Após protestos, governo federal volta atrás e retoma financiamento de cisternas populares construídas por rede de ONGs no semiárido.
O conflito entre governo federal e a ASA (Articulação do Semi-Árido) envolvendo a construção de cisternas para armazenamento de água da chuva em regiões isoladas no semiárido brasileiro parece superado. Reunião entre representantes da ministra do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Tereza Campello, com representantes da ASA resultou na promessa de um investimento de R$ 120 milhões (da Fundação Banco do Brasil) para a construção de 60 mil cisternas no sertão nordestino.
Os problemas começaram no fim de 2011. Em dezembro, em entrevista coletiva com repercussão nacional, a ASA reclamou que o programa Um Milhão de Cisternas tinha sido suspenso por iniciativa do governo federal. Além da repercussão nos meios de comunicação, 15 mil pessoas ocuparam as ruas em Petrolina, município no centro do sertão nordestino, em protesto contra o que parecia o fim de uma história com raízes.
Não parou por aí. O Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) enviou à presidente Dilma uma defesa do programa liderado pela ASA.
Os desencontros começaram quando, além do fim do programa Um milhão de cisternas, o Ministério da Integração divulgou uma parceria, feita por licitação, com a Acqualimp, indústria que faz cisternas, tanques e reservatórios de plástico. A indústria venceu uma licitação e fornecerá 60 mil cisternas de plástico, prontas para serem instaladas. A mudança foi& questionada, pois o custo divulgado da cisterna de polietileno é de R$ 6 mil. A assessoria de imprensa da Acqualimp não confirma nem desmente esse valor.
Já a cisterna da ASA sai por um total de R$ 2,1 mil, incluindo material e mão-de-obra. Os beneficiados e seus vizinhos participam da construção. A técnica é simples: a água da chuva é conduzida à cisterna por calhas ao redor do telhado. A água da chuva é abundante em dois ou três meses no semiárido brasileiro.
A ASA é uma instituição que reúne cerca de 700 ONGs com tradição em trabalhos no sertão nordestino. Dizer que essa rede e suas centenas de instituições vinculadas modificaram a paisagem pobre do semiárido não é um exagero. Quem viaja pelo interior mais seco do Brasil conhece a imagem: uma casa simples, com telhado cercado por calhas e uma tubulação ligada à cisterna de placas de cimento enterrada ao lado da casa. São mais de 351 mil casas já beneficiadas, muitas delas longe das estradas movimentadas.
Além das cisternas para uso humano com 16 mil litros de volume de armazenamento para consumo humano, a ASA desenvolveu outro modelo de cisterna muito maior, onde uma área cimentada (um calçadão) com 200 metros quadrados substitui o telhado na captação da água. A chuva é escoada por canaletas para uma cisterna com capacidade para 52 mil litros de água, que será usada para a produção agroecológica.
Naidison Baptista, da ASA Bahia, participará das ações com camponeses nordestinos.
Os ensinamentos da ASA não só interagem de forma amistosa com o meio ambiente, mas mantém esse diálogo com uma região que possui características climáticas rigorosas. Os camponeses que seguem a cartilha da ASA param de usar agrotóxicos, iniciam a produção de sementes nativas, diversificam sua produção e costumam sentir-se valorizados, porque parte da política está na absorção do conhecimento tradicional do homem do campo.
“Vivemos a vitoria do povo do semiárido, ao manter ações e estratégias vitais para sua cidadania e liberdade”, avalia Naidison Baptista, coordenador da ASA pela Bahia. A ASA receberá repasses de R$ 138,7 milhões para capacitação de famílias agricultoras e construção de tecnologias sociais de armazenamento de água para consumo humano, produção de alimentos e criação de animais.
Por: O Eco
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