Car@os Amig@s,
Como
se poderia prever, o estudo científico conduzido pela equipe do Prof.
Gilles-Eric Seralini, publicado na última semana, sobre os efeitos de
longo prazo do milho transgênico tolerante à aplicação do agrotóxico
Roundup, bem como dos efeitos de longo prazo do próprio Roundup, começou
a sofrer ataques não só da empresa Monsanto, produtora do milho
transgênico e do Roundup, mas também de cientistas defensores da
transgenia.
Mais
do que entrar nos detalhes de réplicas e tréplicas, vale um comentário
de fundo sobre o tipo de reação que provocaram todos os estudos já
realizados que apontaram evidências de efeitos negativos dos
transgênicos para a saúde ou o meio ambiente: as críticas, que começam
imediatamente a correr mundo, buscam desqualificar a pesquisa por
completo, com alegações do tipo “o estudo carece de qualquer base
científica”, “o estudo não atende as normas mínimas aceitáveis para esse
tipo de pesquisa científica”, ou ainda “os dados apresentados não
suportam as interpretações do autor”.
É preciso dizer que a pesquisa em questão foi peer reviewed,
ou seja, revisada por pares – outros cientistas que compõem o comitê
editorial das revistas científicas para avaliar a qualidade dos dados e
das análises. Mais que isso, dada a importância que tem para os
pesquisadores (acadêmicos em geral) a publicação em revistas bem
conceituadas em suas áreas de estudo, existe atualmente uma enorme
competição por publicações e só chegam a ser publicados os estudos que
atendem, rigorosamente, a todos os padrões de qualidade exigidos. A
pesquisa sobre os efeitos de longo prazo do milho transgênico NK603 e do
Roundup, herbicida a base de glifosato fabricado pela Monsanto, foi
publicada na revista Food and Chemical Toxicology, uma das revistas científicas mais conceituadas da área.
É
fundamental também dizer que, ao contrário da pesquisa ora em
evidência, os estudos que embasaram as liberações comerciais de
transgênicos pelo mundo a fora NÃO foram publicados em revistas
científicas. Esses estudos, em sua maioria esmagadora conduzidos ao
longo de no máximo 3 meses, são realizados pelas próprias empresas que
desenvolveram os produtos, não são “revisados por pares” e, mais ainda,
comumente não têm seus dados tornados públicos, contendo partes
importantes declaradas como sigilosas!
Ou
seja, os cientistas que dizem duvidar da qualidade da ciência que
aponta problemas no milho transgênico e no agrotóxico usam sua
autoridade científica para tentar desmerecer o mecanismo de validação
que é aceito no meio científico – a publicação – e conferir legitimidade
a resultados de pesquisas cujo rigor não é avaliado por comitês
independentes.
Com
efeito, à luz dos dados publicados, questionamentos verdadeiramente
científicos deveriam, no mínimo, sugerir a repetição dos experimentos de
modo a confirmar ou não as novas descobertas. Mais ainda, deveriam
sugerir a realização de estudos ainda mais abrangentes, de preferência
incluindo todos os transgênicos já liberados no mercado e presentes nos
nossos pratos de comida.
Um
exemplo para ilustrar a qualidade dos estudos que embasam a liberação
comercial de organismos geneticamente modificados no Brasil, em
comparação ao estudo recém-publicado pela equipe francesa e criticado
pelos cientistas defensores da transgenia, é o caso do feijão transgênico desenvolvido pela Embrapa para resistir ao vírus do mosaico dourado.
Segundo
a documentação apresentada à CTNBio (Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança), o feijão foi testado em 3 ratos (!), ao contrário da
pesquisa francesa, que analisou 10 grupos de ratos, cada um contendo 10
fêmeas e 10 machos (200 animais no total).
Nos
três roedores que se alimentaram do feijão transgênico, todos machos,
identificou-se tendência de diminuição do tamanho dos rins e de aumento
do peso do fígado. Isso mesmo tendo-se abatido os ratinhos antes da
idade adulta – ao contrário da pesquisa francesa, que observou as
cobaias durante 24 meses (todo o período de vida dos animais).
Essa
pesquisa sobre os efeitos do feijão transgênico sobre a saúde não está
publicada em revista científica alguma. Apesar disso, o pesquisador
responsável pelo desenvolvimento do feijão transgênico, também
integrante da CTNBio, afirmou que “foram realizados testes além do necessário”.
Os doutores da CTNBio também consideraram esses resultados suficientes
para “comprovar” a segurança do feijão para o consumo humano e autorizar
o plantio comercial.
Exemplos como esse deixam claro que tipo de ciência cada grupo de cientistas defende.
Quanto ao detalhamento e discussão das críticas difundidas contra o estudo publicado na Food and Chemical Toxicology, sugerimos a leitura das respostas publicadas pela equipe que desenvolveu o estudo – a tradução está disponível em nosso blog.
Para mais informações sobre o estudo do Prof. Seralini leia, em inglês: First
Peer Reviewed Lifetime Feeding Trial Finds "Safe" Levels Of GM Maize
And Roundup Can Cause Tumors And Multiple Organ Damage – heraldonline.com, 19/09/2012.
Leia também a íntegra do estudo “Long term toxicity of a Roundup herbicide and a Roundup-tolerant genetically modified maize”, publicado na revista Food and Chemical Toxicology.
Que se repita o experimento...
ResponderExcluirMas dessa vez, não usem linhagens de ratos sabidamente cancerosos...
Abraços.