terça-feira, 28 de agosto de 2012

BNDES guia setor de papel e celulose


Data: 27/08/2012

Especialistas apontam que ele poderá desempenhar papel ainda mais relevante e servir como indutor da formação de um gigante brasileiro de celulose - assim como a Vale na mineração global.

Por Stella Fontes | De São Paulo

O BNDES dá as cartas no setor de papel e celulose como maior investidor.  Acionista majoritário da Fibria, segundo maior da Suzano Papel e Celulose, um dos grandes detentores de papéis de Klabin e principal credor da Eldorado, o banco é dono de cerca de R$ 4,5 bilhões em ações das três principais companhias.  De 2000 a 2011, os desembolsos do BNDES ao setor ultrapassaram R$ 12,4 bilhões.  Especialistas apontam que ele poderá desempenhar papel ainda mais relevante e servir como indutor da formação de um gigante brasileiro de celulose - assim como a Vale na mineração global -, combinando seus investimentos em pelo menos duas das companhias em que tem presença relevante.


Fabricantes nacionais aumentam grau de dependência do BNDES
Por Stella Fontes | De São Paulo

Nem Votorantim, nem Klabin Irmãos, nem Monteiro Aranha, nem as famílias Feffer e, mais recentemente, Batista.  O posto de maior investidor da indústria brasileira de celulose e papel segue nas mãos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), diretamente ou por meio de seu braço de participações, a BNDESPar.  Acionista majoritário de Fibria, segundo maior da Suzano Papel e Celulose, um dos grandes detentores de papéis de Klabin e principal credor da Eldorado Celulose, o banco de fomento é dono de aproximadamente R$ 4,5 bilhões em ações das três primeiras companhias, considerando-se os preços de fechamento na BM&FBovespa na sexta-feira.

Esse retrato ficou mais evidente em operação recente de conversão de debêntures da Suzano, passando, com isso, a deter quase 18% do capital total da empresa.

Além dessas participações acionárias, o BNDES é o grande financiador da ainda pré-operacional Eldorado, controlada pela J&F Holding, também dona do JBS Friboi, com um empréstimo de R$ 2,7 bilhões.  É ainda importante financiador da nova fábrica de celulose da Suzano, em Imperatriz (MA) e, certamente, desempenhará papel semelhante quando a Fibria se decidir pela implantação da segunda linha de celulose em Três Lagoas (MS).

A Klabin, da qual o banco é detentor de 15% dos papéis preferenciais, também contará com os recursos do BNDES para erguer uma nova linha de produção da fibra no Paraná.

Os números são historicamente expressivos.  Desde 2000 até o ano passado, conforme dados da instituição, os desembolsos ao setor ultrapassavam R$ 12,4 bilhões - nos seis primeiros meses de 2012, ficaram em cerca de R$ 1,9 bilhão.  Analistas não têm dúvida de que o banco seguirá, ainda por muito tempo, como principal fonte de financiamento dos projetos da indústria, intensiva em capital e com investimentos de longa maturação - para o primeiro corte, o eucalipto, principal matéria-prima dos produtores brasileiros, exige um mínimo de seis anos de cultivo.

Contudo, especialistas apontam que o BNDES poderá desempenhar um papel ainda mais relevante para o setor e servir como indutor da formação de um gigante brasileiro de celulose - assim como a Vale está para a mineração global - no médio prazo, combinando seus investimentos em pelo menos duas das companhias em que tem presença relevante.  A ideia de constituir uma grande companhia brasileira exportadora, na verdade, já circulou dentro do próprio banco há muitos anos, conforme relato de executivos do alto escalão da indústria.  À época, o debate giraria em torno de uma eventual fusão entre Aracruz, Bahia Sul Celulose e Cenibra, em um grupo denominado ABC.  O tempo, contudo, mostra que o debate não vingou.

"Não seria surpresa se, em cinco anos, o BNDES promovesse a consolidação [da indústria de celulose]", avalia o analista Felipe Reis, do Santander.  "Costumo brincar que, na verdade, o BNDES é o maior produtor de celulose de eucalipto do mundo."  Para o especialista, a pressão exercida pelas novas fábricas sobre os preços da celulose nos próximos anos, e de maneira constante em razão do cronograma de expansão que está sendo desenhado pelas concorrentes, poderá moldar o cenário propício para uma nova rodada de consolidação.

A própria Fibria, que nasceu oficialmente em 2009 a partir da fusão de Aracruz e Votorantim Celulose e Papel (VCP), reflete a importância que o BNDES ganhou para a manutenção da saúde financeira da indústria brasileira.  "A atuação do banco deu suporte à Aracruz após as perdas com derivativos, possibilitou à VCP comprar a fatia dos antigos acionistas da Aracruz e deu condições de a Fibria vingar", afirma outro analista, sob a condição de não ser identificado, lembrando que, em diferentes ocasiões, o banco já apoiou praticamente toda a indústria nacional de celulose em momentos difíceis.

Hoje, a BNDESPar ainda é a maior acionista da Fibria, com 30,38% das ações ordinárias, à frente de Votorantim Industrial (29,42%).  Sob os termos do acordo de acionistas assinado por Votorantim Industrial (VID) e BNDES em 2009, o banco se compromete a manter posição mínima de 21% na companhia pelos três anos seguintes e de 11% nos dois anos posteriores.

Questionado sobre a possibilidade de reduzir a posição em Fibria, o banco de fomento respondeu, por meio de assessoria de imprensa, que "não há previsão estatutária de redução do investimento da BNDESPar em Fibria".  "Quanto à perspectiva de redução da participação acionária de todas as empresas do setor, é preciso contextualizar a natureza da BNDESPar como investidora no capital das companhias.  A BNDESPar é uma investidora com perfil de longo prazo, todavia com caráter transitório, sendo o desinvestimento uma consequência natural do apoio", acrescenta.

No caso da Suzano, a BNDESPar desempenha, no momento, papel crucial para garantir a execução de um grande projeto de expansão.  "É natural que o BNDES tenha participação ativa no setor", ressalta Reis.  "E, olhando para a frente, a necessidade [de consolidação] deve se impor se houver de fato um período longo de preços mais baixos", reitera.

Sobre a possibilidade de atuar como motor da consolidação do setor de celulose e papel, o BNDES informa que "eventuais operações de consolidação da indústria são resultado de decisões de grupos empresariais".  "Não cabe ao BNDES emitir opinião ou antecipar movimentos de grupos empresariais privados", acrescenta.

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