sexta-feira, 6 de junho de 2025

Baixada maranhense

Ele subiu a rampa na calada. Extremamente compenetrado. Não desejava espalhafato para com sua presença. Entrou, sentou e proseou com o dono do sebo. Logo mais haveriam de se entreter com assuntos concernentes a região do Maranhão onde ele nascera. Sim, a baixada. O que era ser baixadeiro, perguntaram-lhe. Ser baixadeiro, no seu modo de ver, agir, pensar, conceber, de dizer, de achar, correspondia a uma convivência. Uma convivência com os campos naturais e, portanto, com a pesca que excede em meses de chuva. Outra pessoa em outra prosa tinha se expressado um tanto quanto parecido: que ser baixadeiro e gostar de farinha d'água, de andar descalço, de jabiraca seca, de pronunciar as palavras meio entortecido e meio sofrido. Para quem provém da baixada, caberia exaltar diariamente suas origens, seus trejeitos, suas obviedades, seus valores, seus modos, seus trajetos, suas amizades, suas preferências e etc como um exercício mental a que a pessoa se submete para não perder sua identidade de vista. Tem se em vista que a baixada progride em direção a água, doce ou salgada. As águas dos rios que desembocam na foz do Mearim ou diretamente no oceano atlântico. As águas que encobrem o solo seco dos campos a medida que o inverno avança. E nessa progressão rumo a água o baixadeiro não prescinde da convivência que estabeleceu com o ambiente por mais distante esteja e por mais incalculável seja o volume de água a sua frente.

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