Doe seu tempo a quem precisa
Liana John - 21/03/2013 às 20:28
A publicação do texto sobre as caixas térmicas feitas de fibra de buriti para substituir o famigerado isopor, na semana passada, suscitou várias manifestações de pesquisadores e artesãos das regiões Norte e Centro-Oeste, igualmente adeptos (e fãs!) do uso dessa alternativa de isolante térmico natural, renovável e muito menos poluente.
Uma das pesquisas que bem vale voltar ao assunto foi realizada no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) por uma equipe coordenada pelo especialista em Ciência e Tecnologia de Madeira, Jadir de Souza Rocha. O estudo também é focado na propriedade isolante da fibra de buriti (Mauritia flexuosa), mas para uso na construção civil, como forro de tetos ou como divisória de ambientes para substituir madeira sólida, aglomerados e compensados.
“As chapas de fibra de buriti são muito leves e, apesar disso, têm a resistência adequada ao uso na construção civil para obras internas, como forro, divisória e até mesmo para a fabricação de alguns tipos de móveis, biombos e objetos de decoração”, destaca o pesquisador. Segundo ele, a madeira mais leve daquela região é o pau-de-balsa, cuja densidade equivale a 0,18 gramas por centímetro cúbico. Mas a fibra de buriti é ainda mais leve, com uma densidade de apenas 0,08 g/cm3.
A resistência natural da fibra é reforçada pela maneira como as chapas são montadas, em quadrados com as lâminas orientadas perpendicularmente entre si, e pelo acabamento em látex de seringueira, outro produto da biodiversidade amazônica. “Inicialmente usávamos cola branca para unir as tiras de fibra de buriti, mas depois adotamos o látex de seringueira, por ser um material disponível aqui no estado do Amazonas, graças à revitalização dos seringais nativos promovida pelo governo estadual”, prossegue Jadir Rocha.
O látex une as lâminas, impermeabiliza as extremidades das chapas e facilita o uso de uma película da própria folha do buriti como revestimento externo. “Essa película é bem clara e tem uma textura agradável, bem apropriada para o uso em decoração, pois ajuda a clarear os ambientes, além de proporcionar conforto térmico, devido à sua propriedade isolante”, acrescenta. Em resumo, trata-se de um material feito mesmo “de encomenda” para o clima equatorial amazônico, com todo seu calor e umidade de empanar mesmo aqueles compensados colados “no capricho”.
Em caso de dúvida, se casa fica em local sombreado e muito úmido, sujeita a mofo e outros fungos variados, é possível tratar as chapas de fibra de buriti com boro, reforçando a camada antimofo garantida pelo látex.
A equipe do Inpa – composta também pelas pesquisadoras Cynthia Lins Falcone Pontes, Vania Maria Oliveira da Camara Lima, Tereza Maria Farias Bessa e Katia Bastos Loureiro Ramos – ainda estudou alternativas de manejo sustentável do buriti para garantir a extração da fibra sem depauperar os buritizais nem inutilizar o material. A fibra isolante, como já vimos, é retirada do pecíolo das folhas da palmeira. De acordo com as observações feitas pelos pesquisadores, o momento ideal para coletar a folha é quando suas pontas começam a amarelar. “Isso é sinal de que a folha vai secar e cair logo, então pode ser removida sem prejudicar a palmeira”, explica o especialista. “Se tirarmos ainda verdes, a folha faz falta ao buriti e se a deixarmos secar e cair sozinha, a fibra já vem com fungos, cupins e carunchos”. E atenção para o detalhe: as outras fibras das folhas, a chamada palha do buriti, não é perdida: tem outros usos, na confecção de cordas, redes, esteiras, bolsas e chapéus.
Desnecessário dizer que esse manejo simples e sustentável serve também para os outros usos da fibra de buriti, seja para confecção de caixas artesanais, para as caixas térmicas dos estudantes de Rondônia ou para uma nova indústria de objetos de decoração genuinamente florestais, não madeireiros e renováveis. Com cuidado e sem exageros, teremos mais buritis em nossas vidas e menos isopor ou outros isolantes artificiais.
Tudo leve, claro e fresquinho!
Foto: INPA (chapa isolante feita com fibras de buriti e látex de seringueira)
planetasustentável
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