“Se Deus vier
que venha armado”. Em Brejo, município
do Baixo Parnaiba maranhense, essas palavras de Guimarães Rosa em “Grande
Sertão Veredas” fizeram sentido. A prefeitura de Brejo reformava a estrada de
piçarra da sede do município até o assentamento da reforma agrária Santa Cruz.
A equipe convergia para o povoado de Vila dos Criolis que pertence ao quilombo
de Saco das Almas. Os membros da equipe consultariam alguns moradores a
respeito do interesse em implantar kits de irrigação nos terrenos onde plantam
suas hortas. P ara um deles, aquele caminho rondava sua memória. Percorrera
aqueles baixos anos atrás com o pessoal da SMDH (Sociedade Maranhense dos
Direitos Humanos) para desenvolver um projeto financiado pelo Fundo Nacional do
Meio Ambiente. O projeto capacitava agricultores familiares de todo o Baixo
Parnaiba em sistemas agroflorestais. Por conta da burocracia governamental, o
projeto não teve prosseguimento. Depois de sete anos, ficou-se sabendo que
outros projetos chegaram a comunidade através da Articulação Semi-Árido e pelo
governo do Maranhão, este com recursos do Banco Mundial. Com apoio da ASA a
comunidade construiu uma cisterna e com apoio do governo do Maranhão começaram
o plantio de verduras. Esses projetos não tiveram assessoria técnica que é um
item fundamental para que qualquer iniciativa deslanche. Ainda assim, a
comunidade de Vila dos Criolis manteve os plantios e utiliza-se da água
armazenada na cisterna. As comunidades quilombolas do Maranhão eram invis� �veis para o Estado. Essa situação mudou da água
para o vinho a partir do momento em que organismos nacionais e internacionais
aportaram recursos para essas comunidades. Os projetos não previam o
acompanhamento depois da implantação dos equipamentos. Quem dê uma volta pelos
interiores do Maranhão poderá vislumbrar o completo abandono de inúmeros
projetos de casa de farinha. A Associação de Comunidades Remanescentes de
Quilombos aprovou um projeto junto a União Europeia que ambiciona mudar essa
realidade em que as comunidades quilombolas. A intenção não é só implantar
equipamentos como mini-usinas de arroz, agroindústrias de beneficiamento de
babaçu entre outras. A intenção é integrar a produção, comercialização e
melhoria na qualidade de vida de dezessete comunidades quilombolas dos
municípios de Codó, Caxias, Lima Campos, São Luiz Gonzaga, Itapecuru, Icatu,
Santa Rita, Brejo e Buriti. Não é uma tarefa fácil. Valderlene Si lva Diretora
Executiva no Projeto Ka -Amuba (promoção de tecnologias sustentável de economia
solidária em quilombos no Maranhão) do Aconeruq lembra muito bem o quanto foi
difícil discutir e conceber o projeto. Uma das comunidades foi a Vila dos
Criolis. Ela perguntou se a comunidade gostaria de se inserir no PAA (Programa
de Aquisição de Alimentos) do governo federal, que se tornou um dos resultados
esperados do projeto. A comunidade respondeu que não. Horas mais tarde, a
senhora que acolheu explicou a negativa. Como se comprometer com aquela demanda
se eles não tinham assessoria. Com o projeto da Aconeruq, daqui a alguns anos a
Vila dos Criolis dará outra resposta.
Mayron Régis
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