sábado, 1 de novembro de 2014

Adeus ao Riacho Chibé! Comunidade Juçaral, Urbano Santos-MA






É mais do que triste saber que o Riacho Chibé na comunidade Juçaral, município de Urbano Santos no Baixo Parnaiba desapareceu totalmente por causa das plantações de eucaliptos. A professora Drª Maristela da Universidade Federal do Maranhão em 2011, levou alguns de seus alunos que no período estavam pesquisando para trabalhos monográficos a respeito da impacto ambiental da soja e do eucalipto na Região do Baixo Parnaiba. Com o apoio do STTR e da Paróquia de Urbano Santos, conseguimos então desenvolver o processo de visita aos povoados de Urbano Santos, inclusive os de áreas de litígios que fazem fronteira com Santa Quitéria, Barreirinhas, Anapurus e Primeira Cruz.
Mas o presente inscrito trata-se da grande problemática da extinção do Chibé. Francisco, um dos mais antigos militantes das CEBs e conhecedor da cabeceira do riacho, onde por lá pescava para a subsistência de sua família, enchendo suas cabaças de águas limpas ainda na década de 70, disse que nunca tinha visto uma coisa daquela. Segundo informações colhidas pelos estudantes da UFMA, o riacho realmente secou pelo fato de que a comunidade tradicional de Juçaral hoje se encontra diretamente atingida pelas grandes plantações de eucaliptos da Empresa Suzano Papel e Celulose. A população que usufruía do riacho, hoje está sem água, o córrego por onde as águas passavam não tem mais nada, apenas areia branca e algumas cacimbas com cascudos. A população culpa o projeto do eucalipto pelo desaparecimento total desse afluente, um dos principais rios de Urbano santos: o “Boa Hora”. A sabedoria popular junta-se ao conhecimento cientifico, pois a ciência confirma o que a militância sempre disse, então isso é um caso a ser pensado. O riacho que era uma perna do Rio Boa Hora, agora só vive na lembrança dos moradores de Juçaral. Isso é mais um fato em que devemos ter a consciência de lutar por uma vida melhor, de estarmos sempre juntos defendendo as chapadas, as cabeceiras dos rios e riachos de nossa região tão afetada pelo programa da monocultura. Francisco, em uma certa reunião ao tratar-se dessa questão, chama atenção em suas palavras dizendo “Antes da chegada do eucalipto no início de 80, nós moradores dessas comunidades vivíamos felizes, nós respirávamos o ar puro, não tinha fumaça e nossas chapadas eram limpas com bacurizeiros  e pequizeiros, pescávamos para alimentar nossos filhos, tinha muito buriti e juçara nas margens do nosso finado Riacho Chibé. Pois tenho plena certeza que esse genocídio foi causado por essa peste do eucalipto, ele está acabando com tudo, com as águas, com os bichos, com as plantas, com o planeta”. As palavras sábias do Francisco nós tocam numa reflexão do que poderá acontecer daqui a 50 anos se nada mudar essa realidade caótica da exploração de nossas terras. As chapadas de Juçaral são mares verdes de eucaliptos. A Suzano nada faz por aquela comunidade a não ser sugar seus recursos naturais. É implacável... inaceitável, conviver com tanto desacato aos direitos humanos e da vida.
O Riacho Chibé era importante para a sobrevivência daquela gente e para a nossa. O agronegócio não visa a melhoria das comunidades e muito menos fazem alguma coisa para amenizar e ou -, solucionar tal questão. Quanto mais lucram, mais aumentam a ganância de exploração. O cenário cultural de Juçaral mudou-se completamente desde o momento em que o eucalipto apareceu por lá pela primeira vez. Pois além da substituição das espécies do cerrado pelo eucalipto com seus produtos tóxicos, existem também nas redondezas da comunidade até a outa vizinha –, Todos os Santos, os conhecidos fornos de carvão vegetal da Margusa e Florestal. A chapada é derrubada criminosamente pelo correntão e suas árvores transformam-se em carvão. Daí o motivo, certeza e circunstâncias do último adeus ao Riacho Chibé!

José Antonio Basto
militante social dos direitos humanos e da vida, baixo parnaíba
email: bastosandero65@gmail.com
Outubro de 2014

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