Indígenas dos povos Guajajara, Awá-Guajá, Käapo, Gavião, Krikati, Kenyiê, Krepumkatjê, Kanela, do Maranhão e Kanamari,
Marubo, Mayoruna e Kulina, do Vale do Javari, no Amazonas estão em
Brasília para reivindicar dos órgãos federais providências na
assistência indígena e revogação da Portaria 303.
“São
200 indígenas aqui reunidos. O principal motivo da presença da
delegação dos povos do Maranhão em Brasília é exigir a imediata
revogação da Portaria 303. Pretendemos ficar aqui toda a semana até
ouvir uma posição positiva da revogação da portaria”, reitera Flaubert
Guajajara.
Ontem,
6 de novembro, bloquearam as três passagens de entrada do Palácio do
Planalto até que recebessem resposta sobre uma reunião com o ministro da
Justiça, José Eduardo Cardozo e o advogado-geral da União, Luís Inácio
Adams. A reunião não aconteceu, pois José Eduardo Cardozo estava em São Paulo, entretanto o advogado-geral da União, Luís Adams, se encontrava em Brasília.
“O
Luís Adams não precisou de ninguém para publicar a Portaria 303. E por
que agora ele precisa da presença do ministro da Justiça para se reunir
com a gente, se ele disse que fez a portaria sozinho? ”, questiona Sônia
Bone, indígena Guajajara que integra a coordenação da Articulação dos
Povos indígenas do Brasil (APIB) e a Coordenação das Organizações
Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).
A
Portaria 303 determina, entre outras medidas, que as terras indígenas
podem ser ocupadas por unidades, postos e demais intervenções
militares, malhas viárias, empreendimentos hidrelétricos e minerais de
cunho estratégico, sem consulta aos povos. “Hoje
mesmo com as terras demarcadas ficamos sem liberdade e proteção dentro
de nossas próprias terras, imagina se essa portaria passa, como vamos
ter segurança dentro de nossas terras, se ela abre precedente para a
revisão do limite de terras, entrada de terceiros, como exércitos,
construção de grandes empreendimentos. Como vamos ter paz e segurança?”,
comenta Sônia Guajajara.
Transtornados
sobre o descaso do governo a respeito da proteção nas terras indígenas e
sem assistência, os indígenas foram recebidos na parte da tarde pela
presidente da Funai, Marta Azevedo. “Queremos ações que foram passadas e
não foram cumpridas pela Funai. Todas as comunidades aqui presentes
sofrem algum tipo de ameaça. Não é só colocar em pauta é preciso ter
execução”, diz Flaubert Guajajara.
“Onde
está a criação do Grupo de Estudo (GT) para o levantamento do
território do povo Krenjê. O representante da Secretaria Especial de
Saúde Indígena (Sesai) disse que temos direito sim, mas sem território
nada acontece. Ficou acordado também que a Funai mandaria cesta básica,
mas ela estipulou que só receberiam aqueles que tivessem família, ou
seja, quem não tem família não come?”, aponta Raimundo Krenjê.
Um
dos principais conflitos com os povos indígenas no Maranhão se dá pela
exploração ilegal de madeira dentro das terras. Os indígenas reivindicam
a desintrusão dos não-índios de suas terras, constantemente invadidas
por fazendeiros e madeireiros. “Hoje não há espaço para caça, nem pesca
em nossa terra, pois os madeireiros a estão invadindo, não sei por
quantos mil processos já passamos e nada avança”, reclama Ambrósio
Gavião.
Saúde indígena: estado de calamidade
A
Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) não possui estrutura
adequada para atender os indígenas e dar a assistência necessária,
política pública que se reflete no estado de calamidade pública da saúde indígena na região.
“A Sesai foi criada e não dá o atendimento mínimo. Não sabemos a que
ela veio. A Funai nunca conseguiu chegar nas aldeias, então a gente não
conhece o trabalho da Sesai. As mortes por desassistência são bastante
comuns, muitos morrem por falta de transporte e hospitais adequados”,
afirma Sônia Guajajara.
Grandes empreendimentos x terras indígenas
O
Maranhão é dos estados que sofre mais impacto dos grandes
empreendimentos desenvolvidos governo de Dilma Rousseff. Construção de
ferrovias e hidrelétricas ameaçam a sobrevivência dos povos indígenas,
inclusive dos isolados. Os povos
Krikati e Gavião estão sendo afetados diretamente em suas terras pela
expansão do eucalipto pela empresa de papel e celulose, Suzano.
“A
gente apostou muito nos governos Lula e Dilma, que ia ser um governo
democrático e popular, mas na verdade o PT só atende aos interesses dos
empresários, latifundiários, agronegócio e grandes produtores. Classes
mais vulneráveis, como quilombolas e ribeirinhos são vistas como
empecilhos, povos que atrapalham o progresso”, argumenta Sônia
Guajajara.
Levantamento
do Conselho Indigenista Missionário relaciona um total de 204 povos
indígenas atingidos por diferentes empreendimentos em todo o país, em um
total de 448 terras indígenas. Os impactos envolvem 527
empreendimentos, dos quais 263 são da área de energia, 20 de mineração,
19 do agronegócio, e só no estado do Maranhão são 14 empreendimentos.
A
expansão da ferrovia Carajás, pela mineradora Vale do Rio Doce,
aumentará impactos sobre o povo Awá-Guajá. Caso seja concretizada, sua
expansão promoverá o desaparecimento das florestas e da fauna, fonte de
vida dos Awá-Guajá. Suas terras são invadidas por madeireiros que abrem
estradas clandestinas, desmatam áreas próximas a lagoas, privilegiadas
em caça e pesca, locais de fundamental importância para a sobrevivência
física e cultural deste povo.
Fotos: Gustavo Macedo / APIB
Confira a agenda dos indígenas para os dias 6 e 7:
Quinta-feira, dia 7/11
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Sexta-feira, dia 8/11
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11hs: Audiência com os ministros Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência da República, e Luis Adams (Advocacia Geral da República)
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08hs30min.: Audiência com ministro da Justiça, Eduardo Cardozo e advogado-geral da União- Luis Adams
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15hs: Audiência pública da Comissão de Direitos Humanos, no Congresso Nacional, Plenário 1, Anexo 2
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