Quilombolas
do Charco e de Juçaral, em São Vicente Ferrer (MA) divulgaram nessa
segunda-feira, 15 de abril, denunciando que sofrerão uma inspeção
judicial a pedido de um pretenso proprietário de parte do território
quilombola dessas comunidades. Confira o documento:
Estamos em campo a tratar da nossa Libertação!
Aos companheiros e companheiras da Caminhada
Nós, quilombolas de Charco e Juçaral, localizados no município de São
Vicente Ferrer (MA), vivemos dias de muita apreensão. No dia 24 de
abril, será realizada uma inspeção judicial determinada pela Justiça
Federal do Maranhão atendendo solicitação do pretenso proprietário de
parte do nosso território. Segundo ele, descumprimos um acordo judicial
que pretendeu confinar 96 famílias numa área de 101ha – área total das
nossas roças, nossos caminhos e nossas moradias - desde fevereiro de
2011.
Essa situação, não podemos deixar de reconhecer, foi agravada pela
morosidade do INCRA em concluir o Relatório Técnico de Identificação e
Delimitação (RTID) do nosso território, atendendo à política etnocida
imposta pelo Estado Brasileiro aos povos indígenas e comunidades
quilombolas deste país. De fato, o RTID só foi publicado no Diário
Oficial da União em setembro de 2012, exatamente 01 ano depois do que
foi determinado pela Justiça Federal. A sua tardia publicação ocorreu
depois que, não suportando mais o confinamento, decidimos retomar parte
do nosso território tradicionalmente ocupado para garantir o Sagrado
Direito à Alimentação de nossas famílias.
Estamos convencidos de que não cometemos nenhum crime, pois a dignidade
humana está acima do direito à propriedade privada, neste caso, da
terra. A nossa Constituição condicionou a propriedade privada da terra à
sua função social. Mesmo assim, podemos ser condenados, segundo o
despacho do juiz federal Ricardo Macieira, a pagar MULTA DIÁRIA de R$
50.000,00 (isso mesmo, CINQUENTA MIL REAIS por dia por descumprimento do
acordo que pretendeu nos confinar em fração do nosso próprio
território, fazendo-nos morrer de fome), além da PRISÃO das lideranças
do nosso quilombo, incluindo nossa matriarca Antonia da Silva Mendes,
com 88 anos de idade.
Irmãos e Irmãs,
Não permitiremos que voltem o açoite e a chibata;
Não aceitaremos a condição de estrangeiros em nosso próprio chão;
Honraremos a luta e o martírio de Flaviano Pinto Neto, assassinado
pelas mão do latifúndio, em 30 de outubro de 2010, por defender nosso
território;
Honraremos a luta e o martírio dos nossos ancestrais em defesa de todos os territórios quilombolas;
Seguimos solidários e solidárias às lutas de todos os indígenas,
quilombolas, ribeirinhos, seringueiros, pescadores, sem-terra, sem-teto…
que resistem às forças da morte em todos os cantos do mundo.
No próximo dia 24, enquanto durar a Inspeção Judicial, hastearemos
nossas bandeiras nas árvores mais altas do nosso território e faremos
com que nossos tambores ecoem em todos cantos do mundo nosso canto de
vivas à LIBERDADE, seguindo o mandato de Javé, o Deus dos Pobres, dos
nossos Orixás, Caboclos e Caboclas e de nossos ancestrais desde a
Mãe-África e a Pachamama.
Território Quilombola Charco-Juçaral
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