A
Usina Trapiche, localizada no município de Sirinhaém, litoral sul de
Pernambuco, deverá deixar de comercializar grande parte de seu açúcar,
após denúncias internacionais de envolvimento em conflitos territoriais
no estado.
A
Usina deverá ter todos os seus contratos cancelados com a multinacional
Coca Cola, uma das maiores compradoras de açúcar do mundo. A medida foi
divulgada nesta última sexta-feira, dia 8, e é fruto de uma mobilização
internacional, promovida pela ONG internacional OXFAM através da
campanha Por Trás das Marcas e da divulgação do relatório O Gosto Amargo do Açúcar. O estudo
aponta a relação entre a comércio internacional de açúcar com os casos
de violações de Direitos, expropriações de terras e conflitos
territoriais no Brasil e em mais cinco países no mundo. De acordo a
OXFAM, muitas das terras adquiridas para a produção de açúcar na última
década “estão relacionadas a violações dos direitos humanos, perda dos
meios de subsistência e fome para os pequenos produtores e suas
famílias”. Este é o caso da Usina Trapiche que, desde 1998, vem
promovendo uma serie de crimes ambientais e ações de violência que
acabou por expulsar uma comunidade de pescadores tradicionais de seu
território tradicional: área de mangue pertencente à União, que
encontra-se atualmente dominado pela Usina. A comunidade atualmente vive
espalhada na periferia de Sirinhaém, em condições desumanas, longe do
lugar que garantia o trabalho, a vida, a soberania e a segurança
alimentar de seus membros.
O
cancelamento dos contratos de compra do açúcar da Trapiche, por isso,
não é suficiente para solucionar de vez o problema enfrentado pelos
pescadores e pescadoras tradicionais na região. Diante do conflito
territorial, a Campanha internacional aponta e reconhece a necessidade
da criação imediata de uma Reserva Extrativista Federal (Resex) no local
como a solução para reparar as violações históricas sofridas pela
comunidade tradicional e para a preservação ambiental da área. O pedido
de criação da Resex vem desde 2006, quando a comunidade tradicional, a
Associação e Colônia de Pescadores do município, em conjunto com a
população local e a Comissão Pastoral da Terra (CPT), solicitaram a
criação da Resex ao Instituto Chico Mendes (ICMBio) e também ao Ibama.
No entanto, a criação da Resex, que obteve parecer técnico favorável do
ICMBio, aguarda desde 2009 sanção do gabinete da Presidência da
República.
Além
da Usina Trapiche, outros grandes fornecedores de açúcar em cinco
países também foram denunciados. No Brasil, o outro caso também
acompanhado pela Campanha internacional da OXFAM é o conflito
territorial no Mato Grosso do Sul, envolvendo o povo Guarani-Kaiowá que
lutam pela demarcação do território tradicional, mas que atualmente
encontra-se submerso pelo monocultivo da cana-de-açúcar da Usina
Monteverde, operada por Bunge, grande fornecedora de açúcar para a
Coca-Cola.
Outras informações:
Comissão Pastoral da Terra – Regional Nordeste II
Renata Albuquerque
Fone: (81) 9663.2716
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