mar pretende arrastar centenas de peixes para alimentar sua família e para obter um dinheiro. O artista joga sua rede sobre as narrativas que o antecederam para escrever sua própria narrativa e conseguir notoriedade. Para o pescador uma pescaria frustrante resulta em miséria e fome. Para o artista uma narrativa sem sal resulta numa obra desengonçada. A música timoneiro e o disco Bebadosamba levaram anos para serem gravados. O tempo que Paulinho levou propicia uma excelente analogia entre o tempo do pescador/artista e o tempo do mar/natureza. O tempo de um se atrelava ao tempo do outro. Um tempo veio e apartou os dois tempos anteriores. Eis o tempo da mercadoria.

timoneiro

Não pescava, mas provar um peixe ou um marisco ou um crustáceo fazia o abrir mão de qualquer outro prato. Um peixe cozido na panela, frito na frigideira ou assado na grelha. Um peixe embrulhado na bananeira, provou uma vez para nunca mais. Interessava lhe tanto a prova o deguste como as histórias que circundavam a pesca a coleta e o tratamento do peixe do sururu e do caranguejo. Caranguejo era menos afeito. Muito trabalho pra pouco resultado. Nunca escreveria "Timoneiro" música do disco Bebadosamba de Paulinho da Viola gravado em 1996. Suas aptidões literário musicais não chegavam a tanto. Compreendia a letra e o ritmo e essa compreensão fazia o escrever. Trecho da letra : " a rede do meu destino parece a de um pescador/quando retorna vazia vem carregada de dor". E um sambao. Paulinho da Viola pretende sempre a excelência em suas composições. A música e a letra simbolizam a ligação entre a pesca (cotidiano) o mar ( a narrativa) e o artista (interprete/compositor). A rede que retorna vazia vem carregada de dor, canta Paulinho da Viola. O pescador que joga sua rede sobre o mar pretende arrastar centenas de peixes para alimentar sua família e para obter um dinheiro. O artista joga sua rede sobre as narrativas que o antecederam para escrever sua própria narrativa e conseguir notoriedade. Para o pescador uma pescaria frustrante resulta em miséria e fome. Para o artista uma narrativa sem sal resulta numa obra desengonçada. A música timoneiro e o disco Bebadosamba levaram anos para serem gravados. O tempo que Paulinho levou propicia uma excelente analogia entre o tempo do pescador/artista e o tempo do mar/natureza. O tempo de um se atrelava ao tempo do outro. Um tempo veio e apartou os dois tempos anteriores. Eis o tempo da mercadoria.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

o caminho mais curto

"A maior volta possível e o caminho mais curto para casa"(James Joyce). Eis um paradoxo. Paradoxos só se sustentam no papel. Normalmente o caminho mais curto e uma linha reta. No entanto não está a se falar de uma cidade qualquer. São Luís e uma cidade sinuosa e marcada pelo improviso em suas avenidas e ruas. Linha reta somente em prédios e casas. As vezes surge inesperada uma curva num prédio como e o caso de um vizinho ao estádio de futebol Nhozinho Santos cuja esquina não e um canto e sim um semi círculo. As linhas retas são funcionais mas as curvas são charmosas. O bairro da liberdade é a própria sinuosidade. Uma das ruas tradicionais gira e não encerra seu trajeto pois continua numa outra rua. Os nomes das ruas pressupõe um pensamento meio diversionista. Uma recebeu o nome Luís Guimarães, uma outra de Gregório de Matos e mais pra frente lê se Epitácio pessoa. Denominava se de Japão o bairro mais abaixo. As brincadeiras de crianças vinham carregadas de paradoxos. E como se escreveu paradoxos se sustentam no papel no asfalto ou na calçada. A amarelinha ou cancão ia do número um ao número nove em forma de quadrado e finalizava no céu sob uma forma de abóboda. Linhas retas conviviam muito bem com semi círculos. As ruas e calçadas amanheciam riscadas de giz pelas crianças que brincavam de pega bandeira cola descola cola ajuda e etc. As ruas dificilmente amanhecem riscadas nos dias atuais. Quem vive da pesca sabe que veleja se de acordo com o vento e a maré. Não há linha reta. O pescador obedece um mapa mental e sentimental construído há décadas ou séculos. Aí vem aquela dúvida será que a empresa contratada para fazer os questionários sócio económicos das comunidades impactadas pela possível implantação de um porto na ilha de Cajual município de Alcântara observará essas sinuosidades da pesca e do transporte marítimo ou os pesquisadores acham isso de menos?

