Dalvana Mendes
O projeto pioneiro surgiu há cinco com o objetivo de abastecer a comunidade da Ilha dos Lençóis com energia gerada a partir de fontes energia eólica (dos ventos) e solar. Antes da implantação do projeto na ilha, a comunidade só tinha fornecimento de energia proveniente de um gerador a diesel, que funcionava quatro horas por dia. “A motivação inicial do projeto foi exatamente a de desenvolver um sistema piloto para atender com energia elétrica comunidades isoladas, dentro do Programa Luz para Todos”, explica o professor Luiz Antonio Ribeiro, do NEA.
A pesquisa começou em 2005, com o desenvolvimento da tecnologia, em parceria com empresas privadas nacionais, destacando-se a CP Eletrônica, sediada em Porto Alegre. Junto com a equipe da UFMA, a empresa desenvolveu os inversores de tensão que, de acordo com Ribeiro, estão sendo utilizados no projeto de forma muito satisfatória. Os equipamentos foram desenvolvidos para serem robustos e operarem em paralelo, garantindo confiabilidade ao sistema.
Para a execução do projeto, a equipe do NEA contou com o suporte financeiro do Ministério de Minas e Energia (MME), por meio da Eletrobrás. Dentre os colaboradores também se destacam a empresa Rockwell Automation e outros agentes públicos, como o Ibama e a Prefeitura do Município de Cururupu.
Antes da combinação entre energia eólica e solar, alternativas como células combustíveis ou a queima direta de biodiesel foram cogitadas para a geração de energia na região. No entanto, não foram escolhidas devido ao custo elevado, às dificuldades e às condições ambientais e geográficas da ilha, isolada e inserida em uma reserva extrativista. “A energia solar e eólica eram as opções para atender a essa comunidade sem impacto ao meio ambiente”, diz o professor Osvaldo Saavendra, um dos coordenadores do Programa.
Segundo os pesquisadores, para a escolha da fonte energética para o projeto também foram fundamentais os aspectos favoráveis da região: bastante vento e sol. “A combinação é adequada porque a ilha se encontra próximo do Equador, com boa irradiação solar, e com um significativo potencial eólico”, explica Saavendra. “Em alguns momentos estas fontes se complementam.”
A implantação do projeto foi realizada em 2008, apesar da dificuldade logística, gerada devido à distância da capital e à falta de meios para transportar os equipamentos dentro da ilha. Os moradores locais ajudaram no carregamento das turbinas e outros materiais pelas dunas de areia da ilha, até a instalação dos equipamentos. “O apoio da comunidade foi essencial nesta parte”, afirma Ribeiro. O gerador de energia se encontra em pleno funcionamento na Ilha dos Lençóis desde julho do mesmo ano.
Os pesquisadores afirmam que o atendimento a outras localidades isoladas com energia limpa pelas concessionárias estaduais de energia deverá se concretizar muito em breve. Uma base legal para viabilizar a implantação desses projetos vem sendo elaborado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), juntamente com agentes envolvidos no processo, como o MME, as próprias concessionárias e as universidades.
De acordo com Ribeiro, a concessionária local, no caso a Companhia Energética do Maranhão (CEMAR), já sinaliza com a possibilidade de instalação de sistemas deste tipo, em pelo menos 11 novas comunidades residentes em ilhas do estado do Maranhão. São elas: Bate Vento, Iguará, Mirinzal, Porto do Meio, Retiro, Valha-me Deus, Porto Alegre e Perú, todas em Cururupu. Da região de Turiaçu, também devem ser atendidas as ilhas de Igarapé Grande, Sababa e Cunhã Cuema.
Conforme o Engenheiro de estudos e planejamento da Cemar, André Marcelo, no Estado temos 100 ilhas sem energia, são 4.800 domicílios que precisam ser atendidas, essas por sua vez foram esquecidas por seu isolamento. Cerca de 90% das ilhas estão nas entranhas maranhense, envolvendo o município de Cururupu, Turiaçu, Apicum- Açu , região de ilhas costeira.
Entretanto, Ribeiro ressalta que é importante observar que o tipo de fonte de geração a ser utilizada depende da localidade. Os projetos que possuem matrizes energéticas renováveis são modulares, assim, podem ser usados com várias fontes diferentes de energia. Em outras palavras, para adaptar o tipo de energia utilizada em outras comunidades, basta aumentar o tamanho das unidades geradoras e o número de inversores utilizados.
Por outro lado, o uso de baterias ainda é uma forma clássica de armazenar energia, para que se possa atender à demanda energética das comunidades nos momentos de baixo potencial eólico e solar. De acordo com Ribeiro, existem outras maneiras, porém ainda em fase de pesquisa ou com altos custos. "Caso o sistema esteja próximo a uma rede elétrica convencional, o próprio sistema elétrico cumpre a função de armazenador de energia, reduzindo os custos de manutenção. Fica mais simples.”, complementa Saavendra.
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