quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Suzano: Fábrica de celulose promoverá "bota fora" nas regiões dos Cocais e Tocantins do MA

Foto: Fórum Carajás
Comunidade Quilombola/MA Autor: Foto: Fórum Carajás
Comunidade Quilombola/MA

àreas de quilombolas seriam riscadas do mapa
No periodo de 05 a 31 de agosto a fabrica, paulista, de celulose SUZANO
estará consolidando o seu programa de retirada compulsoria de
comunidades tradicionais da região dos cocais e do tocantins. A empresa
pretende desenvolver um complexo agroflorestal à base do plantio e
processamento do eucalipto naquela região. Um dos jornais de maior
circulação ( O Estado do Maranhão) diz que as cidades atingidas são:
Porto Franco, Amarante e carolina; não é verdade. O complexo de
plantação do eucalipto envolve, só na região dos cocais, 21 cidades e
atinge centenas de povoados, comunidades tradicionais(quilombolas)
agricultores familiares, atingindo , principalmente, seu modo de viver,
produzir e reproduzir-se socialmente.
Para organizar o "bota fora" (termo utilizado pela empresa em seu termo
de referencia (Projeto SPC 1008) , no que diz respeito, ao destino dos
povos das terras tradicionalmente ocupadas) a SUZANO, papel e celulose,
contratou a STPC do Paraná que, por sua vez, contratou no Maranhão: o
Instituto de "Desenvolvimento Sustentavel"-IDESA. O esquema consiste em
"escrutinar" , a partir de um diagnóstico, a vidas das populações dessas
áreas. Temas como uso e posse da terra, lideranças locais e movimentos
sociais são informações altamente valorizadas no diagnostico.
A metodologia adotada pela STPC -PR/IDESA-MA( ao qual foi convidado para
atuar como antropologo) é altamente neocolonizadora. Ela consiste em
pagar altos salarios para profissionais de nivel superior(engenheiros
agronômos, economistas, sociologos, antropologos, assistentes sociais,
Mestres em agroecologia, em biologia, etc) para promoverem o escrutinio
a partir de oficinas e uma pesquisa socieconomica e antropologica
altamente high-fast. Ou seja, quando os moradores abrirem os olhos e
perguntarem pra que serve aquilo, eles ja se foram.
Desse modo, coerente com minha ética e responsabilidade que avalia as
consequencias de um ato tão desastroso como esse; além disso,
projetando, metaforicamente, o futuro com poços secando, plantas e
animais silvestres morrendo; homens, mulheres, crianças e adolescentes
morrendo de sede, de fome, ou migrando para cidade para se
prostituir; entregando-se as fazendas de trabalho escravo, ou mesmo,
de trabalho infantil. A verdade é que a partir desses valores (etica
e responsabilidade) ou desse pesadelo, que resolvi fazer um parecer
cientifico(abaixo) e, me desligar, oficialmente, da pesquisa
antropologica high-fast proposta pelo ITPC e pelo IDESA/MA . Por outro
lado, resolvi escrever esse artigo, denunciando e solicitando as pessoas
sensatas que olhem a carta e mande sugestões e propostas para nos
contrapormos a neocolonização do seculo XXI no Maranhão; afinal, o diabo
é high fast e temos que sê-lo também; caso contrario, teremos o inferno
como unica certeza para todos nós; devotos ou não devotos do demo.
Denilton Sociologo -Especialista em sociologia das interpretações do
Maranhão: Povos, comunidades tradicionais, politicas etnicas e
desenvolvimento sustentavel.
Carta Aberta ao IDESA
São Luis, 07 de agosto de 2009.
De: Denilton Santos Carneiro – Sociólogo (Especialista em Sociologia das Interpretações: Povos, Comunidades Tradicionais, Desenvolvimento Sustentável e Políticas Étnicas)
Para: Dra. Regina Lopes e Dra. Conceição Marques
MDs. Coordenadoras do IDESA:
Prezadas Senhoras:
Venho através deste dar-lhes meu parecer sobre a pesquisa e solicitar-lhes meu desligamento da pesquisa antropológica para instalação de um empreendimento agroflorestal, à base de eucalipto, na região dos cocais pelos motivos que passo a expor abaixo:
1 – O meu oficio consiste em descrever e explicar os fenômenos sociais sob condições rigorosas que pressupõem o controle das etapas da pesquisa. Nesse sentido, preciso definir a população a ser investigada; a amostragem necessária; os instrumentos de pesquisa, bem como, as pessoas envolvidas e as condições do trabalho de campo para garantir as uma melhor otimização dos resultados.
