A proposta de emenda à Constituição que permite a expropriação de terras
onde se verifique a existência de trabalho escravo foi votada e aprovada no
Plenário do Senado Federal no dia 27
de maio de 2014. Apresentada em 1999 pelo então senador Ademir Andrade, a
proposta estabelece que as propriedades rurais ou urbanas onde forem
localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou exploração de trabalho
escravo, isso é ilegal onde a vítima pode entrar em contato com orgãos de
defesa dos direitos humanos e fazer sua denuncia. Essa medida foi fundamental para
combater esse tipo de crime hediondo e também é importante saber que ela vem
promover a “SEGUNDA ABOLIÇÃO DA
ESCRAVIDÃO NO BRASIL”. Nesse sentido como fica a questão da luta pela
manutenção deste CONCEITO DE TRABALHO
ESCRAVO no Brasil e em especial no Estado do Maranhão, um dos estados
campeão na violação desse crime? Pois o estado brasileiro ainda tem essa fama
no que se diz respeito à opinião pública, as manchas da escravidão ainda
imperam em nosso meio, os mais de 300 anos de cativeiro que o chicote derramou sangue
humano ainda não foram e tampouco serão esquecidos. Vale ressaltar que a
abolição de 13 de maio de 1888 não
resolveu os problemas da escravidão, nesse sentido dirigida à raça negra, sendo
que esta lei colaborou com o acúmulo de milhares de escravos não apenas os
negros mas também brancos vítimas da exploração e do preconceito social. Hoje
são muitos os fazendeiros que usam dessas artes manhas para usufruírem das
forças de mão de obra escrava no campo e na cidade, uma séria realidade dos
trabalhadores rurais no interior do país que desenvolvem ofícios nas lavouras
do corte da cana, nas colheitas de laranjas, nas carvoarias e nas fazendas de
soja. Existe casos de trabalhadores que saíram de suas comunidades em busca de
melhorias principalmente para a região sudeste do país, mas nunca conseguiram
voltar para as suas famílias, endividados com o patrão são obrigados a
permanecerem na fazenda sob a vigilância de capangas e pistoleiros. Quero
acentuar casos de famílias inteiras de lavradores do leste maranhense que
migraram para São Paulo com a promessa e a consciência de um dia voltar para
suas áreas rurais, mas infelizmente nunca retornaram. Marcelo Carneiro, respeitado Professor e pesquisador universitário
da UFMA – Universidade Federal do Maranhão tem uma obra “livro-cartilha”
intitulada “Migrações Internas” onde
ele aborda com ênfase o processo desse fenômeno na Região do Baixo Parnaíba e
outras partes do Maranhão. A escravidão no campo e a pistolagem são barreiras
que devem sim ser quebradas com a luta dos trabalhadores e dos movimentos
sociais, rumo a um mundo melhor e vida digna para as famílias do campo:
quilombolas, indígenas e comunidades tradicionais, mas é verdade que o silêncio
de muitos casos deixa à tona a experiência de um estado que durante sua
formação desde o período colonial utilizou da violência para conter e suprir
necessidades e interesses políticos e pessoais da classe dominante, colaborando
com o avanço do capitalismo neoliberal e desumanidade com relação aos menos
favorecidos. Precisa-se então estarmos de olhos abertos a cada momento nessa
luta para que mais uma lei não passe despercebida e não seja cumprida, onde
isso sempre foi de práxis em nossa legislação.
José
Antonio Basto
*Poeta e militante dos direitos humanos no baixo parnaiba
maranhense
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