Edilberto Sena*
A Ministra Teixeira anuncia pomposamente
que “a moratória da soja e o meio ambiente provam que no Brasil, se
pode aumentar a produção de soja, sem impactar o meio ambiente”. Ela
pode se iludir e iludir os desinformados, não que vivem na Amazônia e
não acompanham os acontecimentos. Não adiantou alguém vir dizer que
apenas 2 milhões de hectares de soja estão plantados na Amazônia, como
se essa área fosse uns 10 a 15 campos de futebol de floresta destruída.
A tal moratória da soja foi uma armação
das empresas exportadoras de grãos, Cargill, Bunge, Maggi e outras
agrupadas numa associação chamada ABIOVE, que foram apoiadas por ONGs
ambientalistas, que ingenuamente (se é que se pode dizer que ONGs
internacionais sejam ingênuas), acreditaram numa moratória de dois anos,
com possibilidade de mais um ano, mais um ano e mais outros. Com o boom
da economia chinesa e o mal da vaca louca na Europa, o preço da soja
disparou no mercado internacional. O governo brasileiro, que baseia o
crescimento do PIB especialmente na exportação de commodities fechou os
olhos à expansão da “nova fronteira” agrícola no Oeste do Pará.
A armação da ABIOVE começou em 2006,
quando o desmatamento na Amazônia estava galopante, a questão do meio
ambiente e a Amazônia passaram a ser uma questões de vida ou morte. A
proposta era uma moratória de dois anos, a partir de julho 2006.
Críticos dessa armação propuseram que se se queria uma moratória séria,
que contasse a partir de 2003, quando iniciou o grande desmatamento para
soja no Oeste do Pará e fosse por dez anos. Os exportadores de grãos
perceberam a intenção da proposta de dez anos e reagiram. Como as ONGs
preferiram ficar com a ABIOVE, ignoraram os críticos e assim ficou. E
está dando no que existe hoje.
Só no último ano (2011/2012) aumentou o
desmatamento com plantio de soja na Amazônia em 18.000 hectares. Só no
Estado do Pará foram 2.000 hectares de desmatamento, sendo que na região
Oeste está a maior concentração de plantio de soja. Dizer que a
moratória de dois anos, que já vai com aditivos de mais seis anos, foi a
solução é realmente querer tapar o sol com peneira. E presença do
plantio de soja no Oeste do Pará trouxe ainda outra agravante, o uso
intensivo de agrotóxicos, contaminando terra e mananciais de igarapés,
lagos e rios. O aumento de câncer em algumas comunidades rurais da
região revela que, enquanto grandes empresas exportadoras ganham grandes
lucros, enquanto plantadores de soja ganham suas boas rendas, os
impactos sociais e ambientais se multiplicam.
A moratória da soja na Amazônia continua
a ser uma falácia aplaudida até pela ministra do meio ambiente. Ou ela
é muito ingênua, o que é difícil acreditar, ou ela aplaude o crescimento
da Economia, sem se importar com os povos da Amazônia. Mas para quem
vive na Amazônia e acompanha os acontecimentos com um olhar de
indignação, não se ilude com tais anúncios de diminuição de desmatamento
na região. É importante que os e as brasileiras com ética saibam que a
soja continua a ser uma desgraça para a Amazônia.
*Edilberto Sena, Militante do Movimento Tapajós Vivo e coordenador da Comissão Justiça e Paz da diocese de Santarém.
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