sexta-feira, 6 de junho de 2025

senhor silva

O senhor Silva e um brejeiro. Ele se move pelas veredas com rapidez e agilidade. Ia bem a frente enquanto os outros iam vacilantes mais atrás. De uma hora para outra, o solo encharcou. Os pés grudaram no solo e saiam enlameados. O senhor Silva queria mostrar uma das cabeceiras do rio Magu, um dos afluentes do rio Parnaíba. Na noite anterior, chovera e a água da chuva molhou o solo e a molhadeira interagiu com a umidade natural da vegetação rasteira. A não ser o seu Silva, os outros andavam inseguros pelas áreas embrejadas. Atrapalhavam se como crianças com poucos meses de vida que aprendiam a andar. E tal qual crianças crescidas obedeciam o mais velho que apontava o caminho em direção uma das cabeceiras do rio Magu. "Ta bom seu Silva". "Ta bom, nada. Vocês não queriam ver água? Pois vamos vê lá". A área por onde se mexiam havia sido cercada como forma de proteger a cabeceira do rio Magu. O povoado Cabeceiras do Magu e um dos últimos povoados do município de Santana do Maranhão e extrema com Santa Quitéria. Quem tiver no povoado pode sair para Onça, Vertentes e outros povoados de Santa Quitéria. O cerrado dessa região difere de outros cerrados do baixo Parnaíba maranhense por ser regido pela secura enquanto os demais são regidos pela umidade vinda da amazonia. O bacuri que e uma espécie amazônica inserida no Cerrado foi quase extinto dessa região pelos desmatamentos provocados pelo agronegócio do caju eucalipto soja e capim. Áreas de cerrado foram transferidas (legalmente ou ilegalmente?) para o agronegócio nos anos 80 e 90. Por isso, quando perguntados se naquela chapada havia bacuri o seu Silva e sua família responderam muito pouco.

tamarino

O tamarino prega peças no senso comum do ser humano. Tinha tudo para ser uma fruta antipatizada e pouco lembrada entre as frutas nativas do Maranhão. Por conta da azedura do sabor e da aparência da fruta. Se alguém perguntasse sobre o sabor responderia "e azedo". Se alguém perguntasse da aparência responderia "estranha". O tamarino compõe parte das lembranças obtidas durante as férias de julho no município de Governador Eugênio Barros centro leste maranhense. Jogo de bola embaixo do tamarineiro e de outras árvores e para merendar tamarino sal pimenta de cheiro e vinagre. Coisa de criança que não tinham o que fazer e o que merendar. Coisa mais de meninos que desafiavam o padrão alimentar instituído. Descrever o formato e o gosto do tamarindo requer competência. Requer recursos literários e imageticos comparáveis aos de Guimarães rosa em grande sertão veredas que descreveu o Cerrado e que elevou o Buritizeiro as alturas de personagem literário. Quem sabe o tamarineiro tenha sorte e algum escritor se proponha a enaltece lo literariamente e ecologicamente. Porque o tamarineiro nos anos 80 exerceu uma função destacada na fisionomia da zona rural do Maranhão. Ainda exerce. Em uma viagem pelos povoados de Santana do Maranhão, baixo Parnaíba maranhense, Maria dos Reis celebrava com prazer cada tamarineiro visto a beira da estrada.

memorias

O indivíduo para crescer e tornar se um cidadão pede empréstimos financeiros de acordo com suas necessidades. A criança o adolescente e o jovem não pedem empréstimos financeiros e sim empréstimos subjetivos. Empréstimos de memórias, empréstimos de experiências e empréstimos de desejos/sonhos. Não há nada nessa vida que seja totalmente de alguém. Tudo que o adulto se tornou ele tomou emprestado da criança que fora e dos adultos com quem convivia. A memória do adulto passa pela memória da criança que lia qualquer livro/revista que caísse ou pusessem em suas mãos. "As memórias passam" e uma maneira de escrever que as memórias se movimentam a todo momento. O ato de escrever e uma tentativa de apreender alguns segundos dessas memórias. O que ele se lembrava do município de Santana, baixo Parnaíba maranhense? Que não havia soja nos limites do município mas por outro lado vários conhecidos de Santa Quitéria diziam que na zona de interseção entre os dois municípios uma área fora destinada para o agronegócio da soja. Bem próximo as cabeceiras do rio Magu, um dos afluentes do rio Parnaíba. O rio Magu não e um rio uniforme. E um rio sinuoso. Cheio de braços. Cercado por diversas porcoes de buritizeiros e acaizeiros. As raízes dessas duas espécies permanecem na superfície portanto debaixo das raízes avolumam se grandes quantidades de água. Cortar buritizeiros e acaizeiros faz com que a água não veja mais motivos para continuar a convivência com aquela terra. Tem se relatos de que buritizeiros vivem mais de 500 anos sobre as águas do Cerrado. Eles são as memórias das águas desse bioma.

o triunfo da razão

Nos livros, querendo ou não querendo, a razão sempre triunfa. Não a razão do autor, o que ele acredita. Uma razão anterior a do autor. Em todos os livros de mistério, espionagem, detetive, policial, descobre se a identidade do criminoso e as razões do crime. Numa situação normal, dificilmente se descobriria a identidade do criminoso e mais difícil ainda se descobriria as motivações. Escreva uma história e não adentre todos os recintos para ver o que acontece? Simplesmente a casa terá sinais de abandono ou de envelhecimento precoce. Uma casa tem vários quartos, tem vários banheiros, várias estantes, vários armários, várias mesas, vários copos, guarda roupas, sofás cadeiras tantas tvs tantos rádios e etc. Uma casa nunca será igual a outra por mais semelhanças tenham. As pessoas moram numa casa há muito tempo. Bote tempo nisso. Não vêem o tempo passar. Um tempo que não dão conta. Ah! a casa tenta manter o tempo a vista. Mantém relógios pelas paredes. Um relógio que pode ser visto do corredor central. Um relógio que pode ser visto da cozinha. Coma e conte o tempo. As horas são imprescindíveis para a história. A hora de acordar. A hora de rezar. A hora de dormir. A hora que abastece a xícara com café. A hora de abraçar. A hora de acender o fogo. A hora de molhar as plantas. A hora de ler o jornal. A hora que se foi. Uma hora a pessoa vai decidir o que realmente quer fazer da vida. Ela vai entrar em todos os recintos? Pedir licença e deixar os sapatos na soleira da porta? Vai varrer? Vai beber café? Juntar o lixo? Arrumar a cama? Não saberia explicar os porquês desta história. Era para ser uma história sobre o triunfo da razão. De onde veio essa ideia? E difícil contar uma história ou contar várias versões de uma história. Como também e difícil cuidar de uma casa, dos móveis, dos recintos, dos livros e das pessoas.

longe demais

"longe demais das capitais" cantava a banda gaúcha Engenheiros do Hawaii lá pelos anos 80. "Longe demais pra ir andando/Recife e São Paulo" cantava nos anos 90 Marmelo Sound System e Los sebosos postiços, projeto paralelo de integrantes da banda pernambucana Nação zumbi, que planejava gravar músicas de Jorge Ben. Na primeira música, uma visão melancólica e ressentida de uma cultura que se sentia totalmente afastada dos grandes centros. Na segunda música, uma visão debochada e periférica de culturas que se admiravam mas também se negavam. Em 1996, quando o mangue beat comecou a despontar no cenário musical brasileiro, com várias pernambucanas gravando disco/cd/clipes e fazendo shows em festivais pelo Brasil afora, mais quem queria botar o pé em Recife e bater o ponto na cultura musical. Comprar ingressos para o Abril pro rock, um dos principais festivais de música alternativa. Em um caderno de cultura de um dos principais jornais da ilha de São Luís, um release elencava algumas bandas que tocariam no abril pro rock de 1996. O mestre Ambrósio, que acabara de gravar e distribuir seu cd de estreia, era divulgado como uma banda de forro. Sim Alceu Valença e tantos outros haviam feito fusão de ritmos regionais com rock nos anos 70 mas estes anos pareciam ultrapassados. Os anos 90 retomavam construções estético culturais de anos esquecidos e bombardeados pelos anos 80. Isso soava inacreditável e por isso instigante. Afinal, dava vontade de viajar para Recife mesmo sendo longe demais para ir andando

paulinho da viola

O último cd de Paulinho da viola saiu no ano de 1996. Intitulado Bêbadosamba após um hiato de oito anos. Volte oito anos. O disco anterior, ainda não havia cd, data de 1988, eu canto samba. Os críticos se questionavam o porquê da demora de Paulinho em gravar novas músicas. Gravou se Bêbadosamba e Paulinho da Viola não grava músicas novas há inacreditáveis 29 anos.A não ser uns apaixonados pela sua obra, ninguém mais pergunta quando será o próximo cd. A nação zumbi se tornou referência para muitos em termos de música pop MPB rock música de vanguarda e já tem 11 anos que não lança um cd novo, só lançando cds de regravações de músicas de seus compositores favoritos como Jorge Ben através do projeto paralelo Los sebosos postiços. Daria para fazer um questionamento parecido. Tanto no caso de Paulino como no caso da Nação zumbi o que se salienta e que os mais velhos não querem mais saber de compor e gravar músicas novas. E bem provável que a lacuna entre os discos dos anos 80 e o Bêbado Samba de 96 derive da percepção de Paulinho da viola de que para o mercado fonográfico a música que cantava perdera o valor e a perdera a atualidade. Curiosamente, Bêbado Samba foi e e um tremendo sucesso. Peça uma música de Paulinho e a primeira a ser lembrada e Bêbado Samba que dá nome ao cd. Nessa música Paulinho explica os porquês de um certo auto exílio vivido no final dos anos 80 e metade dos anos 90. "Não sou eu quem me navega/ quem me navega e o mar". O mar representa o samba na obra de Paulinho da viola. O samba tradicional se tornou indiferente para o mercado e os consumidores portanto o samba de Paulinho também se tornou indiferente. Melhor dar um tempo e voltar na hora que sentirem falta. " Timoneiro nunca fui/que não sou de velejar". O consumidor e o mercado sempre esperam que o músico se torne uma referência político social. Paulinho da Viola nunca se comportou como velejador. Aquele tipo que vai uma hora ou outra velejar em seu barco. Paulinho da viola está mais para o cara que pesca ( letras e melodias) no fundo do rio ou na beira da mare do que para o cara que navega em alto mar.