expansão da soja

E interessante observar que a expansão da soja no Baixo Parnaíba maranhense e em especialmente o município de urbano Santos foi retardada por décadas em parte pela concentração de terras exercida pela Suzano Papel e Celulose. A saída da Suzano do Baixo Parnaíba que mal ou bem respeitava a legislação ambiental deu cobertura a entrada do agronegócio da soja que nem mal e nem bem respeita legislação ambiental e costumes de comunidades tradicionais e quilombolas. Os plantadores de soja não deixam nada em pé como se vê nas áreas próximas a Comunidade tradicional de Cajazeiras municipio de Urbano Santos. Uma diferença entre a Suzano e os plantadores de soja: grana. A Suzano e uma empresa conhecida mundialmente e como tal tinha que cumprir a legislação ambiental social e de negócios. As denúncias contra ela e foram várias rapidamente eram divulgadas. Afora isso tinha se uma imagem de uma empresa que não queria compartilhar seus lucros com a sociedade local. Com relação aos plantadores de soja e grileiros de ocasião, eles são vários. Uma hora vem um. Outra hora vem outro. Ameacam, coagem, intimidam, provocam. Tudo para conseguir o que querem. E quanto as denúncias, a sociedade fecha os olhos por conta da alta valorização em dólar da soja nos mercados internacionais o que garante superávit primário para o Brasil.

cumulação primitiva no Maranhão

O Maranhão mantém traços característicos de outras épocas em plena atualidade. Um desses traços e o da acumulação primitiva do capital por parte da elite. Saliente se nessa capacidade de acumulação primitiva a incapacidade do estado do Maranhão em promover o desenvolvimento a partir dos seus próprios meios. Depende de iniciativas de fora para quem sabe angariar fundos. A região da baixada maranhense litoral oeste é uma das regiões onde se encontra maior concentração e diversidade de pescado e mariscos do Brasil. Esse fato não é nenhuma novidade, mas quantos milhões foram investidos para dinamizar a pesca no litoral maranhense? Como se encontra a infra estrutura de portos pesqueiros nos municípios? O governo do Maranhão vem com uma história de incentivar a construção de um porto em Alcântara com a finalidade de exportação de produção agrícola e mineral do oeste maranhense. Olha ai a acumulação primitiva. Retira se do solo as riquezas e exporta se ate esgotar em pouco tempo. A acumulação primitiva do capital pela cultura do café gerou a semana de arte moderna de 1922. A acumulação primitiva do agronegócio e da mineração no oeste maranhense vão gerar o que a não ser a destruição das comunidades tradicionais e quilombolas e de seus modos de produção e de convivência social e humana .

a debochada

A amiga resolveu provoca-lo: tu levarias um cofo de bacuri para Sérgio Buarque de Holanda?". A pergunta soou como provocação porque havia lhe prometido trazer bacuris de uma vez que retornasse da zona rural do Maranhão especialmente do baixo Parnaíba região onde mais se concentra a espécie do bacuri a produção e a venda de polpa em todo o estado. Deu aquele alarme : "Responder ou não responder a engraçadinha?". Passados alguns minutos o impulso da retaliação cedeu espaço ao impulso da rememoração. A construção " tu levarias um cofo de bacuri para Sérgio Buarque de Holanda" revigora a língua com formas de escrita pouco lidas no momento atual. Soam como arcaísmos. ela deve ter presenciado por diversas vezes alguém carregando algo em um cofo ou entregando algo no cofo para alguém. Era costume nas casas e comerciais, pedirem como um favor "menino vai ali rapidinho deixar esse cofo faz favor". E para completar ainda tinha o recado no final. Além do arcaísmo há na pergunta/provocação um sentido de beleza. O bacuri e a espécie da flora maranhense mais bonita e mais saborosa. Na entrega de um cofo de bacuri, o entregador leva o que há de melhor no Maranhão.

