quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Estudo analisa potencial medicinal de plantas do Cerrado


Um trabalho do Instituto de Química (IQ), Câmpus de Araraquara, analisou espécies de plantas do Cerrado brasileiro em busca de princípios ativos terapêuticos. Além de comprovar a eficiência farmacológica das plantas, o estudo se propôs a verificar a segurança do uso desses vegetais, já que alguns deles podem ser tóxicos.

"A população, sobretudo a parcela mais carente e que vive em áreas afastadas, utiliza várias plantas para curar diversas doenças, mas quase nenhuma dessas espécies foi estudada química e farmacologicamente", diz a autora do trabalho, a química Juliana Rodrigues. Ela fez a investigação durante seu doutorado no IQ, concluído no ano passado, sob a orientação do professor Wagner Vilegas, que lidera um grupo de estudos na Unesp sobre produtos naturais. Atualmente, ela realiza pós-doutorado na Universidade Estadual de Maringá, no Paraná.

A pesquisa analisou as plantas Miconia rubiginosa e Miconia stenostachya. Ela empregou o método quiral, usado pela primeira vez em bioprospecções realizadas no Projeto Biota - Fapesp (Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo), do qual o estudo faz parte. Ela também usou o método geral de isolamento e identificação, que é adotado por todas as investigações do Biota. Juliana explica que o modelo escolhido depende principalmente da natureza das substâncias que se quer analisar, neste caso, as catequinas, um fitonutriente com ações benéficas antioxidantes e anti-inflamatórias.

Uma das preocupações da investigação era detectar a presença de enantiômeros (moléculas que são imagens no espelho uma da outra e que algumas vezes têm efeitos opostos, como gêmeos 'bom' e 'mau'). Durante muito tempo, a ciência acreditou que as plantas produziam apenas um dos enantiômeros, isto é, apenas o ativo que tinha um efeito esperado. Entretanto, segundo explica a cientista, diversos trabalhos têm demonstrado que algumas espécies têm ambos os enantiômeros. Assim, o uso de um vegetal não pesquisado pode fazer bem para um determinado fim e atingir o organismo noutra área.

Medicamentos também podem apresentar essas diferenças. O caso mais grave e mais conhecido é o da talidomida. Esse fármaco foi comercializado para enjôo em mulheres grávidas, mas foi responsável por milhares de casos de bebês nascidos com deformações. O problema ocorrido foi que um dos enantiômeros desempenhava a atividade desejada, e o outro tinha ação teratogênica, que causa alterações no desenvolvimento de fetos.

Risco de extinção

Nas plantas analisadas, Juliana detectou apenas os enantiômeros mais comuns de uma série de substâncias isoladas para fazer parte do grupo de derivados de catequinas. Isso significa que a planta não ofereceria, a princípio, risco de uma ação adversa. A Miconia rubiginosa é usadas pela população para gargarejos contra dor de garganta, e pela semelhança com essa espécie, a Miconia stenostachya pode ter a mesma utilidade.

Confirmado o potencial fitoterápico dos vegetais e garantida a segurança do seu uso, o estudo alerta para um outro risco: a perda da biodiversidade. "Muitas plantas do Cerrado têm seu potencial desconhecido pela ciência. A degradação ambiental desse bioma pode extinguir essas espécies antes de o seu valor farmacológico se tornar público", afirma.



Por Cínthia Leone da Assessoria de Comunicação da Unesp
www.univesp.ensinosuperior.sp.gov.br

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