praça joao lisboa

A história urbana de São Luís tem como um de seus epicentros a construção da igreja do Carmo no século XVII. Da construção da igreja e do largo vieram outras histórias que as pessoas quase nunca se recordam ou se recordam não tem elementos suficientes para fazer as conexões necessárias com a história atual. Todas as vezes que alguém atravessar a praça João Lisboa vindo da rua do Sol da rua da paz da rua grande da rua do Egito da rua de Nazaré da rua Afonso Pena e da avenida Magalhães de Almeida deveria parar alguns minutos olhar em volta e dedicar se a esses instantes. Quantas vezes esse alguém atravessar e quantas vezes esse alguém deve parar e analisar a praça João Lisboa, o entorno, a história urbana ( de onde vieram os primeiros moradores e como nasceu a cidade), a história do jornalismo e do pensamento intelectual ( estátua de João Lisboa), história das belas artes ( painéis, azulejos, telhados, portões, as frentes das casas e da igreja), a história da diversão (clubes), a história da comunicação (correios e telégrafos), a história dos transportes ( bondes e ônibus), a história da escravidão ( índios, negros, brancos, Pelourinho), história religiosa (igreja do Carmo), história do teatro ( teatro Arthur Azevedo), história da alimentação ( abrigo) história da arquitetura (casarões) e história econômica ( agências bancárias). A praça João Lisboa e a praça central de São Luís. O próprio nome João Lisboa expressa essa centralidade por se tratar de um dos mais importantes intelectuais e jornalistas ludovicenses do século XIX.

O problema dos portões no mercado das tulhas em são Luís do Maranhão

A história enquanto campo de conhecimento corre séculos mas a leitura que e feita dela muita das vezes e bem recente. Devido a interdição de trechos na parte interna do mercado das tulhas, centro de São Luís, por conta do risco de desmoronamento de pedaços do telhado e pedaços de parede sobre consumidores e sobre comerciantes, os portões do lado leste e do lado sul.nos últimas semanas de janeiro de 2025 permanecem fechados como forma de evitar acidentes. Normalmente, os portões abrem o dia todo e fecham somente a noite (com gente dentro). Em dias normais, os portões passam desapercebidos como se não existissem. Alguém abre os portões e alguém fecha os portões e está tudo resolvido. O consumidor só quer saber de adentrar o mercado para suas compras de artesanato, de almoçar ( peixes e mariscos, quem sabe?) ou tomar uma cerveja ( sozinho ou mal acompanhado ). Com os portões fechados, o consumidor se dá conta que o mercado possui portões e que eles estão lá por alguma razão. Quem circula pelo mercado deve achar que os portões sempre fizeram parte de sua estrutura construída em 1861. E possível que sim como e possível que não. Como sempre, a leitura da história aponta falhas na interpretação. Qual a importância de um portão ou mais de um portão para a história do mercado das tulhas ou para a história da praia grande? O portão sul que se encontra fechado era por onde se dava o fluxo de mercadorias vindas da zona rural ou dos subúrbios de São Luís. As carroças puxadas por burros ou caminhões estacionaram em frente ao portão e trabalhadores braçais carregavam para a parte interna do mercado. Presume se que esse fluxo intenso de mercadorias durou até os anos 50. Pois sim, o mercado das tulhas testemunhou a mudança do sistema escravista para o sistema de trabalho livre, testemunhou a valorização e a desvalorização do coco babaçu (seus subprodutos) e de outros itens da economia extrativista no Maranhão, testemunhou o transporte puxado a burros, o transporte feito por caminhões carros e ônibus, testemunhou a proibição de tráfego de automóveis.

a ponte

Ao atravessar a ponte e contemplar a passagem de um barco a vela naquele intercurso que liga o mar e o rio, não caberia uma questão: e possível chegar a algum conhecimento apenas com essa imagem ? A linguagem e a forma que o ser humano encontrou para chegar ao conhecimento. Isso é um pressuposto. Chico Science e nação zumbi gravou e lançou Afrociberdelia em 1996 e a primeira música do disco/cd e Mateus Enter, um manifesto estético. Em da lama ao caos, de 1994, monólogo ao pé do ouvido era mais um manifesto político. A letra de Mateus Enter : " eu vim com a nação zumbi/ao seu ouvido falar/quero ver a poeira subir/ e muita fumaça no ar/ cheguei com meu universo/ e aterrisso em seu pensamento". Mateus Enter e um manifesto mas também e uma passagem secreta entre as culturas ( de o enter e a mensagem será enviada no mesmo instante). O barco visto de cima da ponte veio de que parte da cidade ? Da camboa? Da liberdade? Da Fé em Deus ? Da Alemanha? Da vila palmeira? De uma cidade mal vista e mal quista? Antes da cidade ser construída, e com ela as estradas, as águas encurtavam o transporte de pessoas e mercadorias. Quem se lembra das mercadorias vindas de Alcântara que abasteciam São Luís? Quem se lembra dos peixes que alimentavam as pessoas pobres da periferia ?

deodoro da fonseca

Costumeiramente, a vida pública diz e representa muito pouco para o cidadão comum. A vida privada passa ao largo da maioria dos eventos históricos. A praça e um espaço público que os cidadãos atravessam sem se darem conta de sua história. Deodoro é o nome de uma praça onde os ludovicenses, aqueles que nasceram e criaram se em São Luís , capital do Maranhão, desembarcam todos os dias para irem ao trabalho ou para irem realizarem suas compras nas ruas do centro. Quem foi Deodoro ? Quem sabe que esse Deodoro e o marechal Deodoro da Fonseca que proclamou a República no dia 15 de novembro de 1889? O dia 15 de novembro virou uma data histórica comemorativa mas Deodoro da Fonseca aos poucos vem deixando de ser uma figura representativa de um momento de transição de um sistema político esgotado ( segundo reinado) para um sistema político que se propunha fazer mudanças sociais e políticas (República). A figura Deodoro da Fonseca rende atualmente indiferença como também rendem indiferença outras figuras históricas que não tem apelo midiático.

a praça

A praça o desapontou. A praça que fora inaugurada numa noite de 1985 pelo prefeito da cidade e pelo ministro do interior. A praça não tinha o menor senso estético. Esse discernimento passou pela sua mente um ano ou dois anos depois da inauguração numa caminhada que fez com amigos de suas casas a praça construída no final do bairro. Não fazia a menor ideia do que fosse senso estético, mas a visão da praça o indignou. Quer dizer que um prefeito e o ministro do interior vieram inaugurar isso ? Pelo menos para alguma coisa essa praça serviu. Ela delimitava um espaço físico social amplo para uma população que vivia em casas de pouco espaço. A praça também servia para contemplar o braço de mar que rocava a terra mais em frente. A contemplação daquele braço de mar perto de sua casa era totalmente diferente das vezes em que ia a praia com parentes para brincar. O mar perto de sua casa não estava para brincadeira. A vida daqueles que remavam por aquelas águas não era nenhuma brincadeira de crianca. Eles tinham que levar pesca todos os dias pra casa. O mar, o mangue, a floresta, os peixes, os caranguejos, os siris, os sururus, os sarnambis, as garças e etc estavam lá muitos séculos antes dos remadores e dos pescadores. Antes mesmos dos indígenas, dos franceses e dos portugueses que navegavam no século XVI e XVII.A inauguração da praça em 1985 pelo prefeito e pelo ministro fora tipo uma brincadeira para aticar a curiosidade do povo que queria ver e experimentar a forma como realmente o governo conduzia a administração de uma cidade.

