Falar de conflitos agrários na Região do
Baixo Parnaíba Maranhense é sempre uma questão polêmica. E para acentuar essa
página relembramos com convicção a luta travada entre a Associação dos Trabalhadores Rurais do Assentamento Mangueira
contra a antiga Florestal LTDA na década de 80. A associação na época era
liderada pelo companheiro trabalhador rural Manoel Américo que esteve sob a
mira de revolveres de capangas da empresa.
O fato de se deu no período em que a
Florestal chegou na região, com o apoio de políticos a empresa comprou várias
áreas de terras no município falcatruando documentos no cartório e enganando as
comunidades tradicionais com promessas de melhorias de suas vidas. Mangueira é
uma comunidade tradicional que remonta a história do final do século XIX, seus
primeiros moradores eram agregados de grandes proprietários de engenho de
açúcar e donos de escravos, até hoje a comunidade mantém a produção de farinha,
tiquira e vários produtos da agricultura familiar, também criam animais
domésticos. A luta começou quando no final da década 70, os trabalhadores
rurais de tiveram orientações de padres
da Paróquia de Urbano Santos que viajavam sempre para a zona rural organizando
as CEBs (Comunidades Eclesial de Bases). O conflito começou quando a Florestal
comprou a área que pertencia a associação, uma vez que já existia um pedido de
desapropriação tramitando no INCRA. Os representantes da empresa ainda tentaram
fazer um acordo com a comunidade, dizendo que estavam ali não para tomar terra
de ninguém, mas para realizar seus trabalhos. Não houve acordo, até porque os
trabalhadores sabiam da verdade, a Florestal percebeu que a população não
aceitaria de maneira alguma tal acordo e foi então que partiram para o atrito.
Segundo Manoel Américo, em meio as discussões os capangas da empresa tentaram
primeiramente intimidar os camponeses exibindo armas de fogo, os trabalhadores
foram para cima, a violência começou e alguns disparos foram feitos pelos
capangas. O conflito corporal durou algumas horas, ninguém morreu, mas muito
sangue derramou. No dia seguinte a associação fez uma reunião para discutir o
futuro da terra, elaboram um documento e enviaram a Florestal dizendo que os
camponeses de Mangueira iam vigiar vinte e quatro horas a área, fariam tocaias para
espera com suas espingardas e peixeiras, no final do documento estava uma frase
de ordem “A terra da Mangueira é nossa e aqui ninguém bota os pés".
Os representantes da empresa nunca mais voltaram
lá, mas não pararam de perturbar a associação. Os lavradores a partir desse
embate ficaram mais fortes porque conseguiram expulsar a Florestal e o melhor
que aconteceu, o processo que tramitava no INCRA foi bem sucedido, a associação
conquistou o título e aprovação do assentamento, as casas foram construídas e
até hoje estão lá. Aquela geração de trabalhadores envelheceram, mas a nova
geração residente no lugar ainda se orgulha dessa história uma vez que a terra
é dos trabalhadores e eles precisam ter acesso a ela. O assentamento Mangueira
foi ampliado, a área do conflito que hoje pertence ao INCRA, foi cedido um
pedaço para o ITERMA para ajudar então nos processos de desenvolvimento da
agricultura familiar.
A reforma agrária no Baixa Parnaíba tem sua história
de sangue, pois infelizmente não se consegue a posse da terra sem luta, sem
conflito, sem coragem, sem embate com os
latifundiários e grupos empresariais. Os trabalhadores rurais de nossa região
agrária precisam acordar e entender que são eles os verdadeiros donos do
TERRITÓRIO LIVRE DO BAIXXO PARNAIBA, território não se discute, se ocupa.
José Antonio Basto
10/10/2014
*Militante Social pela Reforma Agrária no Baixo Parnaíba Maranhense
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