Durante mais de dois anos a professora Maristela de Paula Andrade,
juntamente com uma equipe formada por dez alunos dos cursos de
Geografia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão - UFMA,
se embrenharam em três municípios (Santa Quitéria, Urbano Santos e Mata
Roma) e cerca de 40 povoados do leste maranhense, numa tentativa de
colher informações relativas à expansão da soja e do eucalipto na região
conhecida como Baixo Parnaíba.
A intenção dos pesquisadores era investigar as consequências da
implantação desses monocultivos para a agricultura, a pecuária e o
extrativismo realizados em base familiar. “Buscávamos verificar os
impactos dessas culturas para o meio ambiente, sobretudo os solos e os
recursos hídricos, e para as atividades econômicas dos trabalhadores
rurais da região”, explica a professora Maristela Andrade, que desde a
década de 80 estuda o modelo de desenvolvimento adotado pelo Estado
brasileiro e a economia camponesa nas áreas de cerrado.
Os
dados obtidos a partir de relatos dos próprios trabalhadores, da
análise de documentos oficiais e também de entrevistas com técnicos do IBAMA,
SUZANO e secretaria estadual de Meio Ambiente (SEMA), revelaram
diversos problemas, entre eles o aterramento de nascentes de rios,
despejos de agrotóxicos sobre povoados e escolas, além de extinção de
corpos hídricos importantes. Essas e outras informações que compõem o
relatório da pesquisa “Campesinato e Crise Ecológica” agora estão sendo
disponibilizadas para a sociedade em geral, por meio do projeto de
extensão “Diálogos entre Ciência e Sociedade – Os impactos do
agronegócio sobre a agricultura familiar no leste do Maranhão”.
O projeto conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao
Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão – FAPEMA via
auxílio à pesquisa e bolsas PIBIC, e também com uma bolsa produtividade
doCNPq.
“A ideia é tirar o relatório de pesquisa das prateleiras, para que o
conhecimento científico pudesse alcançar os próprios interessados – os
trabalhadores rurais da região – e aqueles que os apoiam e assessoram”,
declarou a professora Maristela. Outro objetivo do projeto é dar
continuidade à formação de alunos da graduação na prática da pesquisa e
do trabalho de campo.
Desdobramentos – Os resultados práticos dessa iniciativa já são
bastante visíveis. Segundo a professora Maristela Andrade, houve o
desencadeamento de processos que levaram a empresa Suzano a interromper
seu trabalho no Baixo Parnaíba. Além disso, alguns municípios decretaram
leis municipais que proíbem a expansão desordenada de eucalipto, tal
como vinha ocorrendo. Isso ocorreu, ainda segundo Maristela, porque os
pesquisadores municiaram o Ministério Público com informações de caráter
técnico, incluindo mapas, depoimentos, fotografias, além de análise de
informações do ponto de vista da Antropologia e da Geografia.
Ivandro Coêlho, professor e jornalista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário