O
bispo da diocese de Coroatá, Dom Sebastião Bandeira assina Carta
Pública divulgada pela diocese denunciando os conflitos rurais e
tradicionais na região. O documento destaca que o bispo e os agentes de
pastoral exigem “das autoridades e órgãos competentes respostas
concretas frente ao acelerado aumento da brutal violência... que toma
proporções de verdadeiros conflitos armados”. Confira o documento na
íntegra:
CARTA DA DIOCESE DE COROATÁ FRENTE AO AVANÇO DA VIOLÊNCIA NO CAMPO
Justiça no Campo e Paz aos Pobres da Terra do Maranhão
O Senhor dos que combatem é conosco, está com a gente, Ele é nossa fortaleza, é o Deus que nos defende (Salmo 46).
Aos: movimentos sociais, povos e pobres da terra, quilombolas,
ribeirinhos, posseiros, assentados, autoridades constituídas, poder
judiciário, executivo, legislativo, aos homens e mulheres de boa
vontade.
1. O Bispo da diocese de Coroatá, Dom Sebastião Bandeira Coelho, em
comunhão com os agentes de pastoral, vem a público manifestar sua
preocupação e indignação, bem como exigir das autoridades e órgãos
competentes respostas concretas frente ao acelerado aumento da brutal
violência que atinge profundamente comunidades rurais da Diocese que
toma proporções de verdadeiros conflitos armados.
2. Muitos são os fatos que vem acontecendo nas diversas partes da
Diocese. As comunidades quilombolas de Santa Maria dos Moreiras e
Puraquê, em Codó e Aldeia Velha, em Pirapemas, são alguns dos exemplos
de comunidades que estão resistindo a longos anos as consequências da
escravidão. Em 31 de agosto de 2013, ocorreu a prisão ilegal do
trabalhador rural Francisco das Chagas Ferreira dos Santos, da
comunidade tradicional Livramento, em Codó, que foi conduzido pela
Polícia Militar do Maranhão em um carro do fazendeiro e permaneceu
algemado por mais de 8 horas. Em 12 de setembro de 2013, o camponês José
da Silva Pacheco, da comunidade Três Irmãos, Codó, foi procurado por
dois suspeitos, desconhecidos de sua comunidade, e por sorte, o mesmo
não se encontrava em casa. Em Vergel, também em Codó, três mortes já
ocorreram nos últimos anos, e nem mesmo inquérito policial foi
instaurado para apurar a morte do lavrador Alfredo, ocorrida em 2007, em
plena luz do dia, na porta de sua casa. Em Timbiras, o território
Campestre está sendo invadido por grileiros de terra, que promovem a
destruição das matas dos cocais, no entanto o INCRA, há mais de uma
década, não conclui o processo de desapropriação da área. Em Lago do
Coco, município de Matões do Norte, o quilombola Xavier Casanova é
permanentemente perseguido por grandes latifundiários, inclusive
empresários e parlamentares, pelo menos desde o ano de 1983! Quanto
sofrimento, quanta destruição, quanta dor!
3. Recentemente, no dia 14.09.2013, a sanha criminosa do agronegócio
promoveu na comunidade Campo do Bandeira, em Alto Alegre do Maranhão,
verdadeira guerra contra os lavradores. Durante todo o sábado, um bando
de jagunços, a serviço da Companhia Caxuxa Agropastoril, disparou
dezenas de tiros de escopeta, calibre 12, contra um grupo de 30
lavradores que nasceram e se criaram na localidade, em uma área de terra
devoluta, em processo de arrecadação sumária pelo ITERMA, que instaurou
procedimento em 2006 e nunca concluiu, e que foi grilada pelo antigo
proprietário, o ex-prefeito de Codó, Biné Figueiredo (PDT-MA). Em 2010, a
Fazenda Caxuxa Agropastoril foi adquirida, por um grupo empresarial do
Rio Grande do Norte, que comanda as ações criminosas contra os
trabalhadores rurais de Campo do Bandeira.
4. Segundo o Conselho Nacional de Justiça-CNJ, a região concentra, ao
lado do Baixo Parnaíba, o maior número de conflitos no estado e o
município de Timbiras concentra o segundo maior número de famílias em
conflito agrário. Frente a esta grave realidade, a presente carta é um
forte apelo pela paz e pela justiça no campo, em especial, às
comunidades rurais da diocese de Coroatá. Em continuidade, exige-se dos
órgãos fundiários, em especial do ITERMA e do INCRA, que realizem suas
missões constitucionais, a saber, realizar a Reforma Agrária e a
Titulação de territórios quilombolas, políticas públicas que foram
vergonhosamente abandonadas pelos sucessivos governos federal e
estadual, que sempre impulsionaram a expansão do agronegócio, em
detrimento de milhões de camponeses.
5. Na certeza de que a violência das armas não intimidará a promoção da
Paz, reafirmamos, como Igreja de Jesus Cristo, a missão e compromisso
proféticos de anunciar a Boa Notícia aos pobres em suas lutas por PÃO,
PAZ E JUSTIÇA.
Sebastião Bandeira Coelho
Bispo diocesano
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