domingo, 22 de setembro de 2013

As palavras que valem na Chapada







Por décadas, o nome Garreto assombrou parte do município de Urbano Santos. Ele se apropriou de milhares de hectares de Chapada e depois vendeu para a Marflora, braço florestal da Margusa nos anos 80. Houve resistências por parte de algumas comunidades que asseguraram pedaços da Chapada para sobreviverem. Nada comparável ao tamanho da área que o senhor Garreto se apossou: quinze mil hectares. A dona Teresinha, parteira e agente de saúde da prefeitura de Urbano Santos, cujo marido possui uma propriedade próxima aos plantios de eucalipto da Suzano Papel e Celulose, esclareceu que o Nego Garreto, para encerrar a questão, “deu” de maneira aleatória pequenas áreas a algumas comunidades. Claro, deixando o “filé” para a Margusa que comprou grandes extensões de mata por valores inexpressivos. Nessa época, o Nego Garreto não vendeu para a Margusa a fazenda Santa Rosa que, realmente, pertencia-lhe. Nas comunidades tradicionais de Urbano Santos não valiam palavras como direitos humanos ou direitos sociais. Valia a palavra do latifundiário que determinava as coisas quer fossem ruins ou quer fossem boas. Era um tempo em que a pessoa não apresentava documento de nada sobre qualquer ato seu. Essa prática perdura até hoje como se sabe. A Suzano Papel e Celulose que adquiriu o mundo de terras da Margusa em Urbano Santos e Santa Quitéria após a sua falência desmatou milhares de hectares sem que as licenças estivessem corretas. A Secretaria de Meio Ambiente nunca concedeu pleno acesso ao processo de licenciamento do empreendimento da Suzano Papel e Celulose no Baixo Parnaiba. Isso decorre, em parte, da falta de transparência e de coerência de um órgão cuja principal obrigação é zelar pelo meio ambiente. Quando o órgão ambiental fecha os olhos para as agressões ambientais em prol de uma “bendita” sustentabilidade financeira dada pelas grandes empresas, resta a quem é ou que pode ser atingido diretamente por essas empresas exigir seus direitos. O Nego Garreto e a Margusa/Marflora ao se constituírem donos de mais de quinze mil hectares de Chapada fizeram com que as comunidades se contentassem com “as misérias” que eles prometeram e as misérias naturais que depois de décadas de desmatamento e de plantio de eucalipto ocorreram. Pode se afirmar que todos os brejos e igarapés que formam os rios Boa Hora, Mocambo, Preto e Preguiças diminuíram seu volume de água porque os plantios de eucalipto se alastraram de maneira inclemente pelas Chapadas de Urbano Santos. O Nego Garreto se deu bem com os favores que prestou as empresas de reflorestamento. Não só ele. As empresas socorreram inúmeras figuras em tempos de  campanhas politicas. Entretanto, o patrimônio politico e o patrimônio financeiro do Nego Garreto diminuíram. A fazenda Santa Rosa, que sobrara nos anos 80, entrou nos seus propósitos de vender para a Suzano Papel e Celulose. Antes que o negócio se efetuasse, a comunidade passou a frente do Nego Garreto e pediu ao Incra que vistorie a área. Impossibilitado de vender a fazenda para a Suzano, os familiares do Nego Garreto enviaram pistoleiros para intimidar as famílias e com isso demove-las da ideia de desapropriação. Depois de inúmeras denuncias, os pistoleiros foram presos e as coisas se acalmaram em Santa Rosa. A Chapada de Santa Rosa se diferencia de outras como a de São Raimundo, no outro extremo de Urbano Santos, e, ao manter a posse da comunidade sobre ela, faz-se com que um trecho bastante preservado de Cerrado não seja substituído pela monocultura do eucalipto.    

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