Por que esse lugar, entre tantos?
Não havia nada de original nessa pergunta. Em outras ocasiões, outros a fizeram
e nem por isso obtiveram resposta. Perguntara inúmeras vezes para que lado
ficava Brejinho. O Edivan, militante do MST e morador do povoado de Belém,
respondera “para aquelas bandas” sem nenhuma indicação mais precisa. O Vicente
de Paula, morador de Carrancas ou Valência, ouvira o nome Brejinho no Sindicato
de Trabalhadores Rurais de Buriti por conta de uma confusão de terras. O Alex
Motta, que uma vez ajudara o Zé Branco a cercar mais de cem hectares de Chapada
para impedir qualquer tentativa de grilagem, depusera que a comunidade de
Brejinho entrara em litigio com o Pedrão, plantador de soja, por 360 hectares
de Chapada.
Ele adentrou a propriedade e
perguntou-se que mundo era aquele. Um mundo inesperado e indispensável. Ele se
desfez de alguns minutos da sua vida para enfim avistar o povoado Brejinho. Nada
que fizesse muita falta ou que fizesse alguém perder o humor. A sua ida a Brejinho,
municipio de Buriti, naquela manhã de quarta-feira, revestia-se de incertezas. Antes
dele, o Vicente de Paula e seu genro João, gentilmente, dirigiram-se ao povoado
com o intuito de perguntar se eles receberiam de bom grado um projeto de
criação de galinha caipira. Por um tempo, eles rodaram de maneira incerta pela
Chapada e, ao descerem para o Baixão, os dois encostaram à casa do “proprietário”
da terra que intencionava expulsar as oito famílias de Brejinho. Em seguida, no
caminho certo, o Vicente perguntou a uma menina qual era a casa do senhor
Raimundo Jô. A menina desconfiou a principio dos dois, mas, depois que o
Vicente explicou o que queria, ela respondeu que o seu pai se encontrava em
casa. A filha desconfiara do Vicente e do João porque a policia prendera seu
pai e seu avô a partir de uma denuncia de crime ambiental formalizada pelo “proprietário”
da área. Eles passaram uma noite na cadeia e só saíram depois que pagaram R$600
de fiança.
O Vicente arrumou para que o João
o levasse na moto até Brejinho, quarta-feira, bem cedo. Dessa vez, acertaram em
cheio. As casas se situam num Baixão encarecido de buritizeiros. Depois de
tantas voltas pela Chapada, aturdira-se no espaço físico local. O nome do brejo
e do nome do rio no qual desemboca o ajudaria a localizar-se. O senhor Raimundo
Jô desconhecia o nome do brejo, mas sabia que o rio onde ele desembocaria era o
Munim. Por incrível que pareça, depois de tantos anos do agronegócio assolar o
Cerrado de Buriti, a Chapada do Brejinho continuava preservada com duas
nascentes perenes próximas às casas. Após tomarem o café passado pela esposa do
senhor Raimundo Jô, os dois visitantes mostraram o projeto de criação de
galinha caipira para os moradores de Brejinho. O senhor Raimundo Jô assuntou
mais sobre o projeto e aceitou, por fim.
Mayron Régis
Gosto da forma como vc escreve, em forma de conto.
ResponderExcluirBeijos.
Muuuito bom!!!
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