Alex
Motta, morador de Buriti de Inácia Vaz, que não é bordador, numa manhã de 2011,
bordou comentários a respeito da criação da Área de Proteção Ambiental Morros
Garapenses: “O governo do estado do Maranhão cria a APA Morros Garapenses que
protege os terrenos menos elevados, mas, por outro lado, entrega as Chapadas de
Buriti para os gaúchos”.
A
APA Morros Garapenses foi criada em 2008 pelo então governador Jackson Lago
como forma de conservar as faixas de transição entre Cerrado e a mata dos cocais no
Leste maranhense. A sua área de abrangência abarca 234 mil hectares dos municípios
de Buriti, Duque Bacelar e Coelho Neto. O processo de consolidação dessa
unidade de conservação fornece uma informação relevante: ela é a única unidade
de conservação estadual criada a partir de uma mobilização da comunidade local.
Pelo visto, tomando por base a declaração do Alex Motta, essa mobilização não se
deu de maneira uniforme nos três municípios e nas comunidades desses municípios
do Baixo Parnaiba maranhense.
Nenhuma
das considerações descerradas pelo governo do Maranhão no decreto de 31 de
dezembro 2008 acena para a agricultura familiar e para o extrativismo. Uma
consideração explicita o item educação ambiental e turismo ecológico, aventura
e cientifico. Outra discorre sobre o reflorestamento com espécies frutíferas. Sinceramente,
no que consta, as populações tradicionais do Baixo Parnaiba maranhense desapareceram
para a secretaria de meio ambiente do Maranhão.
Citar-se-ia
a agricultura familiar e o extrativismo de frutas do Cerrado por comporem a biodiversidade
e por guarnecerem essa biodiversidade. Nomeia-se esse intrincar de
agrobiodiversidade. Até onde se sabe, o português do agronegócio é ralo. Os
anos de soja, eucalipto e cana não adicionaram palavra original no cotidiano
brasileiro. A riqueza do agronegócio foi devolvida à população do Baixo
Parnaiba maranhense na forma de empobrecimento do linguajar, do conhecimento tradicional,
da economia local e do meio ambiente.
Alguns
defendem um pacto de não-agressão entre o agronegócio e segmentos da
agricultura familiar para que o
desenvolvimento socioeconômico se dissemine. Que o desenvolvimento não fique
atrelado a um só setor, é o que dizem. Em certa medida, os órgãos ambientais
aderiram a essa idéia faz tempo. A criação de unidades de conservação no Brasil
obedece a cartilha do agronegócio, ou seja, onde o agronegócio avança se detém
processos de criação de parques e resex.
Com respeito a APA Morros Garapenses, os próprios funcionários da SEMA admitem
que a categoria APA é permissiva ainda mais em uma região onde se acentuam os interesses
do grupo João Santos, plantador de cana e bambu, e dos sojicultores. Um pacto
de não agressão interessa mais ao agronegócio do que a agricultura familiar. O
Baixo Parnaiba maranhense experimenta e experimentou versões dessa proposta
tanto no caso da soja como no caso do eucalipto. Os sojicultores fornecem
sementes de feijão para comunidades próximas aos plantios de soja e a Suzano
Papel e Celulose disponibiliza maquinário para comunidades próximas aos seus
plantios de eucalipto.
O
Estado brasileiro é condescendente com o agronegócio e descarta completamente a
agricultura familiar e o extrativismo. Bem que os governos poderiam criar uma
politica de descarte de agricultores familiares e extrativistas na zona urbana
das cidades assim como existe uma politica de descarte de embalagens de
agrotóxicos.
Descartar
tudo tem sido uma prática do Estado brasileiro. As licenças de desmatamento e
as outorgas autorizadas pela SEMA obscurecem a questão dos recursos hídricos no
Baixo Parnaiba maranhense. As
considerações para a criação da APA Morros Garapenses se desencontram dessa
questão tão séria numa região sujeita a desertificação como se presencia em
áreas mexidas para os plantios de soja nas bacias dos rios Buriti e Preto.
Conhecedora da situação por que passa o Baixo Parnaiba a SEMA deveria
restringir ao máximo o uso de determinadas áreas para os plantios de soja e
eucalipto. Vê-se o contrário. Desde a criação da APA os desmatamentos em Buriti
nunca cessaram sem respeitar espécies protegidas por lei como o pequizeiro e
espécies importantes para o extrativismo como o bacuri.
Na
região da APA Morros Garapenses, o Fórum Carajás articulado com a Associação
dos Amigos de Buriti e com a comunidade de Carrancas carregou e carrega uma
variedade de projetos e de atividades com a intenção de resguardar o que sobrou
de áreas de Chapada nas nascentes do rio Preto, afluente do rio Munim. Uma das
atividades, que contou com o financiamento do Casa(Centro de Apoio
Socioambiental), é o manejo das florestas de bacuri na propriedade do Vicente,
o gigante gentil do povoado Carrancas. Ele é um sujeito bem alto que, em
determinado momento, viu-se pressionado a vender sua posse para um plantador de
soja. Decidiu não vender. Como não vendeu, o sojicultor se retirou anunciando
que Vicente sofreria com o despejo de agrotóxicos. Provavelmente, caso Vicente
vendesse, ele se arrependeria mais tarde. Outros indivíduos se arrependeram.
Comunidades inteiras se arrependeram amargamente, pois venderam suas áreas de
Chapada por um dinheiro que durou pouco. Um dinheiro que mal deu para comprar uma moto
para cada individuo.
O
Vicente e o seu Onésio, da comunidade de Carrancas, e as comunidades de
Brejinho e de Belém chegaram longe sem recuarem um milímetro sequer.
Mayron Régis
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