quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Os campos da consciencia em São Felix do Xingu, em Barcarena e no Baixo Parnaiba maranhense



 

 

Ele se retirou daquela loja porque não podia mais ficar tão perto daqueles livros. Ele se retirou ou bateu em retirada? Ele se retirou ou foi uma retirada estratégica? O livro “A Rosa o que é de Rosa”, do escritor paraense Benedito Nunes, despontara entre tantos livros que, em sua maioria, pouco representavam. O dinheiro era pouco para comprar o livro a não ser que pretendesse pegar um ônibus assim que chegasse em casa. Decidiu, então, não compra-lo. Retirou-se da loja, mas também se retirou para outros campos, talvez os campos de Dalcidio Jurandir “Chove chuva nos campos de Cachoeira” em Marajó ou talvez os campos alagáveis de Francisca em São Raimundo, município de Urbano Santos, onde se entenderia com e onde estenderia a sua consciência. A chuva o recepcionara em Xinguara, mas não chovera rapidamente. Ela se prolongaria até e deter-se-ia em São Felix do Xingu. Programara-se para comer um tucunaré á beira do rio Xingu. A equipe do IEB o moveria pelas ruas de São Felix do Xingu. Chegou perto do rio Xingu sem que o visse e sem que molhasse as mãos e os pés numa noite típica de chuva no sul do Pará. Eles desembarcaram em São Felix no dia 17 de fevereiro, um dia antes do seminário para o qual o convidaram. Os agricultores familiares de São Felix aprenderiam algo com ele e com sua colega de Barcarena que já não soubessem? As distancias entre São Luis e São Felix e entre Barcarena e São Felix os desafiara para provarem que aquilo a que se propunham, realmente, valorava-os. Ele saíra de São Luis, na madrugada do dia 17, mas atuava no Baixo Parnaiba maranhense, região em que comunidades agroextrativistas enfrentam empresas de reflorestamento com eucalipto e plantadores de soja. A Lindalva viera de Barcarena, município do estado do Pará, onde a população revirou a cultura politica para exigir das empresas do setor minero-industrial soluções para os graves problemas socioambientais que transformaram para pior o cenário da cidade. As suas explanações dariam uma amostra no que São Felix se tornaria caso a sociedade civil deixasse as coisas correrem como gostam o setor politico e o setor empresarial. Os setores politico e empresarial adoram quando a sociedade aceita de bom grado qualquer promessa e deixa as coisas correrem frouxa, sem nenhuma fiscalização. “Promessas são como bolachas: foram feitas para serem quebradas”, disse Oscar Wilde.   Tanto no caso de Barcarena como no caso do Baixo Parnaiba, os politicos e as empresas prometiam na condição de que os moradores se conformassem com o que viria em seguida ou o que não viria. As promessas de emprego e de melhoria na qualidade de vida em Barcarena não foram cumpridas e elas deram lugar a crise urbana e a crise ambiental. A sociedade civil de Barcarena começou a se organizar a partir do vazamento de caulim que ocorreu em 2007 na empresa Imerys Rio Capim Caulim. O vazamento provocou a morte de uma infinidade de peixes e a perda de qualidade dos recursos hídricos. O Ministério Publico Estadual recomendou a empresa o financiamento de diversas ações como forma de mitigar os impactos socioambientais. Para que as ações não refletissem apenas uma visão técnica era preciso fortalecer a sociedade civil de Barcarena. Desse fortalecimento emergiu o Fórum Intersetorial de Barcarena. A história do Baixo Parnaiba maranhense e das lutas das comunidades tradicionais contra as monoculturas se coaduna com a história do Fórum Carajás. O papel do Fórum Carajás como das organizações que compõe o Fórum do Baixo Parnaiba é fazer com que a história da região e das comunidades extrapole o circuito local. Quanto menos as lutas das comunidades tradicionais forem conhecidas mais os politicos e as empresas ganham com isso. Quanto mais isoladas as comunidades, menos informações trafegam por elas e entre elas. As monoculturas de soja e de eucalipto tomaram de conta de boa parte das terras publicas do Baixo Parnaiba pela desinformação das comunidades quanto aos seus direitos. Para reverter esse quadro, é preciso informação, formação e capacitação de forma continua. A área do município de São Felix do Xingu abrange oito milhões de hectares que são divididos em unidades de conservação, fazendas de gado, assentamentos da reforma agrária, terras indígenas e projetos de mineração. Esses atores se veem de acordo com seus interesses. Qual é o interesse de um empresário como Daniel Dantas proprietário da fazenda Santa Barbara que possui 200 mil hectares? É só criar gado? Há muitos interesses submersos na expansão da cadeia da pecuária no sul do Pará. Esses interesses não comparecem na hora de cobrar do poder publico investimentos em infraestrutura. Quem mais sofre com as estradas sem asfalto e cheia de buracos são os agricultores familiares que sentem dificuldades em expandir suas produções para vender ao PAA (Programa de Aquisição de Alimentos)e ao PNAE (Politica Nacional de Alimentação Escolar).

Mayron Régis

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