sexta-feira, 11 de janeiro de 2013
Ambientalistas tentam minimizar impactos da expansão da soja nos dois biomas mais diversos do país, a Amazônia e o Cerrado
Após se espalhar pelo Sul e Centro-Oeste nas últimas décadas, a soja agora avança pelo Norte e Nordeste brasileiros, mas encontra a resistência de ambientalistas, que tentam minimizar os impactos dessa expansão nos dois biomas mais diversos do país – a Amazônia e o Cerrado.
Em estudo publicado em 2012, a organização ambientalista WWF Brasil diz que hoje, entre os cinco Estados brasileiros que concentram os maiores focos de desmatamento em razão da soja, três são do Nordeste (Maranhão, Piauí e Bahia) e um da região Norte (Tocantins).
Ao avançar pela região, que entre estudiosos passou a ser chamada de Mapitoba (agregando as iniciais de cada Estado), a soja passa a ocupar o centro-norte do Cerrado, a última região do bioma em que ainda não estava presente.
O doutor em agroecologia Cássio Franco Moreira, coordenador do Programa Agricultura e Meio Ambiente do WWF Brasil, diz que hoje cerca de 50% do Cerrado já foi desmatado, “parte significativa em função da soja”.
Segundo ele, pequenos e médios produtores têm promovido desmatamentos ilegais na Mapitoba, que abriga as últimas áreas de Cerrado intactas.
Por ora, no entanto, ele diz que o plantio de soja na região é praticado em sua maioria por grandes produtores. Esses, afirma, são mais capazes de arcar com os desafios logísticos da região e costumam respeitar a legislação ambiental.
A postura reflete as cada vez maiores exigências de compradores, que não querem ser associados à destruição do meio ambiente.
Pastagens
Ainda assim, de acordo com o Código Florestal atual, propriedades no Cerrado podem usar até 65% de suas terras para a atividade agropecuária, o que abre margem para novos desmates, ainda que legais. Somente 3% do território do Cerrado está protegido por unidades de conservação federal ou estadual.
Moreira diz, porém, que o Brasil poderia expandir plantações de soja sem desmatar nada. Ele cita cálculo do governo federal que apontou a existência de 200 milhões de hectares de pastagens no Brasil.
Segundo ele, é possível transformar até 30% das áreas hoje ocupadas por pastos em plantações, sem prejuízos para os pecuaristas. “Há incentivos financeiros do governo para que isso ocorra.”
Enquanto isso, diz o coordenador da WWF, instituições ambientalistas têm negociado com grandes compradores mundiais da soja a conservação de áreas prioritárias do Cerrado.
Hoje, os compradores já concordaram em proibir a comercialização de soja produzida em áreas de floresta recém-desmatada, o que inclui área do Cerrado conhecida como Cerradão. Agora os ambientalistas tentam incluir na lista regiões do Cerrado com vegetação mais baixa e rala.
Caso consigam, Moreira prevê que, até 2023, serão desmatados 3% adicionais da área de Cerrado.
“Se expandirmos a produção de acordo com essas regras e se houver respeito ao Código Florestal, em dez anos podemos ter condições de negociar um desmatamento zero.”
Acordo na Amazônia
Na Amazônia, apesar da expectativa de expansão da soja nos próximos anos em Rondônia e no Pará, negociações entre compradores e ambientalistas já tiveram avanços mais sólidos.
Em 2006, a Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), a ANEC (Associação Brasileira de Exportadores de Cereais), o Greenpeace e outras entidades assinaram um acordo batizado de Moratória da Soja.
O acordo determina que, até janeiro de 2014, as 24 maiores empresas comercializadoras de soja, que representam 90% do mercado nacional, não comprem o produto de fornecedores na Amazônia que tenham desmatado após 2006.
“Acreditamos que o acordo foi um dos motivos para a diminuição no desmatamento na Amazônia nos últimos anos”, afirma Rômulo Batista, do Greenpeace.
Matéria de João Fellet, da BBC Brasil, republicada pelo EcoDebate, 10/01/2013
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