Mulher da aldeia Patizal, preparando farinha de mandioca. O produto é o principal alimento consumido nas aldeias Apinajé. (foto: Antônio Veríssimo. 2012) |
Na
década de 80, a Fundação Nacional do Índio -FUNAI, introduziu nas
aldeias Apinajé, a agricultura mecanizada e as roças
“comunitárias”. Essa nova modalidade de produção de alimentos
causou de repente alguns impactos econômico, social e cultural,
trazendo mudanças negativas na rotina e nos hábitos alimentares
dessa população indígena, tendo como resultados imediatos, o
abandono das roças tradicionais, a acomodação e a dependência da
mecanização.
Mulheres Apinajé da aldeia Areia Branca, raspando mandioca, para fazer
a farinha. (foto: Antônio Veríssimo. 2012)
|
Assim nos últimos (20) vinte anos, a nossa agricultura
familiar, mergulhou num grande fracasso e decadência. Essa que já
foi uma das atividades econômicas mais importantes para
sobrevivência de nosso povo, hoje está quase abandonada. Atualmente
a produção de alimentos como milho, feijão, mandioca, inhame,
batata doce, arroz e banana é muito reduzida e não está
conseguindo acompanhar o crescimento da população indígena. A
baixa oferta de produtos da roça anda longe de suprir as
necessidades diárias das famílias, especialmente das crianças.
Poucas aldeias tem uma produção razoável de farinha de mandioca, e
mesmo assim não conseguem atender sequer as próprias demandas
internas. Sendo que no momento a maioria das comunidades dependem
mesmo é de produtos comprados nas cidades de Tocantinópolis e
Maurilândia –TO.
Essa situação nos preocupa, e incomoda de tal
forma que, a Associação PEMPXÀ, elegeu
como principal meta
a revitalização
da
agricultura familiar Apinajé, nesse
sentido é necessário
resgatar nossas próprias
formas de trabalhar e
produzir alimentos.
Avaliamos que precisamos reorganizar
nossos
sistemas de trabalhos coletivos
em mutirão,
envolvendo as famílias extensas, que são as
bases e unidades
produtivas
do
povo Apinajé. Dessa forma
estaremos valorizando
e estimulando
as nossas
práticas tradicionais de
produção
de alimentos orgânicos,
saudáveis, diversificados
e de
qualidade confiável.
Roça de banana no sistema tradicional Apinajé, na aldeia Areia Branca..
(foto: Antônio Veríssimo. 2012) |
O
que está faltando mesmo é mais
atenção, incentivos e
parcerias dos governos
municipal, estadual e federal, para
nos apoiar em nessas
iniciativas de roças
familiares, que sempre
aconteceram, e ainda estão
acontecendo e dando certo. Agora
precisamos também
do acompanhamento e
assessoria dos técnicos e extensionista rurais do RURALTINS,
Secretaria da Agricultura do
Tocantins e MDS. E podemos
fazer parcerias com
a EMBRAPA,
FUNAI, SENAR e SEBRAE,
especialmente para
formação e capacitação de jovens
indígenas Apinajé,
para atuar nas sem aldeias.
Acreditamos que nossas
práticas e saberes tradicionais sobre a
agricultura, somados a esses
conhecimentos
técnicos,
se
forem bem aplicados,
poderão resultar em
importantes avanços para
nossa
agricultura familiar,
melhorando a
qualidade, quantidade e a
diversidades de
produtos que podem ser
cultivados sem agrotóxicos.
Podemos também melhorar
as formas de
controle
das
pragas, ervas daninhas, prevenir
e combater
as doenças nas lavouras,
sem poluir e contaminar o
solo, as
águas
e os próprios alimentos que produzimos
e consumimos.
Temos a consciência que a
produção de alimentos, seja em pequena ou grande quantidade, devem
respeitar o meio ambiente e a
população;
preservando a saúde e
a vida das
pessoas.
Todos nós
sabemos,
que nunca vamos ser
produtores
de
toneladas
e mais toneladas de produtos agrícolas para atender
a lógica perversa do mercado.
Porém aproveitando
as potencialidades do solo, as condições climáticas e os recursos
humanos que temos, podemos
produzir alguns
gêneros alimentícios para
atender nossas próprias
necessidades
internas e
contribuir para o desenvolvimento sustentado de nossa região.
Bananas produzidas em aldeia Apinajé, sem o uso de adubos químicos e agrotóxicos. (foto: Antônio Veríssimo. 2012)
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Roça de mandioca tradicional Apinajé. (foto: Antônio Veríssimo. 2012) |
Aldeia
Patizal, 12 de março de 2013.
Associação
União das Aldeias Apinajé -PEMPXÀ.
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