“Não
tem mais nada” diz Zefa Pereira, bióloga, conhecedora profunda do Bioma
Cerrado, professora da UFGD e hoje candidata ao Prêmio Betinho -
Atitude Cidadã, referindo-se ao quase desaparecimento total do bioma
Cerrado no Mato Grosso do Sul. Foi durante a Assembléia Geral da
Comissão Pastoral da Terra - Regional Mato Grosso do Sul (CPT/MS), da
qual ela participou como grande parceira da entidade dando uma oficina
informativa sobre o tema.
Depois
de uma palestra e exibição de vídeo no Centro Social Rural de
Indápolis/Dourados, em 18 de agosto, a Zefa levou o grupo para o
distrito de Itaú, a 40 km de Dourados, para uma aula prática. Entramos
numa reserva de mata pequena, um dos últimos vestígios de um frágil
matagal, rodeado de monocultura de cana e usinas.
Ao
chegarmos ao sítio, a “agropoeira” nos recebe com o seu tapete de pó
branquicento. O primeiro pé de árvore, fixada ainda no contorno da
estrada de chão e o asfalto da BR 270, oferece sua sombra a um motorista
da usina vizinha. O trabalhador, buscando ganhar o melhor beneficio
para sua folga da hora, gruda seu caminhão bitrem à raiz, ao tronco e às
folhas daquele solitário encorpado. No seu cochilo fica indiferente à
missão do grupo da CPT que desceu perto dele para se internar naquele
nímio bioma com o objetivo de conhecer mais e melhor sobre a realidade
do Cerrado.
O
cenário de contradição se projeta silenciosamente acima daquele mato
que como bioma irá desaparecer totalmente do Brasil em 2030 senão for
objetivado uma urgente política de preservação.
Os
agentes da CPT/MS semearam uma boa quantidade de baru no interior
daquela reserva e se maravilharam com os pés de pequi, marmelo, marolo,
paratodo, guavira, butiá, barba timão, jatobá do cerrado, angico,
araticum e outras árvores que ainda restam. O território do agronegócio
já acabou com os corredores que ligavam os fragmentos de Cerrado e por
não existir mais, desapareceram os polinizadores e com eles as
possibilidades de troca genética, explica a professora Zefa.
Os
visitantes seguem com atenção as dicas e informações da bióloga. Trocam
idéias e ficam admirados com as flores das diferentes espécies que
resistem ao impacto das monoculturas e dos venenos. O Cerrado que
entramos, segundo a profissional, não está em bom estado de conservação,
pois tem diminuído bastante sua variabilidade genética. A ausência dos
corredores deixou-lhe isolado e forçado a reproduzir
“auto-cruzamento”(endogamia). “Ao se cruzar entre indivíduos irmãos –
explica Zefa - surgem doenças e o cerrado fica fragilizado, o que pode
levá-lo à extinção”.
Compromisso com o Cerrado
A
CPT/MS junto a outras regionais se constituíram recentemente nas “CPTs
do Cerrado” ao entender que ele é um “espaço fundamental para a
reprodução da vida”, sendo conhecido como “pai e mãe das águas”. Durante
a Assembléia da regional MS a ideia foi justamente conhecer um pouco
mais a realidade do Cerrado brasileiro e pensar em estratégias de
preservação e conservação em nosso Estado e no Brasil todo.
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