A decadência do progresso e o progresso da decadência

Quase tudo no Maranhão se exagera. Melhor isso, melhor aquilo. Se melhorar piora. Exageros a parte o melhor se revela um pior piorado. A verdade é que no Maranhão quase tudo fica muito longe em termos de distância e em termos de compreensão. O maranhense nem compreende seu vizinho. Vê como o negócio é sério. Isso tem razões do ponto de vista histórico económico e do acesso ao conhecimento. Sempre prevaleceu e prevalece a ideia de um estado atrasado e decadente. E como tal deve se submeter as soluções e iniciativas comprovadamente "certas" vindas de fora. Em 2007, a área de plantio de soja na Chapada entre os municípios de Chapadinha e Afonso Cunha se limitava a mil hectares plantados no povoado Santa Fé. Em um pouco mais de 15 anos, a área de soja cresceu de tal forma que não demora muito Chapadinha e Buriti vão se interligar. O discurso da decadência fundamenta o avanço da soja em Chapadinha e a sua violência física e institucional. O empresário paulista Gustavo Maretto grilou áreas dos povoados Sangue e Veredao na chapada entre Chapadinha e Afonso Cunha. Grilou na cumplicidade do INCRA Iterma judiciário cartório e políticos. Em áudio gravado, o empresário expressava sua indignação pelos agricultores resistirem ao seu projeto que traria progresso para o município e para as comunidades. "Eles vão pagar por isso", afirmou o empresário. E pagaram já que milhares de bacurizeiros pequizeiros e babacuais foram desmatados.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Beber o morto

De preferência, e melhor contar ou criar uma história? Desde sempre o homem Narra histórias com as quais possa lidar com o mundo que o cerca e possa lidar com o grupo social onde se inseriu. Em determinado momento, o homem compreendeu que somente a narrativa não e suficiente. Aí entra o papel da criação ou onde entra o papel do homem na criação. Afinal o homem e um mero narrador da criação de Deus ou seu papel e bem maior? Essa é uma questão que irá perpassar toda a existência humana. A narrativa é essencial porque sem ela não haveria origem percurso e chegada. Só que uma hora a narrativa cansa. E sempre a mesma história contada do mesmo jeito. O processo da criação vem justamente no sentido de superar velhas formas de narrar. Superar, matar, enterrar o morto e beber o morto como se faz em velórios. Chega uma hora que a forma de narrar deu o que tinha que dar. Qual será o corajoso que escancara isso? Dom Quixote escrito por Cervantes entre o século XVI e o século XVII escancarou. As velhas formas morreram ou estavam prestes a morrer. Elas se referiam aos romances de cavalaria e a maneiras de comportar de agir e de ver idealisticamente. Dom Quixote quer brincar com o gênero do romance das cavalarias uma forma de homenagem que pode ser transporto para beber o morto que e uma homenagem profana a alguém que acabou de partir. A literatura compreende milhares de mortos e milhares de homenagens a eles. Em um recente texto dedicado a Sérgio Buarque de Holanda, uma amiga brincou "Vais levar um cofo de bacuris para Sérgio Buarque?". O tom de deboche se explicitava mas era um deboche respeitoso. Não se entregou o cofo de bacuris e nem tinha como se entregar. No próximo suco de bacuri, mencionar se a o nome de Sérgio Buarque e suas obras e quem fez o deboche.

domingo, 14 de janeiro de 2024

conversa de caranguejo

A chuva veio pela madrugada aos poucos e aos muitos. De manhã, ela se insurgiu. Chovia para lembrar. Lembrar que São Luís era Amazônia e litoral. O manguezal a beira do rio anil se recuperava. Quem passava pela ponte que ligava o Ivar Saldanha ao Maranhão Novo e o IPASE se prestasse atenção percebia a projeção dos Manguezais cada vez maiores se insinuando sobre a ponte. A insinuação obedece um ritmo e esse ritmo e dos caranguejos sururus e outras espécies da lama dos Manguezais. O junior e pedreiro mas também cata caranguejos nos lamaçais. No bar da baixinha, palestrou saboreando uma cachaça. "Quem vê uma chuva dessas pensa logo em catar caranguejo. Equívoco. Os caranguejos só saem na primeira lavada da maré. Nessa lavada eles se ouricam. Vai agora e vê se tem algum caranguejo. Enfia o braço na toca. Traz nada. Vai ter muito caranguejo em fevereiro. Teve um dia que eu tinha certeza da presença deles. Convidei uns caras. Ninguém quis ir. Fui só. Minha irmã brigou comigo. Voltei com um saco cheio de caranguejos" Um dos ouvintes brincou "Era só abrir o saco e chamar". A conversa se encerrou com uma torta de caranguejo.

