Número 619 - 01 de março de 2013
Car@s Amig@s,
Em setembro de 2012 a revista científica Food and Chemical Toxicology publicou uma pesquisa,
liderada pelo cientista francês Gilles-Eric Séralini, professor da
Universidade de Caen, na França, demonstrando que ratos alimentados com o
milho transgênico da Monsanto NK603, tolerante ao herbicida glifosato,
bem como ratos expostos em sua dieta ao próprio glifosato, apresentam
maior propensão ao desenvolvimento de tumores.
A pesquisa caiu
como uma bomba junto à opinião pública, uma vez que o milho em questão é
amplamente cultivado nos países grandes produtores e exportadores de
grãos (Brasil, EUA e Argentina) e seu consumo alimentar é autorizado até
mesmo na Europa, onde existe maior resistência aos transgênicos.
Provocou também grande mal estar entre os órgãos oficiais responsáveis
pela avaliação e liberação comercial de transgênicos, uma vez que, além
de apontar graves problemas em um produto já liberado, evidenciou a
frouxidão dos critérios de avaliação de biossegurança adotados.
Como tem
acontecido sempre que novas evidências apontando riscos de produtos
transgênicos são publicadas, logo após a publicação os autores da
pesquisa começaram a ser alvo de uma articulada e agressiva onda de
ataques. Entre outros, criticaram-se as análises estatísticas
realizadas, acusou-se a espécie de ratos utilizada no estudo de ser
“naturalmente propensa ao desenvolvimento de tumores” e acusou-se o
número de ratos empregados no experimento de insuficiente para sustentar
as conclusões apresentadas.
Um grupo de
membros da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) fez coro
nesses ataques, inclusive assinando um documento internacional de
críticas ao estudo.
As críticas foram todas respondidas
pela equipe de Séralini, uma a uma. Mas uma coisa muito interessante a
se destacar é que as supostas falhas apontadas no estudo francês não
foram questionadas nos estudos apresentados pelas empresas de
biotecnologia e que embasaram a liberação comercial de variedades
transgênicas. Um exemplo: a linhagem de ratos de laboratório utilizada
pelo estudo de Séralini é exatamente a mesma que foi utilizada no
experimento que embasou sua liberação comercial. Quanto a isso, nenhuma
crítica. Ou ainda: nenhum estudo que permitiu a autorização dos
transgênicos tinha mais de 10 ratos medidos por grupo – número utilizado
no estudo de Séralini. Isso sem considerar que no recente estudo
francês os ratos foram monitorados ao longo de dois anos, isto é, todo o
seu tempo de vida, enquanto o estudo que levou à autorização do milho
NK 603 foi conduzido ao longo de apenas 13 semanas.
Mas o
posicionamento visivelmente tendencioso de membros da CTNBio não para
por aí. Em 21 de outubro de 2012 o Ministério das Relações Exteriores
(MRE) solicitou à CTNBio informações acerca do estudo de Séralini. O
pedido não foi levado ao conjunto dos membros da Comissão e, 3 dias
depois, seu presidente direcionou um parecer ao MRE, informando que para
responder à demanda do ministério ele havia indicado “em caráter de
urgência uma comissão extraordinária”. O documento, assinado por quatro
pesquisadores, repete as críticas já rebatidas por Séralini.
O parecer, que
estava pronto antes mesmo do pedido do MRE, havia sido colocado na pauta
da reunião de 18 de outubro passado, mas a discussão fora adiada para a
reunião seguinte do órgão, que seria realizada em novembro. O item,
contudo, não entrou na pauta dessa reunião e o tal parecer passou a ser
referido como justificativa para que a liberação do milho NK603 não
fosse reavaliado pela CTNBio.
Agora, integrantes
e ex-membros da Comissão prepararam um documento apresentando uma outra
visão acerca da pesquisa sobre o milho NK 603. O documento foi
apresentado à CTNBio na reunião ordinária de fevereiro de 2013, mas o
presidente Flavio Finardi não o recebeu, indicando que fosse protocolado
na secretaria do ministério para posterior encaminhamento ao Itamaraty.
Em face de tamanha
falta de consenso e da gravidade das novas descobertas é de se esperar –
e cobrar – da CTNBio que abra um processo de reavaliação dos produtos
transgênicos já liberados à luz de novas evidências científicas, a
começar pelo milho NK603.
boletimtransgenicos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário