domingo, 5 de maio de 2013

Abrolhos, que já foi ameaçado, hoje é referência de proteção


04/05/2013 - O Globo - Bruno Rosa Ramona Ordoñez
Banco de corais do Parcel de Manuel Luís está próximo a blocos da 11ª Rodada

Exploração de áreas perto de Abrolhos estão proibidas desde 2004

Rio — Há dez anos, um imbróglio fez do arquipélago de Abrolhos — o primeiro Parque Nacional Marinho do país e dono de um dos maiores bancos de corais da América do Sul — símbolo da preservação ambiental do Brasil.  Na 4ª Rodada de Licitações do Petróleo, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) leiloou blocos próximos à região, a 950 quilômetros de Salvador, e gerou polêmica entre ambientalistas.  A empresa que arrematou as áreas, a americana NewField, não obteve as licenças ambientais do Ibama e teve a exploração proibida.

— Abrolhos tem a maior biodiversidade da costa.  Conseguimos comprovar que na região os ventos mudam de direção durante o verão e o inverno, ampliando os impactos ambientais em caso de acidentes.  E, a partir de 2004, os blocos dessa área foram retirados dos leilões — disse Guilherme Fraga Dutra, diretor do Programa Marinho da ONG Conservação Internacional Brasil.

O bloco foi formalmente devolvido à ANP em 2006 e a disputa foi parar na Justiça.  A ANP teve de pagar indenização superior a R$ 5 milhões a NewField.

Mas a 11ª Rodada promete novas polêmicas devido à proximidade de alguns dos blocos oferecidos a áreas de preservação ambiental, como o Parque Nacional Cabo Orange, no Amapá, na divisa com a Guiana Francesa.  O local, de 619 mil hectares e que abriga espécies em extinção, é uma das maiores áreas de conservação do país.  Segundo a ANP, os blocos na Foz do Amazonas estão a 100 quilômetros da costa.

Outra área sensível é o Parque do Parcel de Manuel Luís, a 96 quilômetros da costa do Maranhão e com um dos maiores bancos de corais da América do Sul.  Os blocos que serão oferecidos na Bacia de Barreirinhas estão a 86 quilômetros deste parque.  Já os blocos de Pará-Maranhão estão a 99 quilômetros do parque.

Uma fonte do governo disse que, em caso de vazamento, o óleo levaria dois dias para chegar ao Parque do Parcel:

— Dá para recolher a tempo.

Mas ambientalistas lembram que a região tem grandes amplitudes de maré, o que dificulta a dispersão de óleo.

— As correntes são muito fortes.  É impossível ir ao Parcel durante a lua cheia ou lua nova, por conta das marés.  Formações rochosas chegam próximo à superfície — detalha Luiz Rocha, professor da California Academy of Sciences.

Fernanda Duarte Amaral, da Universidade Federal Rural de Pernambuco, disse que a exploração de petróleo pode trazer problemas ao Parcel.

— Quando o coral morre, todo o ecossistema é atingido.  É impossível falar de dispersantes, pois essas substâncias químicas prejudicam o nível de respiração do coral.

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