celebrar

Celebra se uma divisão entre sofisticação e artesanato no Brasil e no Maranhão e isso inclui produção e consumo de frutas. Segue se a lógica que provar determinadas frutas é para poucos mortais. Quebrando a casca do bacuri e sorvendo sua polpa você será premiado com a imortalidade? O consumo de frutas por parte da população maranhense e ludovicense e mínimo e geralmente esse consumo limita se a frutas exóticas. As frutas atraem pelo formato pela cor pelo cheiro e pela disponibilidade. Tem que se estraga a beira da estrada e o que se vê muito por aí. A beira da estrada continua sendo o melhor lugar para se apreciar a variedade de frutas e o tamanho do desperdício. E o desperdício no fundo e menosprezo por qualquer cultura e por sua história. Numa situação limite, o ser humano tende a se lembrar da mangueira da jaqueira e de outras histórias que marcaram a sua história e a da sua comunidade. Deixa a situação limite passar para ver o que acontece. A situação limite se encerra e junto se encerram as lembranças. Para muitos, lembrar virou um ato sofisticado. Requer tempo e ninguém tem mais tempo. Esquece se para abrir espaço porque o homem precisa de espaço para novas lembranças. As velhas lembranças não servem mais. Elas impedem a vivência de novas experiências. Lembrar coisas vencidas e um ato sofisticado porque para lembrar sao necessários repertórios que poucos têm. A pressão do agronegócio para que comunidades ou famílias vendam seus territórios ou se retirem deles por qualquer oferta se acentuou nos últimos anos. Várias lideranças são pressionadas não só pelo agronegócio como também por parentes ou por vizinhos. Aceitar a proposta do agronegócio equivale a esquecerem tudo que passaram e tudo que lutaram, como frisou uma liderança de urbano Santos. O Vicente de Paulo e sua família, moradores do povoado Carrancas, resistem com afinco as propostas do plantador de soja André Introvini. Eles resistem graças as lembranças que mantém de quando chegaram aquela Chapada nos anos 80. Os bacurizeiros que hoje carregam devem ter mais de vinte anos e quanto mais o tempo avança mais o número de bacurizeiros aumenta mais produz frutos e mais se consome suco do bacuri.

sábado, 6 de janeiro de 2024

leste maranhense

Eles vindos de São Raimundo das Mangabeiras, Pastos Bons e São Domingos do Azeitão pernoitavam em Presidente Dutra e na espera pelo jantar ao anoitecer viam caminhões repletos de eucaliptos. De onde esses caminhões saíram e para onde se dirigiam? Certo que a sua carga atenderia a fábrica da Suzano em Imperatriz. Em que municípios ela plantara esses eucaliptos? A suspeita recaia em cima de Matões e Parnarama, bacia do rio Parnaíba. Investigava as atividades da Suzano em todo Maranhão e os conflitos da empresa com as comunidades quilombolas e tradicionais desses municípios foram divulgados pela internet. Vez ou outra dava vontade de ir ver os conflitos com os próprios olhos e sondava como chegar aos municípios. Tinha que descer em Caxias e de lá seguia em transporte alternativo. Outra comunidade próxima a Caxias que se informara na internet foi Jacarezinho, município de São João do soter. A informação revelava uma investigação do MPF com relação a tentativa de grilagem por parte da Suzano em cima da área da comunidade. Para quem não se recorda a Suzano planejava plantar milhares de eucaliptos em diversos municípios do centro leste que alimentariam a sua fábrica de celulose no Piauí. A empresa alardeava a compra de extensões de terra mas ao final das contas e das compras o que se viu mesmo foi grilagem terras que possibilitaram a investida dos plantadores de soja depois da desistência da Suzano em levar em frente deu projeto. Boa parte da pressão que os plantadores de soja exercem sobre territórios tradicionais no Maranhão acontecem em áreas que a Suzano ou afirmava que era dona ou arrendara. As áreas da comunidade quilombola de Tanque da Rodagem em Matões e Jacarezinho em São João do Soter exemplificam essa pressão que se vale da irresponsabilidade do estado em não cumprir o seu papel constitucional de regularizar os territórios tradicionais e quilombolas. Cabe a sociedade civil organizada cobrar do estado a responsabilidade pela inação. Quando os plantadores de soja ameaçaram tanque da rodagem de despejo a sociedade civil junto com os movimentos sociais e os moradores de tanque impediram que o despejo fosse consumado. Os plantadores de soja nunca encararam de frente o seu Edvaldo liderança de Jacarezinho, município de São João do Soter. Havia da sua parte liderança e responsabilidade até quando recebia alguém de fora mesmo um grileiro. O Fórum Carajás em sua primeira visita recebeu o convite para almoçar. A esposa do seu Edvaldo serviu carne assada para eles e o dono da casa comeu peixe das águas doces do quilombo. Carne assada parecia o melhor tratamento para as visitas mas Seu Edvaldo ao devorar os peixes com gosto dava uma inveja saudável.

