É mais do que triste saber que o Riacho Chibé na comunidade Juçaral,
município de Urbano Santos no Baixo Parnaiba desapareceu totalmente por causa
das plantações de eucaliptos. A professora Drª Maristela da Universidade
Federal do Maranhão em 2011, levou alguns de seus alunos que no período estavam
pesquisando para trabalhos monográficos a respeito da impacto ambiental da soja
e do eucalipto na Região do Baixo Parnaiba. Com o apoio do STTR e da Paróquia
de Urbano Santos, conseguimos então desenvolver o processo de visita aos
povoados de Urbano Santos, inclusive os de áreas de litígios que fazem
fronteira com Santa Quitéria, Barreirinhas, Anapurus e Primeira Cruz.
Mas o presente inscrito trata-se da grande problemática da extinção do
Chibé. Francisco, um dos mais antigos militantes das CEBs e conhecedor da
cabeceira do riacho, onde por lá pescava para a subsistência de sua família,
enchendo suas cabaças de águas limpas ainda na década de 70, disse que nunca
tinha visto uma coisa daquela. Segundo informações colhidas pelos estudantes da
UFMA, o riacho realmente secou pelo fato de que a comunidade tradicional de
Juçaral hoje se encontra diretamente atingida pelas grandes plantações de
eucaliptos da Empresa Suzano Papel e Celulose. A população que usufruía do
riacho, hoje está sem água, o córrego por onde as águas passavam não tem mais
nada, apenas areia branca e algumas cacimbas com cascudos. A população culpa o
projeto do eucalipto pelo desaparecimento total desse afluente, um dos principais
rios de Urbano santos: o “Boa Hora”. A sabedoria popular junta-se ao
conhecimento cientifico, pois a ciência confirma o que a militância sempre
disse, então isso é um caso a ser pensado. O riacho que era uma perna do Rio
Boa Hora, agora só vive na lembrança dos moradores de Juçaral. Isso é mais um
fato em que devemos ter a consciência de lutar por uma vida melhor, de estarmos
sempre juntos defendendo as chapadas, as cabeceiras dos rios e riachos de nossa
região tão afetada pelo programa da monocultura. Francisco, em uma certa
reunião ao tratar-se dessa questão, chama atenção em suas palavras dizendo
“Antes da chegada do eucalipto no início de 80, nós moradores dessas comunidades
vivíamos felizes, nós respirávamos o ar puro, não tinha fumaça e nossas
chapadas eram limpas com bacurizeiros e
pequizeiros, pescávamos para alimentar nossos filhos, tinha muito buriti e
juçara nas margens do nosso finado Riacho Chibé. Pois tenho plena certeza que
esse genocídio foi causado por essa peste do eucalipto, ele está acabando com
tudo, com as águas, com os bichos, com as plantas, com o planeta”. As palavras
sábias do Francisco nós tocam numa reflexão do que poderá acontecer daqui a 50
anos se nada mudar essa realidade caótica da exploração de nossas terras. As
chapadas de Juçaral são mares verdes de eucaliptos. A Suzano nada faz por
aquela comunidade a não ser sugar seus recursos naturais. É implacável... inaceitável,
conviver com tanto desacato aos direitos humanos e da vida.
O Riacho Chibé era importante para a sobrevivência daquela gente e para a
nossa. O agronegócio não visa a melhoria das comunidades e muito menos fazem
alguma coisa para amenizar e ou -, solucionar tal questão. Quanto mais lucram,
mais aumentam a ganância de exploração. O cenário cultural de Juçaral mudou-se
completamente desde o momento em que o eucalipto apareceu por lá pela primeira
vez. Pois além da substituição das espécies do cerrado pelo eucalipto com seus
produtos tóxicos, existem também nas redondezas da comunidade até a outa
vizinha –, Todos os Santos, os conhecidos fornos de carvão vegetal da Margusa e
Florestal. A chapada é derrubada criminosamente pelo correntão e suas árvores
transformam-se em carvão. Daí o motivo, certeza e circunstâncias do último
adeus ao Riacho Chibé!
José Antonio Basto
militante
social dos direitos humanos e da vida, baixo parnaíba
email:
bastosandero65@gmail.com
Outubro
de 2014
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