À noite
choveu e a cidade de Barreirinhas adormeceu enquanto esperava por alguém. Chegar
a Jurubeba, povoado de Barreirinhas, requer sacrifícios. Os caminhos não
empolgam. Os caminhos se desgastam e desgastam as pessoas. O povoado se situa
as margens do rio Preguiças e defronta-se com o município de Santa Quiteria. Os
povoados vizinhos a Jurubeba (Passagem do Gado e Mamede) venderam a totalidade
de ou parte de seus territórios para plantadores de soja ou plantadores de
eucalipto. A Passagem do Gado vendeu
quase dois mil hectares para o senhor Leandro plantar eucalipto. Os associados
da Passagem do Gado fingem indiferença quanto ao fato de não haver mais áreas
para que coletem bacuris, para que rocem
e para que cacem. As águas correm
frouxamente onde antes corriam convictas. O Mamede vendeu uma parte de seu território
para o senhor Clovis que plantou soja. Depois de cinco anos, uma das
associações do Mamede negociou parte da Chapada com o senhor Leandro que
arrebatara Passagem do Gado. A titulação de terras públicas por parte do Iterma
encontrou associações sem nenhum pendor para a resistência as investidas do
agronegócio. Contudo, moradores de Mamede desmancharam o negócio ao denunciarem
o caso a promotoria de Barreirinhas.
Ele
atravessou a ponte em sua bicicleta.
Perguntaram seu nome. Assim ele respondeu: Anailton, morador da Jurubeba.
Eles conversaram devagar. Anailton se inquietou. Sondaram-no sobre a safra de
bacuri: o quanto vendera. A sua família
vendeu 100 quilos de polpa de bacuri a R$15,00 o quilo. Com essa renda, ele e
sua família compraram uma geladeira.
Os
forasteiros voltavam da Chapada e pararam para mergulharem no rio Preguiças. O
Cerrado os recebera em suas incompletudes. O motorista se intimidou e ficou na
dele sem molhar nem os pés. Anailton devotava parte de si ao rio Preguiças. As
perguntas o agastavam e ele as tolerava por conta do banho que aquelas águas serenas
lhe prometiam.
O
senhor Chico Patrocinio caminha uma hora de sua casa até sua roça na Chapada. Os
moradores da Jurubeba, município de Barreirinhas, reencontram a Chapada todos
os dias de suas vidas. Eles acreditaram em seu semblante de poucas palavras. Escutam-se
os periquitos e sua algazarra por sobre os bacurizeiros. Época de florada. Não
se desperdiça o tempo que pouco se tem.
Mayron Régis
E assim os territórios antes livres vão se tornando aprisionados e amordaçados.
ResponderExcluirTriste fim.
Quantos Anailtons serão precisos?
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