Por Carlos Alberto Dayrell
Enquanto o toré saudava os participantes
do VII Encontro dos Povos do Cerrado e as toras adentravam no adro do
Congresso Nacional, enquanto os tambores dos batuques entoavam as
canções de liberdade dos negros no Museu do Índio em Brasília, as
comunidades extrativistas do Norte de Minas Gerais que foram a Brasília
trazer o decreto de criação da RDS Nascentes dos Gerais (Ex RESEX Areião
Vale do Guará) ainda tinham esperanças que a Presidenta Dilma
anunciaria esta boa nova. Afinal, menos de um mês antes a presidenta
estivera em Rio Pardo de Minas e na oportunidade eles entregaram mais um
abaixo assinado pedindo urgência na criação da RDS. E no dia 30 de
agosto de 2012 enviaram o vídeo documentário ROMARIA DO AREIÃO à
Presidenta. Um vídeo que retrata a dura batalha de comunidades
esquecidas que vivem nas altas serras e topos de morro da Serra do
Espinhaço e que lutam pela proteção do seu território tradicional.
Foram informados de que o Decreto de
Criação da RDS já tinha passado por todos os trâmites e encontrava-se na
mesa da Casa Civil à espera da decisão da Presidenta. Ficaram sabendo
então que o Ministério das Minas e Energia estava fazendo pressão para a
não criação da RDS, fazendo coro aos interesses minerários do Governo
do Estado de Minas Gerais.
Dissuadidos de fazerem uma ação direta
no Palácio do Planalto, o que os extrativistas do cerrado assistiram foi
à embromação da Ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, na
audiência que concedeu no dia 13 de setembro às lideranças das
organizações que atuam nos cerrados. Fazendo
um grande jogo de cena, a Ministra afirmou desconhecer os andamentos
dos processos de criação de RESEX e RDS nos Cerrados (ofícios, cartas,
vídeo-documentários haviam sido encaminhados para ela com a devida
antecedência). Com uma eloqüência inaudita, prometeu recursos e ações
para a proteção dos cerrados. Mas ignorou a necessidade urgente das
comunidades que lutam pela legalização, titulação e demarcação das áreas
indígenas e quilombolas, assim como os territórios de populações
extrativistas.
Com promessas de gordas verbas para as
ONGs, com promessas de criação de ilhas de proteção nos cerrados bem ao
gosto de ambientalistas de carteirinha que reivindicam unidades de
proteção integral para que a elite brasiliense possa se deliciar nas
ricas pousadas de fim de semana, ou para que seus filhos possam tomar
banho nas águas límpidas que nascem nos cerrados antes que sejam
emporcalhadas pelos agrotóxicos e esgotos e/ou aterradas pelas terras
contaminadas oriundas das grandes monoculturas e crateras minerárias.
O VII Encontro dos Povos
do Cerrado chega ao fim, e a tortura que as comunidades extrativistas
enfrentam há 11 anos em sua luta pela proteção dos cerrados e de seus
territórios vai continuar. A Presidenta Dilma, que conheceu os porões da
tortura e viveu na carne este crime hediondo, tem o poder de tomar uma
decisão que vai a favor dos extrativistas e contra os interesses da
mineração e do governo do estado de Minas Gerais. A continuidade da
tortura que sofre as comunidades extrativistas está nas mãos da
Presidenta.
Estes interesses estão muito bem
articulados. Enquanto os guardiões do Areião encontravam-se em Brasília
no VII Encontro dos Povos do Cerrado, um fogo criminoso foi ateado
dentro da área reivindicada para criação da RDS Nascentes dos Gerais.
Mas a vinda a Brasília foi muito
importante para todos extrativistas dos cerrados. Afinal, descobriram
que é daqui, do Planalto, que sai a ordem de operação das máquinas de
destruição que eles enfrentam com o próprio corpo nas altas chapadas da
Serra do Espinhaço, no extremo norte de Minas Gerais. Máquinas que sobem
a serra e vão assassinando, em lenta agonia, os povos que aprenderam a
conviver com os cerrados brasileiros. Numa tortura que está tão bem
retratada no vídeo ROMARIA DO AREIÃO!
Estão retornando para Minas Gerais, mas
aprenderam que a frente principal de luta está aqui, no Planalto
Central. E continuam a gritar bem alto:
- Pelo imediato decreto de criação da RDS Nascentes dos Gerais (Ex RESEX Areião Vale do Guará)!
- Pelo imediato encaminhamento de criação de outras 19 RESEXs nos Cerrados Brasileiros!
- Pelo imediato reconhecimento e demarcação dos territórios indígenas dos Cerrados Brasileiros!
- Pelo imediato reconhecimento e demarcação dos territórios quilombolas dos Cerrados Brasileiros!
- Pela proteção do Xingu e imediata suspensão da Barragem de Belo Monte!
- Não ao genocídio que enfrentam os povos e comunidades tradicionais dos Cerrados Brasileiros!
- Não ao genocídio dos Povos Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul!
Brasília, 15 de Setembro de 2012
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