segunda-feira, 27 de julho de 2015

O poder discriminatório do agronegócio nas terras rurais do Baixo Parnaíba Maranhense



A região de 21 municípios do Baixo Parnaíba – na mesorregião leste do nosso estado, grande parte das áreas em sua maioria chapadas é um espaço de disputas fundiárias no que se diz respeito à questão “terra”. O território de descendência cultural das comunidades tradicionais: quilombolas, ribeirinhos, brejeiros e chapadeiros, elas vem sofrendo um impacto ecológico e social causado diretamente pelo agronegócio do eucalipto e soja. O capitalismo selvagem e devastador puxado e financiado pelo setor agroexportador é na verdade o grande responsável e vilão por essas mudanças socioculturais e a “discriminação” das comunidades rurais.
      Intolerante além da conta, o agronegócio avança sobre as chapadas do Baixo Parnaíba, muitos assentamentos e áreas que estão em processo de titulações e regularizações para fins de Reforma Agrária são vítimas do veneno diabólico das imensas plantações de eucalipto e soja. Viajando para o município de Santa Quitéria saindo de Urbano Santos passa-se por alguns povoados como Mangabeirinha, Lagoa dos Costa e Bom Fim; naqueles caminhos o calafrio bate n`alma atravessando léguas e léguas de eucalipais. É triste ver as lamentações dos pouquíssimos pés de bacuris e pequis dentro dos campos dos monstros verdes e os disfarces enganosos das miúdas reservas detectadas pelo “EIA RIMA” que nunca funcionou. No fio de comparação é simples entender a realidade, basta respostas para as seguintes perguntas como: Qual é a diferença entre uma comunidade tradicional e a ganancia extrapolada das empresas plantadoras de eucaliptos que usam do poder e da violência para a expropriação das terras?  Entre um campo de eucalipto ou soja quem tem mais utilidade para o equilíbrio da vida e da biodiversidade? As populações se alimentam de produtos vindos da agricultura familiar ou dos sistemas monocultivistas destruidores dos ecossistemas? Fica mais que óbvio as respostas para tais perguntas. Os muitos problemas agrários e conflitos ainda não foram resolvidos, eles se arrastam e são frutos dos desacatos aos direitos humanos. Cemitérios são cercados por arames, os camponeses tem que pedir licença para enterrar seus mortos dentro de suas áreas sagradas. Os tratores e correntões operam todos os dias cortando árvores do baixo ao auto, assustando e botando pânico nos animais silvestres e nos homens e mulheres defensores e defensoras das chapadas como é o caso do recém-assentamento Bracinho que infelizmente apesar de já ser reconhecido pelo ITERMA, enfrenta pelejas acirradas com a empresa nos arredores dos picos e fronteiras demarcadas. Os trabalhadores rurais herdaram dos seus avós e bisavós as áreas de chapadas, matas e brejais, pois desde tempos bem remotos que estas populações tradicionais conseguiram dominar as práticas no extrativismo, pesca e agricultura, conhecem os capões de mato, os buritizeiros, as mangabeiras, puçazeiros e terrenos bons para a casa de subsistência, que não é predatória. Pode-se imaginar que essas terras não tinham fronteiras geográficas como as modernas de hoje em dia, mas possivelmente já existia naquele tempo o chamado respeito. Esses respeito que não se ver mais nesses nossos dias; enxerga-se apenas a ganancia, a globalização e desacatos constantes. As técnicas e saberes culturais das comunidades tradicionais devem ser mais valorizadas, a palavra é essa “valorização”, os produtos da roça são os que sustentam as mesas dos brasileiros, mas infelizmente os recursos destinados aos homens e mulheres do campo são resumidíssimos e quando chegam a valer; já os grandes planos para a monocultura, estes tem um olhar especial dos governos.
      Esta realidade hedionda de maltrato em relação aos camponeses e camponesas só pode ser combatido com um grito alarmante dos movimentos sociais do campo, em Brasília com a Marcha das Margaridas, Grito da Terra Brasil, Grito da Terra Maranhão, espaços e seminários, encontros de comunidades rurais, lutas das dioceses e paróquias, centros de defesas da vida, CPT, STTRs e acima de tudo a militância por concretizações de direitos sociais vinte e quatro horas lideradas pelos próprios membros das comunidades junto aos órgãos competentes. O Território Livre do Baixo Parnaíba foi criado e desenvolvido há milhares de anos. Quem dele vive, viveu e sobreviveu... com certeza sonhou e sonha que seus filhos e filhas viveriam e sobreviveriam como pessoas dignas de respeito e direitos.

Descrição: C:\Users\SINDICATO\Pictures\JOSE ANTONIO BASTO Pasta\BASTO POETA.jpg                                   José Antonio Basto
                                               Militante em Defesa dos Direitos Humanos e da Vida
                                               Email: bastosandero65@gmail.com
                                               (98) 98890-4162

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