Projetos
agroextrativistas na linha de frente da agricultura familiar – Baixo Parnaiba
maranhense – Urbano Santos, Santa Quiteria, Buriti, São Bernardo e
Barreirinhas. O Cerrado e as comunidades agroextrativistas desfazem, de
pouquinho em pouquinho, a pretensão de que basta desenhar uma figura geométrica
sobre um papel e tem-se uma propriedade na Chapada. Antes que as monoculturas
se achegassem ao Cerrado, as comunidades intuíam os seus limites a partir da
utilização dos recursos naturais na Chapada e nos Baixões. Com a chegada das
monoculturas da soja e do eucalipto, esses anos, em que as comunidades fruíam
dos recursos naturais, viraram um mero assovio. A pessoa assovia para se apegar
a ou para se desapegar de algo? O assovio se desapega das intenções. O canto
difere do assovio porque requer uma elaboração consistente e porque é eivado de
intenções conscientes e inconscientes. A Francisca, presidente da associação do
povoado São Raimundo, município de Urbano Santos, desceu cedo para Anajás do
Garces, município de Barreirinhas, naquela manhã de junho de 2010. Ela atendia
um pedido do Fórum Carajás. Algumas comunidades do interior de Barreirinhas,
situadas ao longo da bacia do rio Jacu, fizeram as empresas terceirizadas da
Margusa recuarem em seus propósitos de desmatarem parte da Chapada localizada
no município de Barreirinhas. Os moradores do Café sem Troco, município de
Urbano Santos, aceitaram os desmatamentos e os plantios de eucalipto que beiram
suas casas. As intenções das empresas de reflorestamento se delineavam a cada compra
de terra e a cada desmatamento da Chapada. As empresas se sentiam como a linha
de frente que desobstruiria todo e qualquer obstáculo aos seus projetos de
comportarem milhares de hectares dentro de si. Em muitos casos, as comunidades
do Baixo Parnaiba maranhense sempre deram exemplos de insubordinação a esse
tipo de projetos e o caso das comunidades do rio Jacu reiterou essa impressão
de desobediência ambiental. O Edvan
Garcês, morador do Anajás, convocou um grande seminário que se realizaria em
frente a sua casa. Assim como a Francisca de São Raimundo, lideranças de comunidades,
de várias partes de Barreirinhas, precipitaram-se para Anajás. Elas evocaram
suas lutas contra a grilagem de terras. Diferente dos demais, a Francisca cantou
duas músicas sobre meio ambiente. Como não se maravilhar com aquele canto? A
linha de frente mudara de lado ao sabor da voz de Francisca do povoado São
Raimundo.
Mayron Régis
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