2 – Baseando-me no Termo de Referencia(Projeto SPC 1008) acredito que seja um erro epistemológico, grave, considerar a pesquisa antropológica como sendo simples ou factual no processo geral de pesquisa. Na realidade, tal representação, corresponde a um principio de erro empirista; melhor, a uma representação mutilada das operações técnicas. O trabalho antropológico em questão envolve um rigor cientifico e um domínio multidisciplinar de técnicas e conceitos diversas áreas do conhecimento. Um bom exemplo, nos é fornecido, pelo termo de referencia que em sua percepção das comunidades exige que o pesquisador tenha no mínimo domino da historia oral e da etnometodologia..
Na realidade não são poucas as metodologias qualitativas (observação participante, historia oral, entrevistas, visitas de campo, observação direta, rodas de conversa, constituição de mapa local, visitas técnicas, georeferenciamento, etc.) ou de conceitos ( etnicidade, comunidade étnica, conflitos étnicos, território, territorialidade, identidade, comunidades tradicionais, saber local, terras tradicionalmente ocupadas, terras de santo, santíssima, terras de pobreza e terra de preto, quilombo, identidade negra, identidade étnica, conflitos étnicos, terras tradicionalmente ocupadas, etc.) que o pesquisador deve dominar para consolidar um trabalho serio, ético, responsável, preciso e cientifico.
3 – O trabalho antropológico, é essencialmente, qualitativo porque fornece uma compreensão profunda de certos fenômenos sociais apoiados no pressuposto da maior relevância do aspecto subjetivo da ação social face a configuração das estruturas societais seja a incapacidade da estatística de dar conta dos fenômenos complexos e únicos.
3- A pesquisa, em questão, caminha para o reducionismo da realidade empirica quando tenta condicionar a pesquisa antropológica a métodos quantitativos que, somente, propõem a geração de dados estatísticos e, somente, avaliam o custo e a rapidez da pesquisa.
5 – Gostaria de lembrar-lhes que um dos maiores campos de disputas e conflitos no Maranhão, diz respeito as terras tradicionalmente ocupadas (quilombolas, ribeirinhos, quebradeiras de coco, indígenas, etc.) Sendo assim, qualquer peça antropológica deve ser fundamentada nos cânones da ciência que tem na etnografia seu principio de validade cientifica (GEERTZ., 1970). Caso contrario, será objeto de fácil contestação no plano político, jurídico ou cientifico, inviabilizando qualquer proposta futura que envolva essas comunidades. Talvez, “o estudo de área” seja uma alternativa para o que vocês se propõem a fazer, no entanto, se insistirem em um simples relatório; seu documento não terá validade cientifica, pelo menos para a ABA (Associação Brasileira de Antropologia) e vocês terão perdido tempo, dinheiro e credibilidade.
PROPOSTAS:
Desse modo, para que o IDESA possa consolidar um campo de pesquisa antropológica e produzir um documento consistente, sugiro algumas tarefas urgentes:
1- O pesquisador deverá projetar todas as etapas da pesquisa antropológica;
2- O pesquisador devera fundamentar , teoricamente, o “estudo de área” ou qualquer outra peça antropológica que se disponha a consolidar na pesquisa;
3- O pesquisador devera consolidar uma equipe de trabalho para a obtenção dos dados na área a ser estudada;
4- Consolidar uma estrutura mínima para a pesquisa social .
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS:
ALMEIDA, A.W.B. Questões agrárias no Maranhão. Brasília: UNB, 1975.
_____________Terras de preto, terras de santo, terras de índio: uso comum e conflitos. Cadernos do NAEA. Belém-UFPA, 1989
BOURDIEU, Pierre. Oficio de sociólogo: metodologia da pesquisa na sociologia. São Paulo:vozes, 2005.
DURKHEIM, Emile. As regras do método sociológico. São Paulo: Companhia Editora nacional, 1990.
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Bom tempo, 1978.
_____________. O Saber local. Rio de janeiro: vozes, 1989.
HAGUETTE, Teresa Maria Frota. Metodologia Qualitativa na sociologia. Petrópolis-RJ, 1989.
LAPLANTINE, François. Aprender antropologia. São Paulo: ed Brasiliense, 1988.
WEBER, Max. Economia e sociedade. Brasília: Editora Universitária, 1990.
Por: Denilton Santos Carneiro- Sociólogo
Reg. DRT/MA Nº 68/ Fls 34
www.forumcarajas.org.br

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