Avistava-se ela ali e acolá
com seus bacurizeiros e pequizeiros tortos e resistentes ao sol escaldante; a
caminhonete roncava rasgando as trilhas quase que fechadas pelas comunidades
Bom Fim e Bebedouro. Infelizmente naquelas veredas a ótica batia também sobre a
desgraça da monocultura com seus monstros verdes (eucaliptos) que nada trazem
de bom para os camponeses. Aquele pedaço do Baixo Parnaíba relembrara a grande
luta pela posse da terra que a gente do Bracinho travara contra a Suzano desde
o início da questão. A peleja começava ainda em 2006 quando o Irmão Francisco e
seus companheiros rondavam fiscalizando os variantes da chapada que desce até o
brejal. Criava-se então ali a “Associação Comunitária Gabriel Alves de Araújo”
para o fortalecimento e resistência. Os representantes da Suzano vendo o avanço
e a força dos trabalhadores ainda tentaram enganá-los com 400... 600 hectares,
nada de acordo feito. Em 2011 o conflito foi ao extremo, os camponeses de um
lado e os capangas da empresa do outro, não houve negociações, pois os
lavradores sabiam de seus méritos garantidos que as terras devolutas do estado
na região do Bracinho eram suas por direitos de posse ancestral, já viviam dela
há décadas e décadas. Foi, portanto formalizado em nome da associação um pedido
de vistoria pelo ITERMA – a fim de resolver o problema. Quando os técnicos
fizeram o trabalho de vistoria descobriu-se através do laudo que aquelas
grandes faixas de terras que a Suzano pretendera tomar para si, principalmente as
chapadas visadas para as plantações de eucaliptos, foram na verdade demarcadas
e tituladas para fins de Reforma Agrária, a associação por fim recebeu em 2014
o tão esperado título de 3.390 hectares de terras, sendo este um dos maiores
projetos de assentamentos do estado na região do Baixo Parnaíba, as mais de
quarenta famílias tem agora um lugar sossegado para morar e trabalhar com seus
futuros projetos e no tempo colher bacuris a vontade na chapada. A penúltima
vez que estive no Bracinho foi com o pessoal do Fórum Carajás para celebrar com
um almoço maravilhoso a vitória e o triunfo do título da terra. Ontem retornei
mais uma vez desbravando todas aquelas belas chapadas floridas e limpas para
mais uma reunião com os trabalhadores e trabalhadoras rurais. Durante a reunião
eles relembraram os momentos difíceis que enfrentaram, até lágrimas caíram das
faces das senhoras mais idosas que estiveram na linha de frente tentando barrar
os tratores da empresa naquela época. Humildes de coração, não deixaram de
acentuar com ênfase o grande apoio que os órgãos de defesa dos direitos humanos
deram naquela peleja, como a Sociedade Maranhense dos Direitos Humanos e o já
citado Fórum Carajás - as reuniões debaixo do velho pé de mangueira onde se
tratava dos assuntos da terra. Essa viagem de ontem, 12/07/2015 – foi bastante
proveitosa, o almoço capão caipira, como sempre transferiu o sabor incomparável
da culinária tradicional das comunidades, sabores de frutos das chapadas e da
biodiversidade. Após o fim da reunião voltei pelos rastros em direção à
comunidade Formiga pelo outro lado do Bebedouro. Os caminhos eram rudimentares
até adentrar novamente pelas chapadas a fora, naqueles lugares onde o problema
do agronegócio é tremendo, as chapadas e as populações vivem na resistência de
suas vidas, os seres que habitam o espaço já não mais podem se esconder. Essa
foi mais uma experiência dos trabalhos de militância em defesa dos direitos
humanos e da vida. O quadro natural das chapadas no Baixo Parnaíba se formou há
milhares de anos atrás com o poder divino e a força da natureza, hoje em dia
vive ameaçado pela intolerância do setor capitalista que só pensa em lucros não
respeitando o meio ambiente, a soberania e os direitos culturais e sociais das
comunidades tradicionais.
José Antonio Basto
13/07/2015
(98) 98890-4162
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