Por Comissão Pastoral da Terra, Piauí
O Brasil é a sétima maior economia do
mundo e apresenta um dos maiores índices de desigualdade social, fato
que comprova que o aumento desenfreado da produção não proporciona
necessariamente uma melhor qualidade de vida para grande parte dos
brasileiros. Estima-se que hoje no Brasil haja 6 milhões de hectares de
eucaliptos plantados e que serão mais de 9 milhões em 2020, toda essa
demanda é voltada para atender os produtores de ferro-gusa.
Junto a isso, deve-se acrescentar que as
terras que antes eram destinadas ao cultivo de alimentos passam a ser
destinadas à plantação de monocultura de eucalipto e o solo passa a ser
intensamente prejudicado.
Algo comum no processo de instalação dos
grandes empreendimentos, seja no Piauí, ou em outras regiões, é que os
prejuízos causados pelos mesmos são justificáveis perante o grande bem
que é feito para a população como um todo, sendo que tal “bem” é
denominado desenvolvimento. No entanto desenvolvimento, como diria
Gustavo Lins, é um termo plurissignificativo que pode ser facilmente
apropriado por diferentes grupos que visam diversos fins com o uso do
termo como para mascarar diversas práticas desumanas. Ou seja, por meio
do discurso enganoso de que o desenvolvimento nos padrões
euros-ocidentais é o ponto máximo a que o ser pode chegar, sem contar
que as empresas, em conluio com governos, desrespeitam direitos
fundamentais e constitucionais de populações.
Porém, o poder das empresas e governos,
no que concerne à imposição de medidas duras de desenvolvimento, é
embasado no consentimento ativo ou passivo da maioria da população. Em
outros termos queremos dizer que por meio do desconhecimento da questão
da implantação de grandes empreendimentos, ou no caso de haver ciência
dos fatos, a persistência na passividade permite que o pequeno grupo
formado pelos empresários e governantes atue de forma desrespeitosa com
os direitos de determinados grupos. O Diretor da Suzano Papel e
Celulose, Antonio Maciel Neto, prometeu que a mesma geraria sete mil
empregos diretos no Estado do Piauí a partir de 2012. No entanto, neste
ponto consta que um dos maiores problemas da expansão desenfreada do
eucalipto, e suas extensas monoculturas não geram emprego. Geralmente
são utilizadas máquinas sofisticadas exigindo uma pequena quantidade de
trabalhadores e que ainda por cima necessitam ter uma capacitação
técnica especializada. A monocultura em larga escala expulsa o
campesinato, não gera emprego, não fortalece a economia local e ainda
por cima destrói o meio ambiente.
Tal fato é comprovado a partir das
experiências que a Comissão Pastoral da Terra, CPT-PI, vem desenvolvendo
junto às famílias das comunidades atingidas no município de Palmerais.
No ano de 2009 as famílias sofreram grandes pressões por parte do
empreendimento e do poder publico, portanto o poder de mobilização não
foi suficiente para impedir que a empresa se instalasse uma vez que teve
todo apoio do poder público e dos órgãos ambientais.
Com o trabalho da CPT e a organização da
comunidade, foram realizados muitos movimentos na região no sentido de
conscientizar a população para não vender suas terras. Foram realizados
protesto e fechamento da rodagem que liga Teresina ao município de
Palmerais, campanha de assinatura e conscientização para não vendar as
terras, panfletos informativos e a ação civil pública. Tivemos como
resultado dessas ações: a maioria das famílias não venderam as terras e
continuam morando mesmo com muitas ameaças. Através da luta e
resistência das famílias, houve uma diminuição das ameaças, pois se
trata de terras públicas. Diante disso, o município repassou as terras
para o Instituto de Terras do Piauí – INTERPI, para realizar a
regularização fundiária, a partir da luta da própria comunidade e já
está em fase de implementação, garantindo a permanência definitiva das
famílias na área. Parte das terras já se encontra com a plantação de
eucalipto; mas, a partir de uma ação civil pública, foi suspensa a
implantação da fábrica de papel celulose no Estado do Paiuí. O processo
continua parado por enquanto.
No que diz respeito às águas, os
principais problemas são: apodrecimento dos rios em razão da presença de
grande quantidade de matéria orgânica; contaminação por derivados do
petróleo; redução da capacidade dos lençóis freáticos, entre outros.
Para amenizar ou eliminar tais problemas, foi proposto o acompanhamento
da bacia hidrográfica afetada, mas não se mencionou nenhuma medida
concreta, o que nos leva a pensar na falta de seriedade com que os
problemas gerados pelo empreendimento são tratados.
Um dos principais motivos que levam ao
distanciamento da população de questões complexas como a dos grandes
empreendimentos é que possui teor técnico, ou seja, conteúdo que não é
acessível à população. Além do não sentimento de pertencimento, há
causas que excedem o convívio direto da população, ou seja, se ignora
tudo aquilo que não é palpável ou que não é sentido de imediato.
Associado a esses fatores ainda existe o processo de alienação da
população que fica a cargo dos meios de comunicação, que divulgam a
ideologia enganadora elaborada pelo pequeno grupo dominante.
É intrigante que exista uma associação
tão estreita entre fatores tão importantes tais como política, economia e
publicidade, podendo parecer impossível qualquer tipo de resistência
contra tal organização. Seria infantilidade tratar a referida estrutura
como algo simples de combater, mas seria tão ingênuo quanto afirmar a
impossibilidade de se fazer algo. Os poucos métodos para se oferecer
resistência é por meio da organização civil, e também pelo movimento
social. A principal finalidade de tais métodos é a propagação de
informações verídicas quanto aos fatos que ocorrem na sociedade que
acabam sendo deturpados em razão da abordagem de apenas um ponto de
vista. Com isso, pretende-se continuar a mobilização social e
intensificar a pressão popular sobre aqueles que fazem a administração
pública e empresarial.
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