bacuri e as ferias

Bacuri e as férias Só havia quatro casas na rua com árvores plantadas na calçada. A deles era a mais frondosa. Bacupari, uma árvore que dá uma frutinha amarela. Os pais dele se enfiavam por debaixo das folhas e colhiam os frutos maduros. As árvores dos vizinhos não davam sombra e nem frutos portanto aquele velho hábito infantil da pessoa entrar no terreno alheio e apanhar frutas cabia somente ao bacupari plantado por seu pai. Este costumava brincar que a vizinha vivia debaixo do bacupari apanhando os frutos sem sua permissão. Essa história meio de porta de rua e meio de calçada , ele associou ao bacuri e as suas férias. Tomou conhecimento do fruto bacuri numa idade adulta ao tomar um suco delicioso na cidade de Santa Quitéria. Para quem não sabe a cidade de Santa Quitéria também e conhecida por bacuri devido a enorme quantidade de bacurizeiros nas chapadas. Vários dos gostos que as pessoas adotam ao longo da vida nascem na infância. Como ele passava férias no interior em julho e julho e mês em que a safra de frutas acaba não poderia conhecer bacuri. Com os desmatamentos nas chapadas para os plantios de soja e com os desmatamentos na zona urbana para construção de edifícios e condomínios as pessoas perdem a possibilidade de "saquear" os terrenos alheios e experimentar as frutas sazonais em natura.

cruz do nego

Cruz do Nego Seria injusto ao capitalismo afirmar que um dos cernes da sua atuação consiste em destruir os vestígios da história ? Cruz do Nego e um pequeno cemitério onde foram enterrados os restos mortais de um escravo que carregava o correio das fazendas na região de Parnarama e Matoes para entregar no município de Pastos Bons. Cansado pela longa distância, ele parou para descansar. Infelizmente, uma onça o matou. Várias pessoas todos os dias de finados vão a Cruz do Nego fazer promessas. Um plantador de soja pretende expulsar as comunidades quilombolas de tanque da rodagem e são João onde o cemitério se encontra. Ele ordenou o desmatamento em uma área próxima a Cruz do Nego. O desmatamento ocorre dentro do território quilombola de tanque da rodagem e são João e ameaça um território sagrado e ameaça parte da história da escravidão e das comunicações no Maranhão.

a banhista

Você olha e vê aquelas terras do cerrado maranhense totalmente nuas de vegetação. Seria possível não só contemplar o desastre causado pela monocultura da soja mas também seria possível pintar aquelas paisagens e tirar dela uma obra prima que de algum sentido aquilo tudo? Pintar nudez sempre fez parte da tradição. Ingres, pintor francês do começo do século XIX não pintava o nu frontal como se vê no quadro "a banhista de valpincon". Manet, por outro lado, pintou "Olympia" quase um nu frontal porque a personagem central do quadro cobre com uma das mãos o seu sexo. Manet podia ter pintado uma obra prima como fizeram Velásquez Rembrandt Caravaggio e tantos outros.tinha tudo nas mãos mas não quis. As maos de Manet são as mãos de Olympia e as mãos da empregada negra que leva um buquê de flores de algum admirador. O que era clássico reverência em Velásquez uma das inspirações de Manet virou em Olympia provocação afronta. Tarsila do Amaral a maior pintora brasileira de todos os tempos não tinha como pintar uma obra prima. Faltava a ela perspectiva histórica e faltava a ela diálogo com a história da arte no Brasil. Tudo bem, afinal a provocação vem para suprir determinadas lacunas. Abaporu pintura de Tarsila e provocação, mas provocação com que intuito? A pintura clássica do Brasil no século XIX e monumental e de grandes feitos heróicos.Abaporu e estático pura pasmaceira inerte. O corpo totalmente desproporcional, grande nos pés e pequeno na cabeça da a entender que o Brasil era desproporção. O Brasil do café que queria ser moderno mas com o golpe de 30 escolheu ser o avesso. Então olhando e vendo as paisagens do cerrado maranhense completamente nuas e possível criar algo humano e original desse cenário desolador?