açai

A grande sacada do mercado com relação ao açaí foi que não precisou patentear a espécie vegetal para efetivar a sua captura como se tentou fazer com o cupuaçu no começo dos anos 2000. O mercado só precisou capturar as potencialidades inerentes ao processo social e econômico, potencialidades estas que não eram devidamente estimuladas. Por muitas décadas a produção a distribuição a comercialização e o consumo se manifestavam apenas em comunidades rurais e tradicionais do norte e parte do nordeste brasileiros ou se manifestavam em núcleos familiares urbanos provenientes dessas comunidades. O açaí nunca foi uma unanimidade como pretende passar o mercado. A unanimidade e uma pretensão de sociedades capitalistas e pós capitalistas. Aparece uma música, um livro, um filme, uma comida e o mercado propala a unanimidade como a grande causa da cultura. As sociedades pre capitalistas e pre industriais trabalham mais pelo viés da diversidade. Em 2005, um professor da universidade federal do Pará defendeu a tese de que um açaí colhido em determinado acaizal não era igual a um açaí colhido num outro acaizal. As comunidades rurais quilombolas e indígenas se habituaram a tomar açaí com farinha seca camarão e peixe. Sem açúcar. A unanimidade que se verifica em torno do açaí vai muito pela lista de produtos que o mercado oferta para acompanha lo na hora do consumidor se servir e vários desses produtos são associados ao açúcar. Portanto a unanimidade publicizada pelo mercado e mais relacionada com a dependência pelo açúcar do ser humano.

jacama

Um amigo cobrou que em vez de falar graviola falasse jacama. Graviola rola pela boca das pessoas recentemente e compõe um vocabulário universal que qualquer um sabe. Fale de jacama para ver a reação de quem ouve. "Quê?". Jacama e uma palavra que frequenta há décadas as relações locais. Quanto mais antigo e mais distante dos grandes centros, mais fácil de esquecer. As diferenças entre o Maranhão e o restante do Brasil então se concentrariam na cultura Na alimentação na linguagem e nas artes. Distinguir jacama de graviola pelo menos na parte cultural serve para o maranhense se sentir por cima da carne seca com relação as demais regiões. O amigo nasceu no leste maranhense e essa origem social contribui para que ressalte determinados nomes e determinadas expressões. A jacama não e uma expressão comum no vocabulário maranhense. Pode ser comum em determinados trechos do Maranhão onde a jacama e encontrada como no caso do cerrado maranhense. Com a destruição do cerrado pelo agronegócio da soja a jacama tanto do ponto de vista da linguagem como do ponto de vista físico pode vir a ser extinta.

O APANHADOR DE BACURIS E PEQUIS

Queria poder relembrar todas as histórias que um dia fora presenteado. Em cada parada, uma pequena história está prestes a nascer e a ser contada por um ou por vários indivíduos de um jeito ou de outro. Gostaria de relembrar dos nomes e dos rostos desses indivíduos. Seus rostos formariam uma multidão. Seus nomes formariam um enorme livro ou uma enorme biblioteca. Uma conversa com eles leva horas, esquecendo o tempo. Não se vê o tempo passar e nem se vê o tempo chegar. O tempo que amadurece bacuris e pequis. O tempo de alguns meses. Não saberia contar esse tempo. Não saberia contar essa história. Quem realmente conta essa história é o apanhador de bacuris e pequis, aquele entre muitos que ainda pode contar uma história porque as histórias são pouco contadas hoje em dia.

Os pequis de Cancela

O interesse pelo pequi era mais recente. Não dispensava um arroz com pequi e uma galinha caipira. O interesse era mais do que gastronômico. Passou a ser social no dia em que visitaram a comunidade quilombola de Cancela, município de são Benedito do rio preto. A comunidade está impedida por uma decisão judicial de entrar em seu território tradicional onde planta as rocas e seus frutos. Uma decisão judicial de comum acordo com a defensoria pública que favorece o grupo de pecuaristas ansioso por se apossar de todo o território da cancela desmatar e plantar capim. A comunidade da cancela e um grande território quilombola onde vivem dezenas de comunidades. Como não podem colher as rocas e apanhar os frutos, a comunidade vive de doacoes de cestas básicas. E quando não houver mais doações ? No dia em que a comunidade relatou a situação pela qual passava, eles transportavam pequis apanhados no quintal de Vicente de Paulo na chapada do povoado Carrancas município de Buriti. Não comeriam todos os pequis (admirável quem comia 10 pequis de uma só vez) portanto resolveram doar parte dos pequis para a comunidade. Os moradores fizeram a festa. Se tivessem dito que no carro transportavam também bacuri aí a festa seria maior. As temporadas das safras de bacuri e pequi coincidem. Eles andam juntos ao mesmo tempo separados. O pequi ainda não virou uma fonte de renda como o bacuri virou, mas pode vir a ser uma excelente fonte de vitaminas como se viu no caso de Cancela.

NÃO MOVEU UMA PALHA

Todo e qualquer dito popular tem relação direta e intrínseca com a realidade social. Veja o dito "não moveu uma palha". Numa realidade como a maranhense em que há pouco tempo a maioria das casas da zona rural era coberta por palha de babaçu, essa relação e bastante óbvia. Para você erguer uma casa era imprescindível mover muita palha de babacu uma espécie vegetal que predominava ( a soja vem predominando atualmente,). Mover para derrubar. Mover para transportar. Mover para largar no chão. Mover para suspender. Mover para acertar sobre a casa. "Não moveu uma palha" e o lado negativo. Aquela pessoa que não fez nada numa realidade que todos fazem algo em prol do outro ou da coletividade. A relação entre dito popular cultura política e sociedade muitas vezes acaba esquecida. Não desta vez em que se visitou a comunidade quilombola de buriti dos boi município de Chapadinha. Os quilombolas se mudam durante a safra de bacuri, de janeiro a abril, para a chapada onde ergueram suas casas todas cobertas de palha de babaçu.

odisseia

A luta de mais de setecentas famílias pela desapropriação de quase 13 mil hectares da fazenda eldorado, em maos da Vale e da Suzano, revelou se uma verdadeira odisseia. Dessa forma, o seu Gato Felix liderança social da região Tocantina e dona Elka presidente da associação da comunidade eldorado fizeram um preâmbulo para desenrolar uma conversa com o fórum carajás e com o movimento mundial pelas florestas sobre monocultura e seus impactos junto ao meio ambiente e as comunidades tradicionais. A palavra odisseia faz com que a pessoa evoque a odisseia de Homero. Homero existiu ou não ? Não há certeza. Gato Felix existe. Ele prosseguiu e deu uma aula em que retomava cavalo de Tróia. A odisseia se tornou uma plataforma capaz de impulsionar comentários críticos do seu gato Felix e de Elka que arranharam a falta de políticas públicas por parte do estado no Maranhão. O Incra não assentou nenhuma família na região Tocantina. Pretensos proprietários reclamam a área chamada Cipó Cortado município de senador la roque mesmo não tendo direito. Famílias de posseiros foram expulsas em São Pedro da Água Branca a mando da Suzano papel e celulose. O Edmundo do movimento mundial pelas florestas ficou impressionado pelo nível de criminalização dos movimentos sociais exercida pela Suzano papel e celulose e ficou impressionado pela omissão do estado. Essa é a verdadeira odisseia no oeste maranhense que não fica nada a dever a odisseia de Homero.

Buchada de bode

Expressar o pensamento pela fala e de imediato. Expressar o pensamento pela escrita e mais demasiado e extraordinário. Sentados ao redor da mesa no comércio de dona Maria na ocupação Canna, fazenda eldorado, município de Imperatriz, ouvia e tentava se por no papel as palavras do seu Gato Felix que discórria sobre os modos de produção da buchada de bode e do bofe, comidas surgidas da confluência das culturas indígenas e brancas nos sertoes dos estados do Piauí e Maranhão. Sabe aquela história de que tudo parece fácil na hora que você escuta? Acontecia bem assim durante a fraseologia de Gato Felix. O que e a Buchada de Bode ? Um dos pratos mais esquisitos que já se teve conhecimento na face da terra. Só perde em esquisitice para a Maniçoba que se come em Belém do Pará. O seu Gato Felix tentou explicar e detalhar: "você pica, cozinha, joga no bucho, corta, costura". Entendeu ? "Perai seu Gato. Repete". " Você pica, cozinha, joga no bucho, corta, costura". Bem que tentou seu Gato. Essa esquisitice toda que se expressa até na hora de explicar o modo de produzir o prato reforça o quanto as realidades sociais e econômicas de estados como Piauí para e Maranhão mesmo próximas se mostram longe em termos de compreensão para o cidadão comum.

salete moreno

Não foi possível prosseguir ao assentamento Marielle pelo adiantado do tempo e pela distância, pois faltavam quinze quilômetros em uma estrada de chão que continha dezenas de pocas de água, mas por sorte pocas bastante rasas se bem que batia o receio todas as vezes que o carro enfiava a cara dentro das pocas. Era uma região por onde o agronegócio da soja e do eucalipto se alastrara muito fácil e muito rápido. Nessa estrada mesmo vários assentados venderam seus terrenos para plantadores de soja. Alguns poucos não venderam. Em uma audiência de conciliação, a empresa de produção de ferro gusa e plantio de eucalipto Viena propôs aos moradores da Marielle que aceitassem 70 hectares e desistissem da luta pelos milhares de hectares da fazenda em questão. 70 hectares só garante o lugar da moradia. E a produção das famílias? Atualmente a Marielle e um dos locais que mais produz mandioca na região. Se não foi possível chegar a Marielle, dava para aportar na ocupação Salete Moreno, nome dado em homenagem a uma militante do MST. Durante a conversa na Salete Moreno, ficou evidente uns detalhes. Que todos vieram de Açailândia após serem expulsos de uma ocupação a pedido da Suzano papel e celulose. Um dos que foram expulsos trabalhará em várias fazendas só que não tinha mais onde morar e trabalhar devido a modernização da economia rural. No dia anterior, eles haviam recebido a vistoria do juiz da vara agrária que julgava um pedido de reintegração de posse da parte de um pretenso proprietário. Aparentemente, a vistoria transcorrera super bem e tranquila na opinião das famílias só que no mesmo dia da conversa dos movimentos sociais com as famílias ficou se sabendo que o juiz aceitara o pedido do fazendeiro para retirar todo mundo. Parece que o juiz da vara agrária só quis passar um verniz de que sua decisão era isenta.

