Quem viaja e passa pela comunidade
tradicional de Custódio, percebe logo na entrada do povoado uma grande
plantação de eucalipto da Suzano Papel e Celulose cercada de arame com uma
enorme cancela, onde quem passa por lá tem que pedir licença. Uma brincadeira,
como é que para uma pessoa entrar em sua própria casa tem que pedir permissão? E
ainda tem mais, o cemitério da comunidade também está dentro do campo de
eucalipto, pode-se dizer e afirmar com todas as letras que isso não passa de um
verdadeiro desacato aos direitos humanos. Quanta intolerância!
Quando o viajante segue em direção ao
Assentamento Canzilo e Mangabeira ele vai chegar num descampado com capoeiras
de antigas roças de mandioca (san nunga ou são miguel), daí então mais na
frente, olha-se a chapada de um lado e os enormes campos de eucaliptos do outro
trocando olhares entre si. A chapada tentando sobreviver com sua fauna e flora,
os animais nervosos com tanta miséria causada por porte do agronegócio e da
falta de consciência ecológica. O cerrado reclama e há tempos vem chorando
lágrimas de sangue desde o primeiro dia em que o eucalipto foi introduzido no
solo vermelho das chapadas. O território onde se alastra as plantações de
eucalipto em Custódio assim também como em outras comunidades era tudo chapada
com capinais, bacurizeiros, pequizeiros, candeias, mangaba e outras espécies
naturais já em perigo de extinção, pois outrora a natureza era bonita e tinha
cara diferente. O eucalipto é uma ameaça tóxica às sociedades tradicionais,
atrapalha o processo de desenvolvimento social principalmente a agricultura
familiar e o projeto de Reforma Agrária: titulações, arrecadações e
desapropriações das áreas em questão, que são muitas. Problemas estão sendo
causados por esse impacto e os estudos já apontam que daqui há 40 anos no
mínimo, os recursos hídricos desaparecerão totalmente de nossa região, se
continuar assim. As pessoas devem se preocupar com essa problemática, as
comunidades rurais estão cercadas de eucaliptos e em algumas regiões campos de
soja e experimentos de outras monoculturas, mas será que todo mundo não está
sendo afetado indiretamente, estamos no mesmo barco? E se naufragar morreremos
juntos? Um ponto a ser pensado e refletido. Os produtos tóxicos são lançados
nos campos, fogem para as matas, chapada e desce para os riachos, lagoas e
rios, o ar fica poluído, os animais migram à procura de locais saudáveis e não
acham mais. Nossa Região do Baixo Parnaíba está transformada, o avanço da
monocultura é desenfreado suprindo interesses individuais capitalistas e
neoliberais de uma empresa multinacional que suga nossa terra desde a década de
80, um projeto atrasado e sem futuro para as comunidades rurais.
Hoje em dia as terras do município de Urbano
Santos mais de 65% pertencem a grupos empresariais principalmente puxados pela
Suzano e suas firmas terceirizadas, restando muito pouco para os trabalhadores
rurais. E essa pequena parte que sobrou mais da metade se encontra em processo
fundiário aguardando respostas dos órgãos competentes. Essa é a crua realidade das
comunidades do Baixo Parnaíba, mas temos que sonhar e orientar os camponeses
rumo às suas conquistas, devemos citar os pontos negativos mas não esquecer dos
positivos. Apesar de tudo os trabalhadores no campo tem conseguido alguma
coisa, o conflito vai continuar, enquanto houver exploração haverá conflito.
Luta por terra é sempre assim desde tempos bem remotos.
Existe
uma politica de reservas ecológicas próximas de alguns campos de eucaliptos,
elas são criadas pela Suzano, mas na verdade é só uma maneira enganosa. São
áreas pequenas que não dão para suportar os animais silvestres fugidos do
correntão e do veneno aplicado nas plantações. Essa realidade pode mudar um dia
e tudo voltar o que era, não é um sentimento romântico e sei que é pura utopia
-, talvez sim... talvez não. Mas vai essas palavras de conforto para o
movimento social em defesa dos direitos humanos e da vida ficar mais otimista e
seguro: “UM OUTRO BAIXO PARNAIBA É
POSSÍVEL”. As chapadas de Custódio já estão com suas vistas cansadas e
assombradas de verem há décadas esses monstros (eucaliptos) que destroem o
bioma cerrado e que não supre de maneira alguma as necessidades da classe trabalhadora
do campo, palavras de ordem sejam ditas e afirmadas: “O Território do Baixo Parnaíba Maranhense é dos Trabalhadores Rurais”.
(José Antonio Basto)
*militante social
dos direitos humanos
email:
bastosandero65@gmail.com
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