Entre
os anos de 2006 e de 2012, o Centro de Apoio Sócio Ambiental (CASA) financiou
cerca de quatorze projetos em boa parte do estado do Maranhão. Desses quatorze
projetos, o Fórum Carajás escreveu dois que tratavam diretamente da expansão da
fronteira agrícola nos Cerrados maranhenses. Os conflitos gerados pelas
monoculturas (soja, eucalipto e cana) ficavam estáticos em seus devidos
espaços. A razão principal para que esses conflitos não ultrapassassem seus círculos
responde pelo nome de isolamento. As comunidades tradicionais maranhenses,
historicamente, ocuparam áreas próximas às margens dos cursos de água e em
muitos casos isso significava pouco contato com os centros urbanos. Até os anos
80, a população rural do município de Balsas, região sul do Maranhão,
correspondia a 80% de toda a população. Esse cenário se inverteu com a chegada
da soja no começo dos anos 80 e com a ampliação dos plantios de soja e de
outras monoculturas na década de 90. Em pouco mais de trinta anos, a região de
Balsas passou da tranquilidade típica de zona rural para um quadro explosivo de
violência social e de conflitos socioambientais. Somam-se a esse quadro alguns dados
bastante reveladores. O bioma Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil;
avista-se sua vegetação em dez estados brasileiros; e nele nascem as principais
bacias hidrográficas tanto do ponto de vista nacional como do ponto de vista
regional. A devastação do Cerrado implicaria na perda dos recursos hídricos e
nos recursos genéticos que favorecem quase a metade da população brasileira.
Contudo,
esses dados em nenhum momento serviram para que o Cerrado saísse de sua
condição de mero espaço propulsionador da fronteira agrícola. A pressão da
balança comercial e a pressão do agronegócio afugentavam quaisquer projetos de
cunho socioambiental nos Cerrados. Os biomas Amazonia e Mata Atlântica prevaleciam
com toda sorte de recursos advindos da cooperação internacional. O CASA montou
sua base nesse vazio de projetos direcionados para as populações tradicionais do
Cerrado e das regiões de transição do Cerrado para outros biomas. O primeiro
projeto, que o Fórum Carajás enviou ao CASA, no ano de 2006, explicitava a
tragédia na qual o agronegócio meteu a região de Balsas e que essa tragédia aterrissava
sobre a região do Baixo Parnaiba maranhense com as mesmas características e com
as mesmas promessas de redenção econômica. A grande marca do Fórum Carajás se fixava na
produção de conteúdo critico e a sua propagação através de materiais impressos
e virtuais como forma de alimentar as campanhas desencadeadas pela instituição
junto as organizações locais e aos formadores de opinião. Com o recurso liberado pelo CASA, imprimiu-se
o livro “Nem a vista, nem a prazo; Os cerrados e suas lutas”, uma coletânea de
artigos que coloca em xeque as monoculturas em todo o país como fator de
desenvolvimento e como distribuidor de riqueza e elaborou-se uma logo marca
para a campanha “Descaminhos da soja”. Abordar um tema como esse não é fácil. Talvez
resultasse em mais uma campanha daquelas que se oblitera em prol de campanhas
maiores e mais atrativas. Para que isso não ocorra, define-se o objetivo
principal do projeto e o público que ele quer atingir. No caso desse e de
outros projetos, aferra-se as comunidades tradicionais como elemento intrínseco
de qualquer encadeamento. Por elas passam os outros segmentos como se fosse um
fio condutor.
O
projeto popularizou entre as organizações da sociedade civil e entre os
formadores de opinião a controvérsia em torno das monoculturas porque se amarraram
pontas que muitos criam mortas ou definhadas. Uma dessas pontas despontou em
Balsas pelas mãos da Associação Nova Vida, associada da Associação Camponesa. O
senhor João Fonseca presidia a Associação Nova Vida quando conheceu o CASA em
2009. As famílias da associação moram no Grotão, circundadas pela serra do Boi
Liso, serra do Gado Bravo e serra do Penitente. As comunidades tradicionais do município
de Balsas se recolheram as partes baixas enquanto os plantios de soja lideravam
a devastação das serras. Em 2001, o Fórum Carajás mobilizou uma campanha internacional,
em conjunto com a FIAN, para denunciar o despejo de agrotóxicos sobre a
comunidade de Vão da Salina. Naquela altura, o governo do estado se
sensibilizou e exigiu uma investigação da parte dos poderes públicos de Balsas.
O primeiro projeto da Associação Nova Vida, que recebeu recursos do CASA,
exercitava a agroecologia na rotina dos agricultores familiares do Grotão e
comunidades vizinhas como o cuidado com o fogo, a proteção dos recursos hídricos,
a produção de inseticidas naturais e a criação de pequenos animais. Surgiu
dessa experiência um projeto de beneficiamento e aproveitamento de polpas de
frutas do Cerrado que também foi financiado pelo CASA. Passados três anos do
primeiro projeto e um ano do segundo, contabiliza-se que 90% dos agricultores
continuaram as práticas aprendidas nos dois projetos. Investiu-se no
aproveitamento de frutos e na criação de pequenos animais. O buriti está entre
os frutos mais aproveitados pelos agricultores e um dos seus subprodutos é a
rapadura.
Mayron
Régis
Nenhum comentário:
Postar um comentário