Riacho Seco, como a própria nomenclatura já explica tudo,
é um povoado na costa da chapada e do carrasco que liga as comunidades
tradicionais de Santa Rosa, Bacuri da Jujú e São José. Os trabalhadores de
Riacho Seco vivem das roças de agricultura familiar e do extrativismo da polpa
do bacuri.
Há algum tempo atrás quando eu era criança visitava muito
aquela região caçando murta e murici, quando chegava à época da colheita do
bacuri todo mundo ganhava o chapadão com côfos e jacás, muita fartura se via
por lá naquele período inicio da década de noventa. Hoje ainda resta muito bacuri na região, mas
a exploração predatória é de mais, muitas pessoas estragam o bacuri verde numa ganância
sem limite, na verdade os moradores que usufruem da chapada deveriam ter mais
consciência ao tratar dessa questão, a chapada é de todos, mas não esquecendo
que ela também precisa de proteção -, uma vez que não sabe falar. No carrasco se
pode encontrar espécies de animais como a cotia, peba, tatu, veado, caititú e mambira;
pássaros como o bico-de-agulha, cacuruta e galo-de-campina, jucú e arancuã. Com
o fim e limites da chapada em relação ao brejal ainda encontra-se na cabeceira
da grota bicuíba espécies vegetais como o guarimã, pirinã e mangaba; madeira de
lei como a candeia e batinga. O riacho atravessa a chapada e desce em direção
aos cocais cortando muitas áreas de matas densas. A mata é apropriada para
armadilhas como o quebra e arapucas, uma tradição passada de pai para filho na
região. O gado dos moradores que pastam na chapada hoje em dia tem muito capim
para sua alimentação, mas ainda existem pedaços extensos do carrasco e da
chapada queimada por maldade. As vezes os vaqueiros botam fogo no pasto já seco
para nascer novos brotos para os bichos, onde na verdade o fogo sem controle
adentra quilômetros e quilômetros amedrontando até os moradores. Uma vez a casa
do Sr. Nelito foi queimada por um desses fogos violentos, ele e Dona Graça
estavam na roça, um fogo desceu da chapada e atingiu a casa de palha queimando
tudo, muitos moradores vizinhos ficaram apavorados com o acontecido. Mais uma vez
foi comprovado que eles devem vigiar a chapada e ter bastante cuidado com esses
delitos. Existe uma associação dos trabalhadores no campo da comunidade que
entrou com um pedido de regularização fundiária de 725 hectares pelo ITERMA,
aguardam ainda resposta. A comunidade precisa ficar de olho abertos porque a
gauchada da soja estar do outro lado no povoado Bacuri da Jujú, ´pois parece
que alguns deles já andaram visitando a região com vontade de futuramente
comprar. Uma boa parte da chapada pertence a pequenos proprietários que
herdaram de seus ancestrais. A chapada
merece respeito e atenção, são poucas as áreas que ainda restam em nossa
região. A Suzano, que domina boa parte das chapadas no município de Urbano
Santos com o plantio de eucalipto, nunca fez nada para proteção do bioma, e
agora os gaúchos que vieram do sul do país para querem devastar num sistema de
desacato aos direitos humanos e da vida.
Com toda essa dificuldade de aquecimento global, ainda
sonhamos com um mundo melhor, com nossas chapadas limpas e preservadas longe do
agrotóxico e do correntão. O cerrado de Riacho Seco tem essas características que
só a mãe natureza tem a capacidade de produzir. No momento em que cada um fizer
sua parte na proteção dos recursos hídricos e vegetais teremos a pura convicção que um outro mundo é possível.
(José Antonio Basto – 14/10/2014)
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