a invisibilidade

As populações tradicionais foram invizibilizadas (ou seja tornadas invisíveis). Recorre se a expressão invizibilizar na hora de se referir ao comportamento do estado para com comunidades tradicionais e quilombolas. O problema dessa expressão é que ela não permite que se va atrás de outras palavras que possam enriquecer o caldo do que se quer dizer. A melhor expressão seria as comunidades tradicionais e quilombolas foram (e são) ignoradas porque daí se puxa a palavra ignorância de imediato. O caso mais recente que não pode ser ignorado é o das comunidades quilombolas de Anajatuba. Elas foram sumariamente ignoradas pelo Estado do Maranhão em sua pressa de construir uma estrada que liga a sede de Anajatuba a foz do rio Mearim. Por mais que se propale e propague se a ideia de que a obra servirá para os moradores de Anajatuba é mais correto afirmar que a obra beneficiará a grilagem dos campos com seu cercamento e incentivara a criação de camarão em cativeiro(carcinicultura). Essa é a análise que os movimentos sociais e ongs fazem dessa obra. As comunidades quilombolas e tradicionais serem ignoradas pelo governo do Estado do Maranhão reflete mais a ignorância da parte deste por ignorar as atribuições constitucionais que lhe competem pois a preservação dos recursos naturais e a proteção dos territórios tradicionais devem ser algumas das obrigações ao que governo teria que se submeter. A estrada corta os campos naturais da ilha do teso que e um território quilombola e um território de pesca. Quem e o responsável pelo licenciamento e o estado que também conduz a obra. Ao licenciar e iniciar a obra sem consultar as comunidades quilombolas e sem pensar os campos naturais como um ambiente de grande biodiversidade o estado e seus órgãos se mostram ignorantes. Ignorantes com relação a dimensão humana e com relação a dimensão ambiental.

são domingos povoado de paulino neves

Ficaria fácil alcançar a comunidade tradicional de São Domingos se houvesse uma estrada em linha reta da sede de Paulino neves ao povoado. O que há e uma lagoa enorme obrigando as pessoas a darem uma volta circundando a lagoa. E um zigue zague. E um rally. Um motorista inexperiente se perderia ou ficaria preso no areal. O nordeste maranhense e uma região que se enriquece de lagoas e córregos. Quem não quiser contratar uma Toyota pode agendar com um dono de barco para atravessar a lagoa. E mais barato e mais prático. Antes da existência da estrada, as opções de deslocamento de são domingos e outros povoados para Paulino neves eram ou os barcos que atravessavam a lagoa ou um cavalo trotando ou o caminhar por alguns quilômetros. Pisar e levantar os pés em meio a um areal não e para qualquer um. Quem não está acostumado padece. Essa ainda é uma região carente de infra estrutura, mas se fica pensando o que acontecerá com ela quando a urbanização a todo custo e de qualquer jeito chegar. Um processo de urbanização que certamente entrará em choque com a história a cultura e a tradição dessa gente. Um conflito que já comparece e que traz no seu bojo a discussão modernidade e tradição como no caso da implantação de um parque eólico em Paulino neves que não escutou e nem respeitou as comunidades tradicionais que viviam da pesca no litoral de Paulino neves.

Seu Carlos

O seu Carlos sentia um desconforto nas costas que o impossibilitava de se levantar e levar a cerveja para a clientela que se sentara a frente do seu bar. Os clientes não queriam dormir cedo e caminharam um pouco mais de um quilômetro de onde dormiriam até o bar do seu Carlos. A caminhada fora feita sob a luz do dia percorrendo ruazinhas que atalhavam o caminho para chegarem ao bar no princípio da comunidade. Pelo sotaque, seu Carlos não pertencia ao povoado São Domingos, município de Paulino neves.Conforme o sentido da conversa, ele se perdera e achara se naquele povoado. O seu estabelecimento era um misto de comércio e de bar. Admitia que uma das razões para ter permanecido por mais de 20 anos em São Domingos estava ao seu lado. A sua esposa. Ele prometeu que na próxima vez que eles viessem contaria como parara ali. Essa história faz lembrar os personagens de Joseph Conrad, principalmente, a história que inspirou Lord Jim. Conrad, capitão de um navio mercante, avista um europeu vestindo um traje todo de branco num Porto do sudeste asiático. Quem era e o que fazia ali em meio aquela multidão?, perguntou se Conrad. Daí nasceu Lord Jim.

História e memória no Maranhão

Acaso a pessoa fosse solta num caminho sozinha, qual a chance desta pessoa retornar de onde partiu sem pedir informações? As chances quase inexistem. A não ser que o caminho seja uma linha reta ou que a pessoa tenha deixado marcas ou referências, a possibilidade de esquecer se avantaja comparada com a possibilidade de relembrar. Na volta da viagem sempre rolam algumas perguntas como aquela tradicional "como foi a viagem?". Outra que rola bastante e "o que trouxeste de recordação?". Todo viajante leva e traz consigo um baú, uma mala, uma mochila de recordações. O senso comum espera recordacoes materiais (bastante óbvio). Outros sensos aguardam recordações não tão óbvias. A narrativa e um tipo de recordação não tão óbvia ou um processo de recolhimento de recordações por aquele ou por aqueles que estão a ponto de não recordar mais. Do jeito que a coisa anda, e bem capaz de que a algum tempo a sociedade maranhense não tenha mais o que recordar não tenha mais o que levar e trazer de recordações em suas viagens. As expansões das fronteiras agrícola, energética e de infraestrutura que ocorrem pelo Estado do Maranhão e vista com naturalidade por vários setores da sociedade. E se e vista com naturalidade não há porque questionar a forma como essa expansão acontece. E se não há questionamento as pessoas deixam de conversar o que conversavam, deixam de ler o que liam, deixam de ouvir as músicas que ouviam e deixam de escrever o que escreviam.

A história das comunidades quilombolas e tradicionais no Maranhão

A humanidade não determina a história. A história e quem determina a humanidade. A visão de que a história e um livro que se encerra após a leitura da última página não corresponde a verdade. Os acordos celebrados por setores políticos, do judiciário, setores do ministério público celebram e advogam acordos em que comunidades quilombolas e tradicionais abrem mão dos seus territórios tradicionais em favor de grileiros grupos de soja e grandes empresas como aconteceu em baixão dos rocha município de são Benedito do rio preto e Juçaral município de urbano santos. As comunidades tradicionais e quilombolas vivem sobressaltadas com as ameaças de que se não aceitarem os acordos a justiça concedera liminares de reintegração de posse as empresas.

Regularização fundiária e titulação para comunidades tradicionais e quilombolas no litoral nordeste maranhense

Seu Vassoura, atualmente, mora em Morros e e militante da ACR (associação cristã rural) na região do Munim. Leu um texto e resolveu comentar: "Marrom ( não consegue dizer mayron ) estive por aquelas bandas de Urbano Santos que extrema com barreirinhas para falar com as comunidades tradicionais sobre a vinda desses projetos/empreendimentos que propalam a ideia do progresso. As comunidades, como resposta, diziam se trazem progresso e bom. Deu no que deu. As comunidades totalmente cercadas pelo eucalipto." Uma liderança política durante o seminário sobre energia eólica que foi realizado em São Domingos município de Paulino neves escancarou a verdade: "o grupo político que abriu as portas para o agronegócio em urbano santos venceu as eleições em Barreirinhas ( o município de Barreirinhas ao longo de anos aprovou leis que proíbem produção de carvão vegetal e o plantio de soja e eucalipto)". O município de Urbano Santos em consequência da não regularização fundiária em favor das comunidades vê seu território devorado pelos plantios de eucalipto soja e pela produção de carvão vegetal. O litoral nordeste maranhense e território indígena e a regularização fundiária e titulação feita pelo iterma em Barreirinhas Paulino neves Tutoia morros Icatu protegeram o modo de vida das populações tradicionais que vivem nesses municípios até agora. O iterma em uma reuniao recente em Barreirinhas prometeu regularizar mais terras. O órgão não tem feito regularização e titulação em nome de associações e sim em nome de indivíduos o que facilita a venda para o agronegócio. Então dá para imaginar o que vem por aí da parte do iterma.

