O extrativismo de frutos do cerrado produzido pela agricultura familiar e a luta pela terra foram os principais focos da Caravana Agroecológica e Cultural do Bico do Papagaio, realizada no Tocantins entre os dias 08 a 10 de novembro. O evento reuniu agricultores, técnicos, estudantes e organizações do campo agroecológico da região e outros estados. Ao final ocorreu uma avaliação coletiva dos participantes com encaminhamentos para fortalecer a rede local e ampliar o intercâmbio com outras entidades.
Diversas experiências foram visitadas durante as atividades, em destaque para o cultivo do babaçu com forte participação das mulheres nos movimentos das quebradeiras de coco. Na luta pela terra o destaque foi para o Padre Josimo, assassinado na década de 1980 pelo seu empenho na organização dos movimentos sociais da região. O trabalho das cooperativas e associações também mereceu um olhar mais atento dos participantes.
Além do reconhecimento das conquistas dos camponeses em termos de geração de renda e políticas públicas para o setor, algumas sugestões foram apontadas e propostas: busca de novas fontes de conhecimento para socializar o saber popular, fortalecer as agroindústrias e economias locais, valorizar os quintais da agricultura familiar, a importância dos sistemas agroflorestais, aproximar e fortalecer o trabalho das organizações parceiras junto a APA-TO, criação da Escola Família Agrícola (EFA) como polo de resistência do Bico, dentre outros elementos.
De acordo com Paulo Gonçalves, da ONG Alternativa para Pequena Agricultura do Tocantins (APA-TO), essas caravanas são um método extremamente importante e riquíssimo. Segundo ele, foi muito importante a mobilização das entidades da região como a participação dos quilombolas do Tocantins, Amapá e Pará.
“O movimento está aí e é um ganho super legal fortalecer esse diálogo, assim como a participação do MST. Então conseguimos de alguma maneira agregar um conjunto de entidades fundamental para fortalecer a agroecologia. Mas precisamos aproximar mais as organizações da região. Esse diálogo deu uma qualidade muito importante para a caravana. Se a gente não discutir no Bico do Papagaio as hidrelétricas, a Suzano e empresas vão se apropriar de suas riquezas”, alertou.
Para Fabio Pacheco, da ONG Tijupá e integrante da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), foi muito importante o fato de as organizações do Bico do Papagaio toparem desde o início a realização da caravana na região.
“Mostrar a história do Padre Josimo e as pessoas que encampam esse espírito, e a luta das organizações que fazem agroecologia nos territórios. Algo que é difícil dimensionar nesse momento, mas no debate a nível nacional poderemos mostrar as resistências e lutas na região”, disse.
Os grupos de trabalhos divididos para encerrar a caravana elencaram alguns limites para o avanço da agroecologia: o impacto dos grandes projetos na região, como a construção das hidrelétricas, o desconhecimento das pessoas sobre a agroecologia, a construção da barragem de Marabá e o avanço dos monocultivos, além da falta de articulação política a nível estadual e nacional e aprofundar mais na base o conhecimento agroecológico para, inclusive, melhorar o destino do lixo, etc.
“Estamos vendo que essa rede está envolvendo mais pessoas, nosso grupo é grande mas ainda pequeno para o problema que tem. Ainda não temos índio nessa rede, que é prejudicado nesse cronograma. Esperamos que com esse crescimento acolhamos mais gente, e agradecemos os setores que estão preocupados com a nossa situação. Foi um êxito muito grande a realização dessa caravana”, destacou o agricultor Cosmo da Paixão.
A comunicação foi um ponto muito ressaltado pelos participantes. A criação de um blog das organizações do Bico para construir seu espaço para divulgar as experiência e servir de referência na região foi uma das propostas. A ideia é construir uma política de comunicação para apresentar os problemas, projetos e experiências, após a realização de um seminário sobre comunicação na região. Nesse sentido, será elaborada uma carta da caravana com denúncias sobre a não regularização da Reserva Extrativista Norte do Tocantins, o não funcionamento da EFA-Bico, a ameaça da hidrelétrica de Marabá, etc.
“Foi uma oportunidade muito simbólica realizar nessa escola que vai trabalhar a formação de filhos de camponeses com foco na agroecologia. Estamos num processo de transição agroecológica nessa região, de disputa com o agronegócio, então precisamos fortalecer esse processo. Pensar na possiblidade de realizar um encontro antes do ENA por causa desse momento que estamos vivendo, usarmos essas ferramentas para tentarmos impedir a barragem que vai inundar o território desses agricultores. Agradecemos a contribuição das lideranças locais para botar o alojamento funcionando, e os bastidores para a realização do evento”, disse João Palmeira, também da APA-TO.
A Caravana Agroecológica e Cultural do Bico do Papagaio foi mais uma etapa preparatória do III Encontro Nacional de Agroecologia, que será realizado em Juazeiro (BA), no final de maio em 2014.
www.agroecologia.org.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário