sexta-feira, 16 de março de 2012

A COMUNIDADE DA MANGUEIRA, MUNICIPIO DE CHAPADINHA, TORCEU O RABO DA SUZANO PAPEL E CELULOSE


As comunidades agroextrativistas do Baixo Parnaiba maranhense dão uma devida importância à palavra e ao discurso. O que elas podem dar a não ser isso? Com certeza, essa importância vem das inúmeras pregações da parte de um padre ou de um pastor a quem elas acolhiam e acomodavam em seus lares. Para essas comunidades apenas a atenção ao recado sobrou como resposta a esses tempos. Nesses casos as sensações que as comunidades passam esfriariam o animo de qualquer um. Não há pedantismo, não há evasivas, não há tecnicismo e não há prolixidade como se vê e como se ouve nos discursos de um politico ou de uma empresa. Os discursos políticos exaltam as pessoas para que elas saiam de sua “letargia”, contudo a “letargia” condiciona as pessoas pelos projetos nunca executados ou parcialmente executados e cujas explicações patinam.
 Imagem 01: Comunidade de Mangueira reunida para discutir questões relativas ao meio ambiente e reforma ágraria(Fórum Carajás)

Exaltar-se sempre remete a uma situação de exasperação. Interessa a setores políticos e a setores empresariais a exaltação porque com ela se manobra o exasperado. Manobra-se com todos os fins e por todos os meios como se vê constantemente, mas o que se pretende com a manobra é fazer que o outro saia do seu caminho para criar confusão em qualquer lugar menos ali onde interesses políticos e econômicos não rimam com participação político-social. A exaltação atinge a quem os interesses pintam como adversários. É de amplo conhecimento isso tudo porque as elites recorreram e recorrem a essa prática por décadas e por séculos.

As pessoas pedem, exigem ou suplicam por uma prática diferente de política não pela política, em si, mas sim pelo conhecimento sorvido da religião, da arte e da decepção com a política. A maioria das pessoas vê nesses três elementos a razão para que o individuo desista da vida pública e volte-se ou para seus interesses individuais ou para um interesse coletivo presente antes da institucionalização da vida social como ocorreu depois das revoltas burguesas.  A sociedade, então, regressaria a um mundo pré-consciência moderna.
Esse mundo pré-consciência moderna, como outros tantos mundos, existe em forma de renuncia. A renuncia de um mundo que, por um lado, levou a vida a limites de consumo e de realização social e que, por outro, destinou outras vidas a limites de pobreza e de violência. As pessoas fecham os olhos, achando que com isso as injustiças e o sofrimento desaparecem.

No dia 15 de março de 2012, a comunidade da Mangueira se reuniu com representantes do Fórum Carajás, dos STTRs de Chapadinha e Afonso Cunha e de comunidades próximas a ela para refletirem sobre as graves questões fundiárias e ambientais que assolam o Baixo Parnaiba maranhense. A área da Mangueira se se enfronha em quase dois mil hectares documentados em nome da família Lyra e outros mil sem documentação. O expressivo sucesso da família Lyra na vida politico-financeira de Chapadinha teve e tem sua face não revelada na situação em que vivem e viveram várias comunidades dessa cidade. Um dos assuntos que a reunião arrolaria dizia respeito ao pedido de vistoria feito pela comunidade ao Incra. Antes que entrasse no assunto, o vereador França Nilo, proprietário da Mangueira, apareceu e fez com que o assunto ficasse na espera pelo momento que ele saísse. Outras questões relativas a reforma agrária foram discutidas. O vereador permaneceu calado valendo-se de um morador contrário a desapropriação. Este perguntou se o que chegava aos mercados de Chapadinha provinha de Veredão, Vila Borges, Laranjeiras e Canto do Ferreira, assentamentos da reforma agrária. Ele comparou a situação dos assentamentos de Chapadinha com a época em que os Lyra e Bacelar mandavam nessas áreas e que havia muita produção de arroz. Ninguém ligou muito para a pergunta e por isso o vereador que filmara todos se retirou declarando todos ali como vagabundos. A atitude do vereador quase findou a reunião em violência porque a comunidade tomou satisfação e um dos que o acompanhava puxou um rifle de dentro do carro. Só não houve disparos porque Chico da Cohab pediu que se escafedessem dali.

A comunidade de Mangueira, município de Chapadinha, Baixo Parnaiba maranhense, confrontou-se em 2009 com a comunidade da Vila Borges por uma área de Chapada. Uma versão afirmava que aquela parte da Chapada se endurecia em muito mais que os 700 hectares nos quais a Vila Borges estabelecera sua posse em comunhão com os 2200 hectares desapropriados pelo Incra. Essa Chapada foi palco de conflitos sérios entre a Vila Borges e a família Lyra a qual detinha aquela e outras áreas de Chapada no município de Chapadinha. O vereador França Nilo, membro da família Lyra, atiçava a disputa para que os moradores da Mangueira se retirassem de seus mais de três mil hectares de Chapada.

O objetivo da manobra ia numa só direção: eliminar possíveis obstáculos futuros para uma possível transação da propriedade da família Lyra ou com um plantador de soja ou com a Suzano Papel e Celulose. Descobriu-se essa pretensão quando o patriarca da família Lyra convidou o senhor Buiu, presidente da Associação da Mangueira, para cortar umas madeiras no Brejo Grande visto que programavam vender aquela parte da Chapada para a Suzano. O Buiu não se exaltou. Fez que concordou e por detrás entrou com pedido de vistoria no Incra em conjunto com o STTR de Chapadinha.

Quando os funcionários da Suzano apareceram para demarcar a área que a empresa iria comprar, Buiu pediu que se recolhessem porque havia um pedido de vistoria protocolado no Incra. Como dizem, a porca torceu o rabo. Desde então, a família Lyra ameaça Buiu, sua família e os demais associados.

Por: Mayron Régis-Fórum Carajás

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