Os parentes e os quase parentes de Beto

Seu Crispim reproduzia com certo conhecimento determinado fato: "Beto vinha de barco e atracava no Porto aqui de Embaubal e de surpresa aparecia em nossa porta." O quão era mais rápido ir de barco e desembarcar no Porto de embaubal, ilha de Tauá mirim, vindo do Coqueiro, em vez de pegar uma moto na comunidade de Portinho para chegar em poucos minutos a embaubal não fazia a menor ideia. Contudo, a mera menção a Beto chegando em embaubal sem mandar nenhum tipo de aviso para seu Crispim e sua esposa dona eugenia preparem se, fe lo ver que alguns tipos de relações familiares e sociais tradicionais resistiam e persistiam por mais mudanças sociais e inovações tecnológicas tenham sido assimiladas pelas comunidades ribeirinhas da região metropolitana de São Luís. "Beto e meu primo", revelou seu Crispim. Seu Crispim devia ser o milionésimo parente ou quase parente de Beto ao qual fora devidamente apresentado por aquelas bandas. Deparara se tantas vezes com o povo de Beto na região da VILA Maranhão Taim Rio dos Cachorros Porto Grande Cajueiro e Camboa dos Frades que pensava ser ele a grande raiz que sustentava todas aquelas comunidades na luta pela criação da reserva extrativista de Tauá mirim.

sabão de bacuri

Os bacuris estavam jogados ao chão como se tivessem sido esquecidos ou desprezados. Completamente despidos de qualquer sinal de carne. Uma coisa se aprende e ensina se: carne não é tudo. Na verdade, aqueles caroços de bacuri largados no chão de uma casa no povoado passagem do lago município de Paulino neves iriam virar sabão. Uma prática rotineira das comunidades tradicionais da zona rural do Maranhão. Vejam onde chegou o bacuri (chão) e de onde ele veio (alto). No alto, suspenso pelos galhos, confundindo se com as folhas do bacurizeiro, os bacuris crescem em volume e assumem cores imprevisíveis. A filha da Eliane, presidente do STTR de Paulino neves, chegou com três bacuris pequenos nas mãos. As tonalidades das cores dos três surpreenderam. O bacuri e uma das espécies mais imprevisíveis da flora seja pelo sabor que quase sempre e doce mas também tem os azedos ou seja pela capacidade de brotar em qualquer tipo de relevo. José Maria, militante da comissão pastoral dos pescadores, espantou se ao descobrir a presença de bacurizeiros em solo arenoso que e uma característica tanto de Paulino neves como de barreirinhas, municípios do litoral maranhense.

Sao Luís e Alcântara

São Luís e uma cidade que protege. Também e uma cidade que reclama a presença daqueles que partiram. Numa desolação de litoral, onde para achar um porto ou uma vila de pescadores se passava horas e horas, a única possibilidade de encontrar repouso tinha como certeza a cidade de São Luís. Acreditar se ia, realmente, tomando por base as gravuras e ilustracoes que o litoral brasileiro era densamente povoado pelos povos indígenas. Equívoco. Os povos indígenas viviam pra dentro. O litoral era pra pescar, navegar ou entrar em guerra. Não necessariamente nessa ordem. Sao Luís era a capital do Maranhão mas Alcântara por muitas vezes se sobressaia economicamente. Alcântara sustentava são Luís em termos de alimentos. No entanto, por mais punjanca Alcântara tivesse era São Luís que recebia os barcos vindos de fora e de São Luís saiam os barcos para Europa e para outras cidades do Brasil. Para quem fosse de fora, Sao Luís tinha seu receituário comportamental, como qualquer cidade, que abria as portas ou as fechava. Gonçalves dias foi um dos que viu as portas se fecharem para seus projetos individuais e por isso viajou para Portugal e para o rio de janeiro. Gonçalves dias era um mestiço, filho de português com indígena. Por incrível que pareça, qualquer menção a essa condição ainda causa desconforto para quem acha que não tem nenhuma ascendência indígena.

Alcântara

A cidade de Alcântara, a qual muitos esperam por os pés vindos pelo oceano em barcos artesanais, não e a mesma cidade de Alcântara de outrora ou de tempos idos. A única referência que tivera de Alcântara por toda infância e adolescência fora dada por um professor do marista de estudos regionais no ano de 1986. Terminava a faculdade e pesquisava a festa do divino, tema de monografia. Podia ter se contentado com as referências bibliográficas que existiam nas poucas bibliotecas da cidade de São Luís. Entretanto ele queria além da pesquisa bibliográfica também ver o casario histórico, casario em franco processo de degradação, casarões esquecidos, envelhecidos, desmoronados e desgastados. Infelizmente, seu projeto esbarrou num grande obstáculo. O mar. Pagou para pescadores o levarem em um barco. Na pior época possível, os meses de agosto e setembro, quando venta muito e a maré empurra os barcos para dentro do Mar e para fora dele (Como se o mar fosse engolir o barco com tudo dentro). Nem conseguia se levantar de tão mareado.

O dia certo para recordar ou o dia certo para viver

O dia certo para recordar os antepassados : dia de finados. O dia certo para viver e esbaldar se: carnaval. Quem se mudara para São Luís em busca de educação e trabalho via na baixada o seu recanto para esses dias de recordação e de festejo. Conversando com uma amiga, ela relembrou o irmão que organizava excursões para as pessoas que queriam brincar o carnaval na baixada. O carnaval de rua. As pessoas iam atrás da promessa de um carnaval genuíno, puro, familiar divertido e inesquecível. Aqueles que não tinham parentes e onde se encostar, dormiam tomavam café e almoçavam nas casas de amigos. Acabado o carnaval, o negócio era retornar as atividades em São Luís. O imaginário da baixada maranhense para os de fora se conformou nesses termos: lugar bom para se estar alguns dias, lugar bom para comer jabiraca e farinha d'água, tomar juçara, pescar nos campos cheios de água e etc. Esse imaginário condiz com a realidade? A baixada e um tremendo paraíso ? Ou como qualquer imaginário só existe na subjetividade? Daqui a dez ou vinte anos pode ser que esse imaginário de décadas passadas fique atrasado perante os projetos que se delineiam não só para a baixada como para todo o Maranhão: projetos de ferrovia, porto, energia eólica, produção e refino de gás, apropriação e aproveitamento da biodiversidade e dos recursos naturais, grilagem de terras, expulsão de comunidades quilombolas e tradicionais, agrotóxicos, inércia dos órgãos de regularização fundiária.

As várias vidas de um rio

Quase todo Eia rima tem um pouco de impostura científica falsidade ideológica, meia verdade porque quer liberar um empreendimento a qualquer custo, a qualquer preço e em pouco tempo. Um eia rima quer obter as licenças para a obra da hidrovia Araguaia Tocantins. Obteve a licença prévia e para obter a licença de instalação precisa cumprir 49 condicionantes. Um empreendimento que para obter uma licença precisa cumprir 49 condicionantes sócio ambientais devia ser classificado como um empreendimento anti meio ambiente. A hidrovia Araguaia Tocantins e um empreendimento para se despedir do rio Tocantins. Um rio inesquecível pelas suas praias, por suas comunidades ribeirinhas e por sua pesca, sendo a pesca a principal fonte de renda e de alimentação de milhares de pessoas que vivem ligadas ao rio dia após o dia. A economia proveniente do rio Tocantins tem mais valor que as cidades ao seu redor. E um rio cuja certidão de nascimento e incerta ele nasce no cerrado passa por inúmeros vales e planícies da Amazônia e desemboca em alto mar. Ele não tem uma vida própria. Ele tem várias vidas próprias que não cabem num eia rima fraudulento. Mayron Regis Brito Borges Presidente do fórum carajás e membro do conselho nacional da rede GTA

O princípio de tudo

As crianças surgiam no horizonte, longe vindos de seus afazeres na escola, mas não tão longe quanto o navio que aguardava liberação para atracar no porto. Elas andavam rápido em grupo, bem falantes. Dava pra ouvir. A normalidade dos seus movimentos por aquela beirada de praia semi deserta provocou aquele sentimento de ligeira dúvida quanto aquela vila para onde moviam seus corpos. Aqueles corpos, um aqui e outro acola, arrastando uma rede de pesca de camarão, nasceram na praia ou se mudaram para lá em razão de alguma dificuldade financeira? A atendente do bar vinha do cumbique, bairro vizinho. Ela pode ter ido de moto ou pode ter ido a pé, sabendo da disponibilidade de serviço. O andar e o princípio de tudo como se notava nos grupos de crianças e adolescentes voltando de uma manhã na escola. Os maranhenses andaram muito pela rua, pela praia, pelo centro da cidade, pelas margens dos rios. Eles andavam para irem ao trabalho. Andavam porque não sabiam ficar parados. Andavam porque os vizinhos chamavam para darem uma volta. A praia do olho de porco município de paço do Lumiar e um dos poucos espaços que ainda faz sentido andar como o princípio de tudo.

Baixada maranhense

Ele subiu a rampa na calada. Extremamente compenetrado. Não desejava espalhafato para com sua presença. Entrou, sentou e proseou com o dono do sebo. Logo mais haveriam de se entreter com assuntos concernentes a região do Maranhão onde ele nascera. Sim, a baixada. O que era ser baixadeiro, perguntaram-lhe. Ser baixadeiro, no seu modo de ver, agir, pensar, conceber, de dizer, de achar, correspondia a uma convivência. Uma convivência com os campos naturais e, portanto, com a pesca que excede em meses de chuva. Outra pessoa em outra prosa tinha se expressado um tanto quanto parecido: que ser baixadeiro e gostar de farinha d'água, de andar descalço, de jabiraca seca, de pronunciar as palavras meio entortecido e meio sofrido. Para quem provém da baixada, caberia exaltar diariamente suas origens, seus trejeitos, suas obviedades, seus valores, seus modos, seus trajetos, suas amizades, suas preferências e etc como um exercício mental a que a pessoa se submete para não perder sua identidade de vista. Tem se em vista que a baixada progride em direção a água, doce ou salgada. As águas dos rios que desembocam na foz do Mearim ou diretamente no oceano atlântico. As águas que encobrem o solo seco dos campos a medida que o inverno avança. E nessa progressão rumo a água o baixadeiro não prescinde da convivência que estabeleceu com o ambiente por mais distante esteja e por mais incalculável seja o volume de água a sua frente.

