sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Defesa de ruralistas por petista indica contradição histórica


por ALCEU LUÍS CASTILHO (@alceucastilho)

O jornal Valor Econômico publicou nesta sexta-feira uma reportagem sobre bancada ruralista. Mais especificamente sobre o apoio dos ruralistas à candidatura de Henrique Eduardo Alves (PMDB) à presidência da Câmara. Até aí, nada de novo. Oligarquias apoiando um oligarca. No pé da matéria, porém, aparece uma afirmação que considero histórica em relação ao desenho das esquerdas partidárias no Brasil: um deputado petista em franca defesa de teses ruralistas.

Ele é o deputado federal Geraldo Simões, um defensor dos produtores de cacau. Não se trata apenas da defesa do setor específico, como ele tem feito no Congresso. Mas de todo um pacote ruralista, em sintonia total com a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). Da qual ele faz parte, como mostra o texto do Valor:

- Único petista a atuar no comando da FPA - é vice-presidente regional do Nordeste -, o deputado Geraldo Simões (BA), ex-secretário de Agricultura do governador Jaques Wagner, confirma haver preconceito do PT em relação aos ruralistas. "Isso decorre da nossa formação e ligação com a reforma agrária, agricultura familiar e sindicatos de trabalhadores rurais", afirma.

Mas defende que isso seja mudado. "É um preconceito que precisa ser removido. Estabelecemos relações com banqueiros, multinacionais, construtoras, qual o problema não estabelecer relação com esse setor, que é responsável por um terço do PIB. O PT deve fazer a revisão em relação a agricultura como um todo."

Também se coloca como favorável ao debate sobre a PEC das terras indígenas. "A Funai não pode ter esse poder absoluto, de desapropriar com base em um laudo complexo de uma antropóloga. Se o Congresso pode afastar presidente da República, por que não pode determinar o que é ou não é terra indígena?", conclui.


Simões não é o primeiro ruralista do PT. No livro “Partido da Terra – como os políticos conquistam o território brasileiro” (Editora Contexto, 2012), mostro que o partido possui vários latifundiários. Especialmente entre os prefeitos, mas também no Congresso, como o senador Delcídio Amaral (PT-MS). As contradições também são expostas, como a posição dúbia em relação ao Código Florestal.

Mesmo assim a defesa explícita de teses ruralistas, pelo deputado Geraldo Simões, pode ser considerada um marco histórico. A não ser que seja desmentida por outras lideranças. Sim, o governo federal (desde Lula) não tem sido o principal fiador de causas indígenas ou quilombolas. Mas acena para os dois lados: uma regularização de reservas aqui, uma repressão acolá.

Apoio à PEC ruralista contra a Funai e terras indígenas, porém, mais do que avança o sinal em relação às bandeiras históricas do partido. Lembremos que o PT surgiu também em um contexto onde a reforma agrária era uma grande causa. Até hoje o MST resiste em ser oposição, por conta do melhor diálogo que os movimentos sociais têm com Lula e os petistas – o que implica, em tese, menos repressão no campo.

Em Xapuri, no Acre, nos anos 80, um vereador do PT ganharia fama nacional. Ele foi candidato a deputado, em dobradinha com uma seringueira chamada Marina Silva. Seu nome, Chico Mendes.

No sul do Pará, o padre Josimo Tavares fazia igualmente campanha para o Partido dos Trabalhadores. Era atacado também por isso pelos latifundiários, refratários a uma Igreja influenciada pela Teologia da Libertação. Comissão Pastoral da Terra (CPT) e PT eram nomes confundidos no campo.

Padre Josimo foi assassinado em 1986. Chico Mendes, em 1988. Ambos vítimas da luta pela terra – como centenas de camponeses no Brasil, em plena era democrática.

Diante desse quadro ficam algumas dúvidas em relação à estratégia do deputado petista. Ele é voz isolada ou representa um setor crescente no partido? Eles estão apenas em busca de apoio à “governabilidade” ou já visam um eleitorado ruralista? Este já não estaria representado pelos partidos de direita?

Simões será desmentido ou teremos uma nova era? Dilma Rousseff, que cogita nomear a senadora Kátia Abreu (PSD-TO) para um ministério, concorda com o deputado? O PT está do lado da reforma agrária ou do agronegócio?

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