toda descoberta

Toda descoberta e um pouco acidental sem que isso queira dizer que o acidente se sobrepõe há toda uma pesquisa feita e há todo um percurso executado por essa pesquisa. E toda descoberta exige para existir um vocabulário despretensioso manso e amoroso. "Querem beber suco de buriti?", perguntou Eliane presidente do STTR de paulino neves as visitas. Como assim suco de buriti?!!! "Claro que queremos", respondeu por todos. Encerrara se a conversa que os entretinha a respeito de energia eólica petróleo e plantios de soja nos limites próximos a Paulino neves nos municípios de Santa Quitéria Santana e Barreirinhas. Hora de pegar estrada e aí Eliane solta a pergunta como quem não quer nada, mas quer continuar a conversa por outros caminhos sem perder o traçado anterior.Quem guarda polpa de Buriti para beber o ou oferecer o suco no futuro não pode ser qualquer pessoa.os caminhos que Eliane percorria para Chegar a Paulino neves passavam pela água mais de uma hora de barco da sua comunidade até a cidade e Buriti e pura água. Quando ela oferece suco de buriti oferece também água e a cultura da sua comunidade. Os buritizeiros são os senhores do Cerrado. Lutava para lembrar como começará a gostar de buriti. Toma se buriti com farinha seca e açúcar acompanhado de peixe e carne. E um alimento de origem indígena e não poderia ser diferente. Existem buritizeiros com mais de 500 anos de existência claro se escaparam do fogo do desmatamento dos agrotóxicos e etc. E com certeza antes desses existiram outros. Portanto a existência dos buritizeiros percorre boa parte da história do cerrado. E as populações que andam nos Cerrados desde muito tempo são as populações indígenas bem antes do gado da soja do eucalipto do gás e etc.

o maior poema

O maior poema da literatura maranhense não foi escrito em solo maranhense. Por razões políticas, ele foi escrito bem distante. Houve diversos casos em que os escritores nascidos no Maranhão para ficarem famosos conhecidos ou pelo menos ganharem dinheiro com a profissão se mudavam para outros estados. O grande poema da literatura maranhense foi escrito em outro país numa situação da qual muitos maranhenses pouco ouviram falar ou leram algo a respeito. O grande poema maranhense e sobre a cidade de São Luís, a capital do estado. O fato dela ser a capital pouco interessa ao poeta. O que muito lhe interessa e a cidade que ele carrega na memória. A cidade só vive na memória e nos textos escritos. Pouco interessa ao escritor o que a vem a ser o fora da cidade. E uma cidade imatura desconfiada. Quase nada que discorra sobre quem vive a margem dela ou quem vive em lugares que só os navegantes se aventurariam. Quase não há no poema contato com o mar ou aqueles que vivem do contato com o mar. Quem foram esses ? Os indígenas e seus descendentes seriam uma boa resposta. Navegar pela baía de São Marcos subindo as águas oceânicas e as águas do rio Mearim no século XVII em seus volumes caudalosos deveria requerer inúmeros conhecimentos e inúmeras práticas. E só os indígenas tinham esse conhecimento.

bar da baixinha

Não tinha outra. O bar da baixinha servia de albergue para uma variedade de indivíduos que trafegavam pela confluência do monte castelo fe em Deus Alemanha e apeadouro. E quem parava na Baixinha para tomar umas e outras escutava reggae. Gostando ou não gostando do gênero musical, o cliente aceitava na boa para não criar atrito. A grande maioria da clientela da baixinha botava fé em escutar reggae. Do monte castelo pra baixo em direção ao rio anil o reggae mandava no pedaço. Os outros ritmos seguiam numa escala mais abaixo em predileção. Para escutar esses ritmos tinha que se valer do Direito de único cliente a beber no bar e poder pedir a música que quisesse. Acontecia em algum momento dos "donos do bar" não se fazerem presente. em um desses momentos pediu ao filho da Baixinha que colocasse uma música. Ele lhe passou o celular. Na hora de escolher a música, deparou se com Gorillaz. "Quem escuta Gorillaz por aqui?""Deve ser meu namorado". Tá bom, além de reggae brega rock pop MPB, periferia também escuta Gorillaz que mistura quase tudo isso e muito mais.