Os maranhenses vieram de onde ?

Não se sabia deles. Os maranhenses em geral não vão atrás do seu passado. Por falta de informação, por falta de interesse e por temerem o que venham a encontrar no meio do caminho. O Maranhão tanto podia ser o meio como o fim do caminho. Dependia do interesse da pessoa. Os nordestinos fugidos das várias secas do século XX saiam em cima de caminhão ou a pé percorrendo vários quilômetros. Em todo caso, a amazônia era o fim, desde o princípio. O fim da largada. O Maranhão passou a ser o meio pelas suas características ambientais que nem é tanto amazônia e nem é tanto cerrado. Um meio termo para os retirantes. Então as crises climáticas vinham empurrando sucessivos grupos para fora dos seus habitats naturais para uma direção fora de perspectiva. Despachados para um lugar que fugia das suas competências, eles paravam nas beiradas da Amazônia e no Cerrado. Beiradas porque sem saber onde pisavam preferiam lugares onde tivessem certa moradia comida trabalho recepção e água. Alguns desses lugares eram quilombos. Os retirantes acreditaram que fossem o lugar ideal para se reinventarem, esquecendo a carestia e a fome. Só que tinha um porém. Por força das relações sociais e políticas e econômicas, eram obrigados a dividir sua produção com os fazendeiros que os acolhiam. Essa obrigação durou um tempo e caiu em desuso pela decadência desses proprietários tradicionais. Para as comunidades tradicionais e quilombolas dos municípios de Parnarama e matões, bacia do rio Parnaíba, o problema agora é outro. A expansão da soja pelo cerrado, onde as comunidades conseguiam a madeira para construir suas casas, onde apanhavam o mel de abelha, onde soltavam seus animais, onde ajuntavam as frutas, onde pescavam e onde rocavam. Com a expansão da soja e o desmatamento do cerrado as chuvas escassearam e o lençol freático da comunidade quilombola de Cocalinho, município de Parnarama, foi contaminado por 9 produtos químicos utilizados nos plantios de soja ocasionando câncer de pele e doenças alérgicas e respiratórias na população.

seca verde

"Seca verde", expressão contraditória da língua portuguesa, mas por ser contraditória vale a pena ser analisada. Como a seca pode ser verde se ela provoca a perda da cor? Como o verde pode ser seco se o verde representa a cor da mata? Essa contradição se estabelece na ocorrencia de poucas chuvas que não favorecem o desenvolvimento das rocas. Chove o suficiente para esverdear o solo e para enganar quem não conhece a verdadeira face da natureza e da vida na roça. Partes do Maranhão e do Piauí vivenciam a "seca verde" nesse inverno de 2025. Esse fato leva a crer que possivelmente diversas comunidades passarão por dificuldades de produção comercialização armazenamento e consumo a partir das suas próprias rocas. Em São João, comunidade quilombola que compõe o território quilombola de Tanque da rodagem município de Matões bacia do rio Parnaíba o turibi vinha da sua roça com enxada sobre os braços quando topou com o povo do fórum carajás da reapi e ocorre diário que estavam gravando depoimentos para uma série de reportagens sobre o matopiba. "Só o feijão se salvou. Não tem chovido nada", alertou Turibi. "Como vai chover se tá tudo desmatado?". Floresta atrai chuva e as matas do Cerrado maranhense vem desaparecendo para dar lugar a soja. Em Matões, só os quase dez mil hectares de Tanque da rodagem sobreviveram a sanha de destruição dos plantadores de soja e grileiros de profissão.

Foz do Jaguarema

Provavelmente, a foz do rio Jaguarema foi bastante frequentada por centenas de pessoas que nos finais de semana vinham passear na praia do olho d'água, a praia mais visitada na ilha de São Luís nos anos 80. A foz do rio Jaguarema e a divisa que separa a praia do olho d'água e a praia do meio, a praia que fica entre a praia doolho d'água e a praia do Araçagi. A mania do ludovicense de dar nome a qualquer trecho de praia como se fosse o dono ou como se ele fosse um grande descobridor daquele chão. Andava se pela praia do olho d'água e deparava se com aquele fluxo de água que dependendo das circunstâncias podia ser só água doce ou predominar água salgada. Com a maré enchendo, haveria mais água salgada entrando continente adentro e também riscos de afogamento para quem quisesse se banhar ou atravessar para o outro lado. Para as crianças, a recomendação era não banharem sozinhas ou banharem na presença de adultos. Os corajosos subiam o leito do rio para verem como a mata se comportava. Não adentravam a mata, afinal não havia mateiros entre eles. Mais fácil, pisar a água e perscrutar em volta. Onde havia um curso de agua, viviam moradores que se abasteciam de água doce e desciam para a praia com a intenção de pescar.

um governo de pequenas obras e grandes custos

Um governo de pequenas obras e grandes custos Porque um governo que não possui as condições financeiro administrativas necessárias para iniciar uma grande obra ou fazer a manutenção da infra estrutura existente resolve gastar seus parcos reais em obras de qualidade duvidosa e que quando concluídas não receberão a manutenção adequada? A desculpa e que esses parcos investimentos trarão benefícios a comunidades da zona rural há bastante tempo apartadas de qualquer projeto de desenvolvimento econômico social. As comunidades que ficaram por anos a fio sem ouvir uma palavra de solidariedade e esperança e sem poder dar um pio de repente vem um governo e recompensam nas com todo o poder aquisitivo que dispõe. Chega sem avisar, não pergunta nada, compra o que acha que sabe das necessidades das comunidades, entrega e vai embora para nunca mais voltar. O que deixa e destruição ambiental, desvio de recursos, baixa eficiência na aplicação de recursos, politicagem e grilagem de terras. Isso permanece por muito tempo.

Praia do Tatu

Na comunidade da praia do Tatu, município de Paulino neves, recebeu se a informação pela boca dos próprios moradores que a prefeitura efetua de oito em oito dias, para estes, uma distribuição de galões de água que deverá atender suas necessidades de cozinhar beber banhar e etc. O que se comenta e que a demora em entregar a água para a comunidade decorre da dificuldade do trajeto principalmente no inverno quando os campos se enchem de água. As palavras divulgadas por quem faz a distribuição a mando da prefeitura induz as pessoas a verem e a pensarem a água, o mangue, a lama como inacreditáveis empecilhos que dificultam a passagem, o movimento, o transporte, o consumo entre outras coisas. E como tais empecilhos não podem ser removidos simplesmente restaria a comunidade desistir de suas terras e mudar se para Paulino neves. Se a comunidade tradicional da praia do Tatu tomasse a decisão de se mudar facilitaria e muito a vida do complexo eólico que já ergueu oito ou nove cataventos no território da comunidade e facilitaria e muito a vida dos criadores de gado que soltam seus animais no campo também no território da comunidade. A comunidade da praia do Tatu é uma comunidade tradicional porque suas práticas sociais ambientais econômicas remontam a práticas que seus antepassados exerciam décadas e séculos passados e no caso deles as práticas se ligam diretamente a agua e a pesca de camarão caranguejo e uma variedade de espécies de peixes.

recordaçoes

O Clayton recordava do dia em que se deu o contato deles com a chapada da baixa grande e do enxu, povoados do município de São Bernardo, baixo Parnaíba maranhense. O que Clayton se recordava era a delicadeza solene de uma flor de pequi. Para Clayton o momento mais inesquecível foi quando a pedido do fotógrafo Geraldo Iensen pararam o carro e puderam contemplar a flor por alguns minutos. Geraldo Iensen fotografaria detidamente a flor como se apenas um ângulo não fosse suficiente. eles se deslocaram por aquele ambiente árido e seco entre uma comunidade e outra num percurso que não saberiam dizer o tamanho. O pequizeiro que sustentou várias flores de pequi não existe mais, segundo Clayton porque plantadores de soja desmataram parte da Chapada vindos da Baixa Grande e planejavam esticar o desmatamento até o Enxu. Uma Chapada que e imensa podendo chegar a mais de 15 mil hectares. Se em 2012 o ambiente era muito seco como ficará depois desse desmatamento?

Projetos de infra estrutura no litoral maranhense

O processo de construção de grandes projetos de infra estrutura trazem potenciais benefícios para as comunidades e regiões envolvidas mas também podem trazer potenciais malefícios. E público e notoro que os malefícios podem ser mais duradouros que os benefícios. Pense o que ocorrerá com a baixada maranhense caso um porto seja construído em Alcântara e uma ferrovia faça ligação de Alcântara a Açailândia (esses sao processos muito duvidosos e discutíveis do ponto de vista legal moral e jurídico com mais jeito de especulação de que outra coisa). Na história recente do Maranhão, enumera se três grandes impactos a pesca artesanal : a saída das comunidades quilombolas do litoral de Alcântara por conta da implantação da base aeroespacial, a construção de portos e empreendimentos industriais ao longo da baia de são Marcos e o erguimento de uma linha de transmissão nos campos naturais de Santa Rita Itapecuru e Anajatuba. Os impactos se deram sobre a base social e econômica das comunidades quilombolas e tradicionais mas também se deram na superestrutura, a cultura. Quem luta pra sobreviver nem quer saber de cultura. A pessoa consome porque precisa comer. Isso e básico. A produção cultural e outro papo. E um outro patamar.

