terça-feira, 14 de outubro de 2014

Chapadas e carrascos da comunidade Riacho Seco



Riacho Seco, como a própria nomenclatura já explica tudo, é um povoado na costa da chapada e do carrasco que liga as comunidades tradicionais de Santa Rosa, Bacuri da Jujú e São José. Os trabalhadores de Riacho Seco vivem das roças de agricultura familiar e do extrativismo da polpa do bacuri.
Há algum tempo atrás quando eu era criança visitava muito aquela região caçando murta e murici, quando chegava à época da colheita do bacuri todo mundo ganhava o chapadão com côfos e jacás, muita fartura se via por lá naquele período inicio da década de noventa.  Hoje ainda resta muito bacuri na região, mas a exploração predatória é de mais, muitas pessoas estragam o bacuri verde numa ganância sem limite, na verdade os moradores que usufruem da chapada deveriam ter mais consciência ao tratar dessa questão, a chapada é de todos, mas não esquecendo que ela também precisa de proteção -, uma vez que não sabe falar. No carrasco se pode encontrar espécies de animais como a cotia, peba, tatu, veado, caititú e mambira; pássaros como o bico-de-agulha, cacuruta e galo-de-campina, jucú e arancuã. Com o fim e limites da chapada em relação ao brejal ainda encontra-se na cabeceira da grota bicuíba espécies vegetais como o guarimã, pirinã e mangaba; madeira de lei como a candeia e batinga. O riacho atravessa a chapada e desce em direção aos cocais cortando muitas áreas de matas densas. A mata é apropriada para armadilhas como o quebra e arapucas, uma tradição passada de pai para filho na região. O gado dos moradores que pastam na chapada hoje em dia tem muito capim para sua alimentação, mas ainda existem pedaços extensos do carrasco e da chapada queimada por maldade. As vezes os vaqueiros botam fogo no pasto já seco para nascer novos brotos para os bichos, onde na verdade o fogo sem controle adentra quilômetros e quilômetros amedrontando até os moradores. Uma vez a casa do Sr. Nelito foi queimada por um desses fogos violentos, ele e Dona Graça estavam na roça, um fogo desceu da chapada e atingiu a casa de palha queimando tudo, muitos moradores vizinhos ficaram apavorados com o acontecido. Mais uma vez foi comprovado que eles devem vigiar a chapada e ter bastante cuidado com esses delitos. Existe uma associação dos trabalhadores no campo da comunidade que entrou com um pedido de regularização fundiária de 725 hectares pelo ITERMA, aguardam ainda resposta. A comunidade precisa ficar de olho abertos porque a gauchada da soja estar do outro lado no povoado Bacuri da Jujú, ´pois parece que alguns deles já andaram visitando a região com vontade de futuramente comprar. Uma boa parte da chapada pertence a pequenos proprietários que herdaram de seus ancestrais.   A chapada merece respeito e atenção, são poucas as áreas que ainda restam em nossa região. A Suzano, que domina boa parte das chapadas no município de Urbano Santos com o plantio de eucalipto, nunca fez nada para proteção do bioma, e agora os gaúchos que vieram do sul do país para querem devastar num sistema de desacato aos direitos humanos e da vida.
Com toda essa dificuldade de aquecimento global, ainda sonhamos com um mundo melhor, com nossas chapadas limpas e preservadas longe do agrotóxico e do correntão. O cerrado de Riacho Seco tem essas características que só a mãe natureza tem a capacidade de produzir. No momento em que cada um fizer sua parte na proteção dos recursos hídricos e vegetais  teremos a pura convicção que um outro mundo é possível. (José Antonio Basto – 14/10/2014)

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