É amplamente conhecido que, além da Amazônia, os biomas mais desmatados são o Cerrado e a Caatinga. Entretanto, curiosamente, eles tiveram bem menos destaque na nota, e sequer receberam na notícia um tópico a parte, ou um link para apresentação detalhada.
O MMA deveria destacar, por exemplo, que o Cerrado perdeu assustadores 0,37% da área em um ano. Esse é um percentual 18,5 vezes maior do que os 0,02% da Mata Atlântica. |
Os números são do Projeto de Monitoramento por Satélite do Desmatamento nos Biomas Brasileiros, realizado pela Secretaria de Biodiversidades e Florestas em parceria com o Ibama. A melhor notícia é termos, finalmente, conseguido frear o desmatamento na Mata Atlântica, uma grande vitória. Resta agora combatermos a degradação (como o roubo de palmito e a caça) e cuidarmos dos pequenos fragmentos, impossíveis de serem mapeados por esse estudo, dada a limitação das imagens Landsat. Provavelmente, a proximidade do homem, com degradação e pressão imobiliária, será o maior inimigo da preservação desse bioma.
Porém, o estudo deixa de dizer a que veio, já que imaginávamos que visava explicitar onde estão ocorrendo os crimes ambientais a serem combatidos. O MMA deveria destacar, por exemplo, que o Cerrado perdeu assustadores 0,37% da área em um ano. Esse é um percentual 18,5 vezes maior do que os 0,02% da Mata Atlântica. Ao contrário dela, o Cerrado ainda sofre forte pressão para a abertura de novas áreas para agricultura e pecuária. Já a Caatinga, que também ninguém liga, ocupa, em percentual o segundo lugar, com 0,23% da sua área perdida em um ano.
Apenas no último parágrafo se informam os números absolutos, onde verificamos que o desmatamento dos pampas, pantanal, e mata atlântica, juntos, correspondem a menos de 10% da área devastada do bioma cerrado. A nota afirma ter sido desmatados 7.637 km2 do cerrado, 7.464 km2 da Amazônia, 1.921 km2 de Caatinga, 331 km2 dos Pampas, 248 km2 de Mata Atlântica, e 118km2 do Pantanal. Não citam dados acerca de manguezais e restingas. Note-se que o Cerrado perdeu mais área total do que a Amazônia.
Nos biomas com campos nativos, ou seja, o pantanal e os pampas, os relatórios não explicam também se alterações nas pastagens, com introdução de gramíneas exóticas e consequente supressão da vegetação nativa, foram considerados “desmatamentos” ou não, o que pode indicar que esses números estejam subdimensionados. Isso lembra o quão inadequado é o termo “desmatamento”.
Ou seja, é bom ver, finalmente, dados públicos da situação dos diversos biomas, mas falta ainda ao Estado dar a devida importância para o diagnóstico, em vez de se limitar a usar as boas notícias como demonstração do seu sucesso, e jogar para debaixo do tapete os números ruins.
Conclusão? Ainda não dá para comemorar.
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