As cidades invisíveis

Um livro contém várias cidades ou e uma cidade que contém vários livros ? Se um livro contém várias cidades, uma cidade não é igual a outra porque se fossem iguais em seus múltiplos aspectos uma cidade desmoronaria e outra seria colocada em seu lugar sem que ninguém desse a menor falta. As cidades se diferenciam na forma e na escrita. Cidades invisíveis de Ítalo Calvino, por mais paradoxal que seja o titulo ( como saber de uma cidade se e invisível?), dispõe uma forma clássica. Marco Pólo narra para o rei Kublai Kan as várias cidades do seu império pelas quais passou. Marco Pólo narra sua viagem portanto e viajante e narrador. Kublai Kan e rei e ouvinte. Na narrativa, as cidades invisíveis se formam pela voz de um a pedido de outro. As cidades são invisíveis não porque não possam ser vistas e sim porque o rei as visualiza pela voz de Marco Pólo.

Sermão aos peixes

Demorou mas retornaram. Os peixes finalmente retornaram as comunidades da beira de campos naturais de Santa Rita. Eles abandonaram os campos naturais de Santa Rita Itapecuru e Anajatuba. Uma quantidade impensável de agricultores familiares pescavam nos campos naturais ou tinham seus proprios tanques para onde parte dos peixes que subiam os campos para reprodução seguiam. Os moradores dos campos naturais viram a pesca decair e os peixes sumirem como aconteceu na comunidade de Papagaio, campos naturais de Santa Rita. A situação era tão grave que os moradores que todos os dias tinham peixe fresco passaram a comprar peixe de cativeiro. A debandada de peixes aconteceu devido a instalação de uma rede de transmissão de energia da EDP empresa portuguesa de energia. A instalação foi favorecida pela secretaria de estado do meio ambiente do Maranhão que licenciou o empreendimento sem que estivesse presente no eia rima um estudo sobre a fauna aquática. Passou se um ano. Passaram se dois três anos e nada de peixes. Enfim, retornaram várias espécies para uma região que depende dos peixes. Os moradores de papagaio apresentaram problemas sérios de saúde por conta da falta de peixes. Passados cinco anos, uma especulação ameaça os horizontes dos campos naturais. A Eneva quer construir um gasoduto que passará pelos campos naturais de Santa Rita.

A chapada da floresta de pequizeiros

Até pouco tempo, não era possível separar as chapadas porque havia apenas uma chapada. A chapada do enxu que se interligava a chapada da baixa grande que se interligava a uma outra chapada e assim por diante. Uma Chapada formada de pequizeiros. A pé ou a cavalo, o calor soprava vilanias sobre o corpo. Se fosse procurar água na chapada, não acharia. A água sumira do leito dos rios. Tinha se a impressão que se andava sozinho pela Chapada. Engano. Por mais estranho que podia parecer, nunca se estava sozinho andando pela chapada. Um pequizeiro assombrava a vista. Uma floresta qualquer que seja carrega consigo um monte de assombração. E para onde vão essas assombrações quando a floresta morre?

Demorou mas chegou

A família do seu Ferreirinha, morador do povoado Brejão, município de Buriti, passou por poucas e boas desde que fora veiculada a notícia que o grupo João santos venderia a Chapada do povoado de mais de 2000 hectares para a família introvini no ano de 2016. Uma dessas poucas e boas foi o adoecimento de membros da família porque o seu ferreirinha lutava por 150 hectares sendo que o André introvini queria lhe entregar apenas 10 hectares. O caso mais sério de doença acometeu a esposa do seu Ferreirinha que vendo as ameaças que seu esposo sofria por parte dos funcionários dos Introvini começou a sentir problemas de pressão alta. A intenção dos Introvini e do grupo João santos era impedir que seu ferreirinha exercesse a posse do seu território de 150 hectares. A pressão era diária e vinda de dois grandes grupos empresariais: os Introvini, plantadores de soja, e o grupo João santos, empresa de cana. O grupo João santos em processo de falência desfazia se dos seus ativos e a chapada do Brejão agregava mais de dois mil hectares. As negociações entre os dois grupos prosseguiam para que a família introvini pudesse comprar desmatar e plantar em um curso espaço de tempo. A presença do seu Ferreirinha e de sua família dificultava um pouco esse cenário porque eles requeriam 150 hectares e os Introvini não queriam entregar nada. Conseguiram que quase todas as famílias abrissem mao dos 150 hectares para ficarem com 10 hectares, menos a família do seu Ferreirinha que se manteve firme na resistência contra os Introvini, a soja, o Grupo João Santos e a cana. O seu ferreirinha e família podem finalmente comemorar o reconhecimento dos 150 hectares pela justiça de Buriti com anuência dos advogados do grupo João santos que por anos perturbavam a vida dessa família.

seu ferreirinha

Seu ferreirinha talvez não saiba mas agora ficará sabendo. Ele foi uma das principais inspirações para o artigo "O rio e os pretos" escrito pelo jornalista mayron Regis, então assessor do fórum carajás, no ano de 2016. Inspirado pelo seu Ferreirinha que personificava naquele momento todos os pretos e o rio preto afluente do rio Munim que viviam e que vivem sob ameaça da expansão da soja. O seu Ferreirinha suportou nove anos de pressões exercidas pelo grupo João santos, que se intitulava proprietário do Brejão, e pela família introvini, que arrendou o Brejão, para que renunciasse aos seus direitos de posse de 150 hectares e aceitasse 10 hectares como fizeram muitos dos seus vizinhos. Ele reside nas beiras de babacuais e brejos na parte baixa do Brejão, mas sua posse de 150 hectares chega a parte de cima onde se verifica uma importante nascente. Se fossem necessários mais anos de resistência, com certeza, o seu ferreirinha arranjaria mais energia, tirando não se sabe de onde, para manter a luta contra o grupo João santos e os Introvini.

os anos passam rapido no baixo parnaib

Os anos vem passando rápido para o Baixo Parnaíba maranhense. O que custava dez anos para um dia acontecer, hoje custa menos de cinco anos. Em vinte anos, três grandes projetos do agronegócio tentaram se implantar no baixo Parnaíba maranhense e em suas bacias hidrográficas (Munim, preto, buriti e Parnaíba).O primeiro grande projeto foi o da Margusa/Gerdau que pretendia reflorestar com eucalipto 40 mil hectares de Cerrado em oito municípios que seriam convertidos em carvão vegetal para alimentar os fornos da empresa em Bacabeira no ano de 2006. O segundo grande projeto planejava plantar cana na bacia do rio preto pegando os municípios de urbano santos belagua e são Benedito do rio preto. O terceiro e último grande projeto que quis se fixar no baixo Parnaíba foi o da Suzano que plantaria mais de 40 mil hectares de eucalipto para serem cortados em pequenas estruturas chamadas de pellets que virariam energia térmica na Europa. Nenhum desses foi adiante por conta da resistência das comunidades tradicionais e quilombolas do baixo Parnaíba mas deixaram seus rastros de destruição. Esses foram projetos mais grandiosos por pertenceram a grandes empresas. O projeto da soja que devasta o e que se alastra pelo baixo Parnaíba e fragmentario por pertencer a vários grupos e pessoas. Não oferece uma imagem de projeto desenvolvimentista aos moldes antigos. A imagem e de enriquecimento rápido e de oportunidades que não devem ser perdidas.

que palhaçada é essa?

Quase sempre, o que move os interesses do ser humano não e o interesse público e sim a ganância pura e deslavada. Vejam o caso de um conflito agrário e ambiental em Mato grande, município de urbano santos. Uma equipe do iterma demarcava uma área da comunidade sem autorização da associação. A presidente da associação perguntou ao funcionário do iterma quem dera autorização. Ele de forma agressiva perguntou que palhaçada é essa. A presidente respondeu palhaço e o senhor. O filho da pessoa para quem os funcionários do iterma faziam o serviço puxou um facão ameaçando a presidente e seu irmão que nervoso gravava toda a situação. A associação do povoado mato grande detém um título de 250 hectares emitido pelo iterma e que já foi pago. A área da comunidade limita com a lagoa do Cassol, município de primeira cruz, ponto turístico.

chapadas de urbano snatos

As chapadas de urbano santos eram eloquentes em bacurizeiros. Essa eloquência mudou drasticamente nos últimos anos com os desmatamentos para plantios de soja que tornaram as chapadas irreconhecíveis. As chapadas localizadas na estrada de urbano santos para barreirinhas e nas estradas que vão de urbano santos para mata Roma e Chapadinha foram destinadas para soja em menos de cinco anos. Em 2010, um senhor entrou no assunto de que o bacuri estava em extinção. O seu irmão possuía uma propriedade no município de colinas colada ao parque estadual do mirador, onde nasce o rio Itapecuru. O que ele disse foi mais ou menos assim " que os bacuris não podiam ser cortados porque estavam em extinção". Achou exagerado a afirmação, mas vendo o que os plantadores de soja fizeram e fazem por todo o Maranhão passou a acreditar num futuro com pouco bacuri e caminhando para a extinção.

