Editoria: Meio Ambiente
A pesquisadora Kátia Braga, da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP),
aborda em seus trabalhos a importância de se conhecer e avaliar a polinização agrícola por abelhas para garantir um sistema de produção sustentável.
Para se ter uma ideia da importância das abelhas para a
agricultura, segundo estudo da Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e Agricultura (FAO, 2004) estima que 73% das espécies
vegetais cultivadas no mundo são polinizadas por estes insetos.
Conforme a pesquisadora, “no Brasil, há um consenso entre diversos
pesquisadores que, apesar dos avanços tecnológicos, a produtividade das
culturas agrícolas, incluindo-se aquelas sob sistema orgânico de produção,
está aquém de seu potencial devido a um déficit na polinização. Esse
déficit pode ser ocasionado por práticas não amigáveis às abelhas, como o
uso frequente de agroquímicos e a ausência de vegetação natural nas proximidades da área cultivada”.
Enquanto no mundo estima-se que existam mais de 20.000 espécies de
abelhas, o Brasil, devido as suas proporções continentais e riqueza de
ecossistemas, abriga cerca de ¼ destas espécies (cerca de 5.000).
“Contudo, explica Kátia, a abelha mais conhecida entre os brasileiros é a abelha de mel ou africanizada (Apis mellifera)
que não é uma espécie nativa do nosso país. As nossas abelhas sociais,
produtoras de mel, são as abelhas sem ferrão que não conseguem picar por
apresentarem um ferrão atrofiado. Apesar da diversidade dessas abelhas
no Brasil, são cerca de 300 espécies, a maioria delas é desconhecida da
população, em geral, mesmo considerando que muitas delas fazem seus
ninhos em muros, paredes e árvores nas áreas urbanas e rurais”.
“Se as abelhas são os principais polinizadores das plantas cultivadas,
como estima o estudo da FAO, precisamos conhecer as abelhas sem ferrão
assim como as outras espécies de abelhas nativas do Brasil
(sociais ou solitárias), aprender a conservá-las nos ambientes naturais
e manejá-las para a polinização agrícola. Dessa forma, podemos
contribuir para uma maior produtividade dos frutos e sementes que
utilizamos em nossa alimentação e dos animais domésticos e, também, de
sementes para o plantio e cultivo de diversas espécies”, enfatiza Kátia.
Além disso, a polinização realizada pelas abelhas em ambientes naturais
garante a conservação da diversidade de plantas e animais silvestres
pois contribui com a reprodução das espécies vegetais que por sua vez
sustentam a fauna local.
Como exemplo do papel das abelhas na polinização agrícola, Kátia cita
um estudo recente realizado no semiárido brasileiro com a cultura da
acerola. Essa cultura, que é polinizada por um grupo de abelhas que
coletam óleos florais (gênero Centris), apresentou falha na polinização no período da seca,
produzindo uma quantidade muito menor de frutos que aquela obtida pela
polinização manual (realizada pelo ser humano) neste período, devido à
baixa abundância destas abelhas, fato que não ocorreu no período das
chuvas.
“Outro caso bastante conhecido é o da polinização do maracujá, que é
inadequada em muitas lavouras devido à escassez de seu principal
polinizador, a abelha carpinteira ou mamangava (gênero Xylocopa), nas
proximidades da cultura”.
Kátia Braga abordou, como parte do curso oferecido aos professores do
Centro Paula Souza, o tema abelhas sem ferrão e manejo agrícola. A
escolha por este grupo de abelhas está associada à facilidade de criação
e manejo de muitas de suas espécies, ao sabor e qualidade do mel produzido,
ao fato delas não ferroarem e aos resultados de várias pesquisas que
destacam seu potencial como polinizadores de culturas agrícolas. Além
disso, por todas esses aspectos, elas podem ser utilizadas como um
interessante recurso didático-pedagógico-experimental em escolas
técnicas, de ensino básico e superior. Este foi, justamente, um dos
objetivos do desenvolvimento desse tema junto aos professores das escolas técnicas agrícolas vinculadas ao Centro Paula Souza.
O tema “Abelhas sem ferrão e manejo agrícola” também pode ser oferecido
em cursos com diferentes níveis de aprofundamento para agricultores,
gestores públicos e estudantes de graduação e pós-graduação nas áreas
das ciências biológicas, agrícolas e ambientais.
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