domingo, 7 de setembro de 2014

Leitãozinho ao molho pardo na comunidade São Raimundo





Estive a convite em São Raimundo, zona rural de Urbano Santo para saborear um leitão ao molho pardo na residência dos amigos: Domingos e Selma. Eu estava no Povoado Boa União a serviço do Colégio Múltiplo da minha querida turma do Magistério à distância, pessoas que além de alunos e alunas são amigos e amigas que compartilhamos conhecimentos juntos. Mas como é quase impossível viajar para a Boa União e não poder ir ao São Raimundo, Selma por mera coincidência me fez um irrecusável convite para almoçar em sua casa um leitão a pururuca, sendo este prato, uma de suas especialidades.
A aula terminou por volta do meio dia, dona Raimunda da Boa União estava consciente que eu iria almoçar em sua casa, mandei um recado pra ela por minha aluna Erenice que não precisava se preocupar comigo. Peguei minha velha moto e enfrentei as avalanches entre os dois povoados, atravessando as encostas dos morros e ultrapassando riachos e ladeiras. Passei por uma plantação de batata-doce já na entrada de São Raimundo, fiquei impressionado, visitei a casa de Dona Maria logo no inicio, uma das moradoras beneficiárias do programa do governo federal “Brasil sem Miséria”, conversei um pouco com ela e tomei um cafezinho enquanto a mesma debulhava feijão. Segui viagem até que cheguei na casa do Domingos. Um tempo de chuva estava se formando para o lado do nascente, mas a fome era maior que o medo da futura chuva que caiu com vontade sem cessar, cheiro de terra molhada, uma benção -, talvez! O certo é que Selma serviu o almoço “leitão a molho pardo com arroz branquinho acompanhado de salada dos legumes de sua horta do quintal” tudo estava suculento, quando começamos a almoçar a chuva ficou mais forte, uma carne saborosa com pimenta malagueta e farofa de farinha de puba, repeti duas vezes, quase passo mal. Quando terminamos de almoçar, Selma trouxe um suco de bacuri bem geladinho -, pois a safra desse fruto das chapadas foi boa e significativa esse ano, tanto no São Raimundo, quanto no Bom Princípio, Bracinho e região. A chuva não parava e a cada momento ficava mais potente, os pingos pareciam pedras no teto da casa. O horário já era mais ou menos umas treze e meia, como eu não voltaria mais para aula na Boa União, baixei uma rede e tirei uma boa soneca para descansar. Percebi que tudo ficou calmo, a carne de porco parece que deu sono em todo mundo, todos adormeceram e sentiram grande preguiça. Mas era ora de voltar para Urbano Santos, deixar o São Raimundo e a  lembrança de uma boa refeição natural de nossa região. Despedi-me de todos e sai no sereno. Passei de volta na casa da Francisca, mas ela não estava lá, tudo fechado – apenas os bichos no terreiro, talvez estivesse em alguma atividade em defesa dos direitos humanos e da vida, ou mesmos para a cidade.  Quando eu voltava as pessoas acenavam da janela com as mãos, muitos curtindo fumaça de casca de babaçú para espantar os mosquitos (maroins) que assentam principalmente em crianças após um sereno. Parei mais uma vez no comércio da casa azul, comprei algumas balinhas e tomei um refrigerante para ajudar na digestão, bati um papo com a mulher dono do estabelecimento, mas pouco tempo, o sol virava-se rápido. Parece que o São Raimundo está mudado e ainda bem que é pra melhor, mudou mesmo, o tempo passa e ninguém percebe. Aquela amada comunidade humilde e hospitaleira, defensora das causas ambientais que espera por um projeto de assentamento. O leitão a molho pardo na casa de Domingos me fez recordar as tantas vezes que fui recebido com carinho por aquela gente, amigos de batalha que não se cansam jamais na luta por Reforma Agrária.
A fartura de animais cresceu no São Raimundo nesses últimos tempos, alguns moradores fizeram projetos do agro-amigo pelo Banco do Nordeste do Brasil para a criação de animais, porcos, galinhas e roças; como foi caso do Domingos que fez um crédito no banco para criação de suíno onde foi bem sucedida sua produção, pois foi de lá que saiu o nosso almoço tratado nesse texto. Voltei para minha casa, com a consciência de dever cumprido por ter participado de mais uma excelente ocasião na casa de amigos. “O leitãozinho a molho pardo na comunidade São Raimundo vai ficar em minha mente por muitos tempos, assim que me lembrar da comunidade e das pessoas que conheço. Pois sempre que recordo dá água na boca e bate uma saudade de voltar novamente.

(José Antonio Basto)
Cel. (98) 8890-4162

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