A inserção do Maranhão no mercado de gás

Nas festas de fim de ano de 2023, um táxi estava contratado exclusivamente para uma funcionária da Eneva que a representaria num evento organizado pelo governo do Maranhão e financiado pela empresa no teatro Arthur Azevedo. O táxi deixou a funcionária na porta do teatro e ficou marcando o registro enquanto aguardava. Um evento para poucos porque não houve divulgação ampla então era uma produção cultural para satisfazer os egos da elite e classe média. A indústria do gás vem desde a segunda década do século XXI se instalando no Maranhão e o fato relatado anteriormente exemplifica bem como se dá a inserção dos grandes projetos no ambiente social maranhense. A Eneva e uma empresa que extrai e processa gás em boa parte do Maranhão e tem pouca responsabilidade para com as comunidades onde realiza as suas atividades e tem pouca responsabilidade com a sociedade de maneira geral. Os quase quinze anos da indústria do gás inseriram o Maranhão no mercado internacional, mas o que realmente essa inserção mudou a realidade do Estado para melhor? Ou mudou para pior? A produção e beneficiamento de gás pela Eneva contribui em quanto para o agravamento das mudanças climáticas a nível regional e internacional? Os defensores da exploração do petróleo na bacia equatorial evitam ao máximo tocar nesse assunto.

nao sabia nada do autor

Não sabia nada do autor. O título"Sumário de plantas oficiosas" o atraiu e fez com que comprasse. O nome do autor : efren Giraldo, colombiano. Uma aposta arriscada, daquelas que você se arrepende por um bom tempo. Por sorte, o livro correspondeu as suas expectativas de uma boa leitura. Ele cita vários autores, como Clarice Lispector, que abordam em algum texto/livro de prosa ou poesia plantas reais ou imaginárias. Para quem adora ler e comprar livros, efren Giraldo solta várias frases e parágrafos lapidares sendo um deles este: "fico feliz que existam livreiros e livreiros". Numa cidade como São Luís onde livreiros e livreiros são bem poucos, essa frase deveria ser adotada por cada sebo. Incluiria nessa frase duas figuras : fico feliz que existam livreiros e livreiras, historiadores e historiadoras e agricultores e agricultoras familiares. Três tipos de profissões que desenvolveram relações com plantas/florestas. Sem florestas não haveria agricultura. Sem agricultura não haveria história e sem história não haveria livros. Só que a humanidade com o passar do tempo foi se esquecendo dessas conexões. Efren Giraldo não cita machado de Assis em seu livro porque não deve conhecer a alusão a um vegetal bastante presente as mesas: "ao vencedor as batatas" que aparece em Quincas Borba. Nem as batatas escapam da ironia de Machado de Assis.

marina silva

"A fala do senador Marcos Rogério (PL -RO) na Comissão de Infraestrutura do Senado, em que desrespeitou Marina Silva, Ministra do Meio Ambiente, aponta para vários sentidos. A frase foi "se ponha no seu lugar". O sentido mais premente era para ela se diminuir perante ele e seus “iguais”, porém, outros sentidos podem ser ressaltados. Como “o seu lugar não é aqui no Senado” (e olha que ela foi senadora). Outro: “aceite que a senhora perdeu, a senhora é minoria” ou “a senhora está sozinha”. Estes carregam forte conotação étnico-racial, como se dissesse “a senhora é mestiça [negra e indígena]” e “pobre” (ela foi vítima de malária cinco vezes, contraiu hepatite e leishmaniose e foi contaminada por mercúrio, chumbo e ferro em consequência do tratamento de leishmaniose). Os ataques dos senadores obedeciam a vários propósitos. O principal: rebaixar Marina Silva e o MMA que "impedem" o desenvolvimento da Amazônia, o asfaltamento de estradas, a exploração de petróleo e gás na foz do Amazonas, o plantio de monoculturas etc. Outro: mostrar que o Senado Federal em sua maioria escolheu um lado, o do agronegócio, o “o todo poderoso senhor agronegócio”. E que o Senado – o Congresso - não terá nenhum pudor ético, nenhum escrúpulo, a elevar o agronegócio a onipotência, onipresença e onisciência, prerrogativas divinas, em que pesem as desgraças climáticas que causa. Se for preciso apagar a história ou reescrever a história, por que não? Mas a história seguirá? Qual futuro estamos assim (des)construindo?"

a posse da chapada

Exercer a posse de uma Chapada também e exercer a memória dessa posse. Peguem um morador dessa chapada e um plantador de soja que quer desmatar essa chapada. Soltem eles dois sozinhos e vejam quem mais reconhece as plantas e as árvores que se estendem e que se encompridam pelo cenário. Onde se localizam os bacurizeiros que mais carregam frutos ? Que horas vocês saem para apanhar bacuri na safra? As chuvas foram suficientes para amadurecer os frutos ?Aquele e um pé de Janaguba ? Em que mês os pequizeiros florescem ? O plantador de soja vê apenas uma utilidade na floresta: virar carvão. Os agricultores familiares vêem utilidades sociais econômicas ambientais e históricas.

bastante comulm

Era bastante comum as casas urbanas em São Luís verem crescer em seus quintais alguma árvore frutífera. As vezes os donos plantavam, outras vezes nasciam por conta própria. As casas contavam com quintais amplos podendo assim plantar várias espécies frutíferas. A goiabeira era uma das árvores mais requisitadas porque não exigia tanto espaço, diferente de uma mangueira de uma jaqueira de um tamarineiro e de uma pitombeira. Passada a empolgação inicial de acompanhar o crescimento, a pessoa acaba pensando que seria melhor cortar a árvore porque caem muitas folhas e muitos frutos o que deixa muito resíduo no chão. A região do Turu, uma das mais antigas de São Luís e onde pessoas mantinham sitios, foi tomada por empreendimentos imobiliários. Uma das espécies que mais se destacava era o bacurizeiro. Em cada sítio, notava se a presença de vários indivíduos. Durante a safra, era prática comum os donos do sítio se fartarem de tanto comer bacuri manga goiaba jaca ou apanharem para distribuir aos parentes amigos e vizinhos. Nos últimos anos, a prática de apanhar frutas nos sítios da região metropolitana de São Luís vem sendo esquecida para dar lugar a prática do churrasco e do consumo de álcool.

pontos criticos

Bastante fácil abandonar as referências. Daqui por diante não se escreve mais tendo como base qualquer referência. O cine monte castelo foi uma grande referência para todos da cidade. Uma referência cultural e histórica. Num cinema a grande decisão histórica seria qual o melhor assento para sentar e assistir o filme.Fazia se cinema para poucos, tinha essa impressão. Poucos que podiam pagar. Estava escrevendo um texto em que sublinharia a historicidade do bairro do monte castelo. O nome do bairro citava a batalha do monte castelo que ocorrera na Itália durante a segunda guerra mundial e na qual os aliados venceram. Esse nome apontava para uma internacionalização da história. O Brasil participara da segunda guerra mundial do lado dos aliados. O nome Getúlio Vargas, nome do então presidente da República, dado a uma avenida que cruzaria o bairro apontava para outros aspectos da história : a urbanização da sociedade brasileira e a integração de todos os setores a vida social e a vida economica.

referencias

Bastante fácil abandonar as referências. Daqui por diante não se escreve mais tendo como base qualquer referência. O cine monte castelo foi uma grande referência para todos da cidade. Uma referência cultural e histórica. Num cinema a grande decisão histórica seria qual o melhor assento para sentar e assistir o filme.Fazia se cinema para poucos, tinha essa impressão. Poucos que podiam pagar. Estava escrevendo um texto em que sublinharia a historicidade do bairro do monte castelo. O nome do bairro citava a batalha do monte castelo que ocorrera na Itália durante a segunda guerra mundial e na qual os aliados venceram. Esse nome apontava para uma internacionalização da história. O Brasil participara da segunda guerra mundial do lado dos aliados. O nome Getúlio Vargas, nome do então presidente da República, dado a uma avenida que cruzaria o bairro apontava para outros aspectos da história : a urbanização da sociedade brasileira e a integração de todos os setores a vida social e a vida economica.

literatura

Para se falar de literatura, uma das referências, em termos de contextualização, era o nome Brasil enquanto espaço e território por ser descoberto e espaço e território em formação confirmação e construção. O nome Brasil supõe toda uma produção e uma carga intelectual artística e política que atravessou séculos. E certo que essa referência não e mais aquela como se aprendia nas escolas, nas universidades, nas empresas, nas famílias, nos livros, nas revistas e etc. O espaço mudou substancialmente. A descrição feita por um autor perde coerência no minuto seguinte a sua conclusão. As pessoas não reconhecem mais o espaço onde vivem onde se deslocamento e onde trabalham. A referência Brasil virou mais uma entre tantas referências numa arena em disputa. No caso do Maranhão, o nome Brasil sempre foi uma referência que passava a quilômetros de distância da realidade da maioria das pessoas.