grandes conflitos

Nos intervalos dos graves conflitos sócio ambientais localizados no município de santa Quitéria, em que as comunidades do pólo coceira resistiam as tentativas de desmatamentos por parte da Suzano papel e celulose e de plantadores de soja, havia oportunidade para o desenrolar de bons diálogos de onde surgiam ideias para por fim aos conflitos e quem sabe ensejar a regularização fundiária dos territorios tradicionais como requeriam as comunidades as ONGs e os pesquisadores. A casa do seu Veríssimo, no povoado Coceira, costumava receber e aconchegar reuniões de e almoços para um monte de gente que podia ser de lá mesmo da comunidade ou podia ser de outros povoados e de outras cidades que vinham para discutir entre si e/ou com órgãos fundiários do governo do Maranhão a situação em que viviam. A família do seu Veríssimo possuía pequenas propriedades ou pequenas posses nos baixoes e nas chapadas onde plantavam soltavam seus animais onde colhiam bacuri e pequi e onde cortavam suas madeiras para construírem suas casas, suas cercas e suas casas de farinha. A condição material de Seu Veríssimo diferia um pouco da de outros moradores. A professora Maristela do curso de ciências sociais da UFMA ao escutar essa análise advogou a tese da aliança dos pequenos proprietários e dos posseiros como forma de derrotar a Suzano e os plantadores de soja. Incluiria nessa tese um outro ator: os pequenos comerciantes tanto os fixos como os motorizados. Um não vive sem o outro. Essa aliança favoreceu a derrota da Suzano e dos plantadores de soja e a regularização fundiária das chapadas de Santa Quitéria. Havia clara a percepção que se a Suzano desmatasse as chapadas e plantasse eucalipto diminuiria a produção da agricultura familiar e em consequência reduziria a circulação de recursos no comércio local. Foi uma aliança informal se bem que agricultura familiar proprietários e comerciantes se faziam presentes nas associações que são espaços formais de representação. A luta das comunidades contra a Suzano e contra os plantadores de soja soube combinar formalidade e informalidade produção de alimentos e preservação do meio ambiente.

abordar uma situação

Antes de abordar uma situação, deve se antes de tudo saber o que se quer com relação a essa situação. Do que se trata e a quem se referir tanto num lado do campo como no lado oposto. Os impactos causados pela extração de gás na bacia do rio Mearim beiram os treze anos. Chegar a uma determinada idade leva a pessoa ou a instituição a uma análise. No caso da Eneva empresa responsável pela extração de gas esses anos levaram a um discurso de auto suficiência e pouco auto crítico. Esperar o que? Quando se está por cima da carne seca quanto menos crítica melhor. Seria muito ingénuo supor que a Eneva Discutiria em voz alta ou veicularia em rede nacional os impactos que a sua atividade económica trouxe para diversas comunidades quilombolas e tradicionais. O que ela faz em voz alta pelos municípios inseridos na área de influência direta do empreendimento e uma atividade de educação ambiental aqui e acolá. E com relação a TV e divulgar os seus feitos heróicos empresariais de extrair gás e transforma ló em energia e distribui ló no sistema. A empresa possui dinheiro para investir em marketing mas e o dinheiro para investir nas pessoas das comunidades, cadê? Dar uma boa conferida nas comunidades afetadas pela Eneva e devagarinho vem a sensação do silêncio e da desconfiança. As comunidades desconfiam de todos afinal desde sempre eles esperam algo vindo governo da universidade e de outros setores e nada vem. A prefeitura de Lima Campos ganha quanto de royalties da Eneva e quanto ela gasta na cidade? Na semana do aniversário de São Luís a Eneva patrocinou um evento de música no Arthur Azevedo organizado pelo governo do estado do Maranhão. Um evento bem seletivo para poucos. Na praça João Lisboa um taxista respondeu que ele não podia aceitar uma corrida porque estava a disposição de uma das pessoas presente ao evento o que deve ter custado um bom dinheiro. Esse patrocínio causou impacto na vida das comunidades em Lima Campos Santo António dos Lopes Capinzal Pedreiras ? Valeu a pena para esses municípios trocarem a biodiversidade a água de qualidade saúde física mental espiritual os laços familiares a agricultura familiar e o extrativismo pelos royalties do gás ?

Voltar a cena do crime: a arte de revisar o texto

O que se escreve num momento deixa de existir no momento seguinte em razão da correção dos erros na escrita e nas ideias. Corrigir deve ser uma das tarefas mais difíceis que o digam os professores que corrigem provas. O escritor a sua maneira corrige o que escreve. A frase não nasce pura, ela nasce corrigida. O grande ensinamento do jornalismo para a literatura foi a correção/revisão. O jornalista está constantemente a revisar o que escreve. A revisão é parte indispensável da tarefa diária do jornalismo. Só que o jornalismo revisa a forma, não revisa o conteúdo e nem as suas práticas. O grande revisor dos conteúdos e das práticas do jornalismo foi a literatura. As obras de Balzac George Orwell Dostoiévski Machado de Assis João do Rio são grandes revisoras do conteúdo e da prática jornalística. Dostoiévski escreveu Crime e Castigo a história do assassinato de duas velhas agiotas baseado em notícias de jornais. A incapacidade do jornalismo de voltar a cena do crime e publica e notória. O leitor de Crime e Castigo volta invariavelmente a cena do crime em sua memória.

