sexta-feira, 1 de março de 2013

Novo parecer sobre estudo francês que relacionou milho transgênico a tumores é apresentado na CTNBio, desafiando suposto posicionamento do órgão


 
Número 619 - 01 de março de 2013
 
Car@s Amig@s,
 
Em setembro de 2012 a revista científica Food and Chemical Toxicology publicou uma pesquisa, liderada pelo cientista francês Gilles-Eric Séralini, professor da Universidade de Caen, na França, demonstrando que ratos alimentados com o milho transgênico da Monsanto NK603, tolerante ao herbicida glifosato, bem como ratos expostos em sua dieta ao próprio glifosato, apresentam maior propensão ao desenvolvimento de tumores.
 
A pesquisa caiu como uma bomba junto à opinião pública, uma vez que o milho em questão é amplamente cultivado nos países grandes produtores e exportadores de grãos (Brasil, EUA e Argentina) e seu consumo alimentar é autorizado até mesmo na Europa, onde existe maior resistência aos transgênicos. Provocou também grande mal estar entre os órgãos oficiais responsáveis pela avaliação e liberação comercial de transgênicos, uma vez que, além de apontar graves problemas em um produto já liberado, evidenciou a frouxidão dos critérios de avaliação de biossegurança adotados.
 
Como tem acontecido sempre que novas evidências apontando riscos de produtos transgênicos são publicadas, logo após a publicação os autores da pesquisa começaram a ser alvo de uma articulada e agressiva onda de ataques. Entre outros, criticaram-se as análises estatísticas realizadas, acusou-se a espécie de ratos utilizada no estudo de ser “naturalmente propensa ao desenvolvimento de tumores” e acusou-se o número de ratos empregados no experimento de insuficiente para sustentar as conclusões apresentadas.
 
Um grupo de membros da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) fez coro nesses ataques, inclusive assinando um documento internacional de críticas ao estudo.
 
As críticas foram todas respondidas pela equipe de Séralini, uma a uma. Mas uma coisa muito interessante a se destacar é que as supostas falhas apontadas no estudo francês não foram questionadas nos estudos apresentados pelas empresas de biotecnologia e que embasaram a liberação comercial de variedades transgênicas. Um exemplo: a linhagem de ratos de laboratório utilizada pelo estudo de Séralini é exatamente a mesma que foi utilizada no experimento que embasou sua liberação comercial. Quanto a isso, nenhuma crítica. Ou ainda: nenhum estudo que permitiu a autorização dos transgênicos tinha mais de 10 ratos medidos por grupo – número utilizado no estudo de Séralini. Isso sem considerar que no recente estudo francês os ratos foram monitorados ao longo de dois anos, isto é, todo o seu tempo de vida, enquanto o estudo que levou à autorização do milho NK 603 foi conduzido ao longo de apenas 13 semanas.
 
Mas o posicionamento visivelmente tendencioso de membros da CTNBio não para por aí. Em 21 de outubro de 2012 o Ministério das Relações Exteriores (MRE) solicitou à CTNBio informações acerca do estudo de Séralini. O pedido não foi levado ao conjunto dos membros da Comissão e, 3 dias depois, seu presidente direcionou um parecer ao MRE, informando que para responder à demanda do ministério ele havia indicado “em caráter de urgência uma comissão extraordinária”. O documento, assinado por quatro pesquisadores, repete as críticas já rebatidas por Séralini.
 
O parecer, que estava pronto antes mesmo do pedido do MRE, havia sido colocado na pauta da reunião de 18 de outubro passado, mas a discussão fora adiada para a reunião seguinte do órgão, que seria realizada em novembro. O item, contudo, não entrou na pauta dessa reunião e o tal parecer passou a ser referido como justificativa para que a liberação do milho NK603 não fosse reavaliado pela CTNBio.
 
Agora, integrantes e ex-membros da Comissão prepararam um documento apresentando uma outra visão acerca da pesquisa sobre o milho NK 603. O documento foi apresentado à CTNBio na reunião ordinária de fevereiro de 2013, mas o presidente Flavio Finardi não o recebeu, indicando que fosse protocolado na secretaria do ministério para posterior encaminhamento ao Itamaraty.
 
Em face de tamanha falta de consenso e da gravidade das novas descobertas é de se esperar – e cobrar – da CTNBio que abra um processo de reavaliação dos produtos transgênicos já liberados à luz de novas evidências científicas, a começar pelo milho NK603.
boletimtransgenicos.

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