sexta-feira, 10 de outubro de 2014

A tocaia e a peixeira dos lavradores do Assentamento Mangueira







Falar de conflitos agrários na Região do Baixo Parnaíba Maranhense é sempre uma questão polêmica. E para acentuar essa página relembramos com convicção a luta travada entre a Associação dos Trabalhadores Rurais do Assentamento Mangueira contra a antiga Florestal LTDA na década de 80. A associação na época era liderada pelo companheiro trabalhador rural Manoel Américo que esteve sob a mira de revolveres de capangas da empresa.
O fato de se deu no período em que a Florestal chegou na região, com o apoio de políticos a empresa comprou várias áreas de terras no município falcatruando documentos no cartório e enganando as comunidades tradicionais com promessas de melhorias de suas vidas. Mangueira é uma comunidade tradicional que remonta a história do final do século XIX, seus primeiros moradores eram agregados de grandes proprietários de engenho de açúcar e donos de escravos, até hoje a comunidade mantém a produção de farinha, tiquira e vários produtos da agricultura familiar, também criam animais domésticos. A luta começou quando no final da década 70, os trabalhadores rurais de tiveram  orientações de padres da Paróquia de Urbano Santos que viajavam sempre para a zona rural organizando as CEBs (Comunidades Eclesial de Bases). O conflito começou quando a Florestal comprou a área que pertencia a associação, uma vez que já existia um pedido de desapropriação tramitando no INCRA. Os representantes da empresa ainda tentaram fazer um acordo com a comunidade, dizendo que estavam ali não para tomar terra de ninguém, mas para realizar seus trabalhos. Não houve acordo, até porque os trabalhadores sabiam da verdade, a Florestal percebeu que a população não aceitaria de maneira alguma tal acordo e foi então que partiram para o atrito. Segundo Manoel Américo, em meio as discussões os capangas da empresa tentaram primeiramente intimidar os camponeses exibindo armas de fogo, os trabalhadores foram para cima, a violência começou e alguns disparos foram feitos pelos capangas. O conflito corporal durou algumas horas, ninguém morreu, mas muito sangue derramou. No dia seguinte a associação fez uma reunião para discutir o futuro da terra, elaboram um documento e enviaram a Florestal dizendo que os camponeses de Mangueira iam vigiar vinte e quatro horas a área, fariam tocaias para espera com suas espingardas e peixeiras, no final do documento estava uma frase de ordem “A terra da Mangueira é nossa e aqui ninguém bota os pés".
Os representantes da empresa nunca mais voltaram lá, mas não pararam de perturbar a associação. Os lavradores a partir desse embate ficaram mais fortes porque conseguiram expulsar a Florestal e o melhor que aconteceu, o processo que tramitava no INCRA foi bem sucedido, a associação conquistou o título e aprovação do assentamento, as casas foram construídas e até hoje estão lá. Aquela geração de trabalhadores envelheceram, mas a nova geração residente no lugar ainda se orgulha dessa história uma vez que a terra é dos trabalhadores e eles precisam ter acesso a ela. O assentamento Mangueira foi ampliado, a área do conflito que hoje pertence ao INCRA, foi cedido um pedaço para o ITERMA para ajudar então nos processos de desenvolvimento da agricultura familiar.
A reforma agrária no Baixa Parnaíba tem sua história de sangue, pois infelizmente não se consegue a posse da terra sem luta, sem conflito, sem coragem,  sem embate com os latifundiários e grupos empresariais. Os trabalhadores rurais de nossa região agrária precisam acordar e entender que são eles os verdadeiros donos do TERRITÓRIO LIVRE DO BAIXXO PARNAIBA, território não se discute, se ocupa.

José Antonio Basto
10/10/2014
*Militante Social pela Reforma Agrária no Baixo Parnaíba Maranhense

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