alcantara

A cena que originou Lord Jim livro do escritor polones/inglês Joseph Conrad o impressionou de tal que ele acha que cada pedaço do seu bairro é um porto onde desembarcam e por onde trafegam figuras insondáveis das quais seria melhor manter distância. Um negro subiu os degraus do porto/bar da Baixinha e proferiu dezenas de frases desconexas que se vingaria de um dos clientes. O negro escutou uma conversa e pensou que se tratava dele. O problema da comunicação entre os segmentos sociais e suas consequências sociais e psicológicas dão uma dimensão parcial do quanto as comunidades quilombolas e tradicionais viveram e vivem no isolamento. As comunidades quilombolas da ilha de Cajual município de Alcântara que assinaram documento aceitando a construção de um porto na ilha entenderem do que se tratava?

polpa de bacuri

Vicente de Paulo divisava uma chuva distante quilómetros de sua casa. O serviço meteorológico previu muita chuva para todo o litoral norte maranhense. Pelo ritmo que andava a chuva no final de 2023, vai chuviscar. Admirara-se da capacidade de Vicente enxergar longe só com um olho. As nuvens se deslocavam rápido, umas vindo de Anapurus e outras vindo das bandas de Brejo. Quanto tempo tinham antes da chuva cair? Precisavam de tempo para se deslocarem a comunidade da Bacaba pegar uma polpa de bacuri. Enfim, percorreram a chapada e viam o número de bacurizeiros aumentar em certas partes em contraposição a outras partes completamente alijadas de bacurizeiros e de outras espécies. A chuva se alastrou rápido. Comecou fraquinha e passou a torrencial. Na casa de Marcelo, encontraram no metido na rede. A polpa de bacuri estava guardada na casa do vovô na pindoba, ele disse. Não, eles não desistiriam da polpa. Foram atrás. Corriam o risco da chuva ter enchido os caminhos. Em vez de enchente, os caminhos permaneciam secos. Uma parte da chapada chovera muito em outra chovera fino. O vovô sairá e quem ficara responsável fora os familiares. O seu sogro antes de morar na pindoba um baixo morara na chapada cercado de bacurizeiros. O André introvini como de tantas outras vezes pressionara o para abrir mão da sua posse em troca de uma área no baixo. Ele aceitou. A polpa que vovo e família vendiam provinha de um único pé de bacuri em frente a casa deles. Como seria se ainda morassem na Chapada com inúmeros bacurizeiros ao redor?

conversa de zapp

Qualquer informação é sempre bem vinda ainda mais se é de alguma serventia. Numa conversa de zapp, a pessoa solta mais do que deveria: "Participei de uma reunião desse povo e eles estavam preocupados". Sem entender de imediato, o interlocutor se pergunta que povo. Aí a ficha caiu. O outro lado da linha do zapp se referia ao pessoal da soja numa certa parte do centro leste maranhense. Celebrada como mais uma fronteira agrícola como outras tantas no Maranhão, pairavam dúvidas sobre a possibilidade ou não de plantar soja nesse recanto do cerrado maranhense que pouca gente se dá conta e nem quer. Para que saber pelo que os outros passam. Nessa safra final de 2023 e começo de 2024 nada fora plantado. E o tempo está passando como dizia o gênio da lâmpada no sítio do picapau amarelo. E a possibilidade de acontecer uma queda da renda na zona rural do Maranhão nos próximos meses aumenta.

energia eolica

A realidade de Paulino neves não é um cartão postal como e o divulgado pelos órgãos oficiais e pelo turismo referente a realidade de Barreirinhas. Não se vende a ideia de um paraíso preservado por Deus, afinal a indústria eólica chegou e apropriou se de várias extensões das praias de Paulino neves. Se Deus existe em Paulino neves esse Deus se chama Omega que construiu um parque eólico sem dar maiores explicações das suas razões. A empresa evita qualquer contato com a população e com sua história. A empresa não mantém um escritório na sede do município como seria de prache. O escritório fica na área do empreendimento. Isso quer dizer muita coisa. Não querem papo e ponto final.

omega

A realidade de Paulino neves não é um cartão postal como e o divulgado pelos órgãos oficiais e pelo turismo referente a realidade de Barreirinhas. Não se vende a ideia de um paraíso preservado por Deus, afinal a indústria eólica chegou e apropriou se de várias extensões das praias de Paulino neves. Se Deus existe em Paulino neves esse Deus se chama Omega que construiu um parque eólico sem dar maiores explicações das suas razões. A empresa evita qualquer contato com a população e com sua história. A empresa não mantém um escritório na sede do município como seria de prache. O escritório fica na área do empreendimento. Isso quer dizer muita coisa. Não querem papo e ponto final.