Na manhã do dia 08 de novembro, o tempo
amanheceu um pouco nublado, preocupado; tinha que me dirigir até a comunidade
tradicional Baixão dos Loteros para a realização do I Seminário de Formação
Agrária, com o tema: “História e
Políticas da Reforma Agrária no Brasil”. Peguei o material que tinha
preparado na noite passada: as cartolinas, pastas, pinceis e a aportilha com o
conteúdo do curso. Já era praticamente 08:30h, atrasado peguei a estrada que
passa pelo Povoado Sítio do Meio cortando as chapadas e carrascos até chegar às
primeiras casas do Baixão. Infelizmente percebi que algumas áreas estavam
queimadas, o tempo seco facilita o fogo nos capinzais rasteiros devastando a
fauna e a flora do bioma cerrado.
Cheguei no Baixão às 09:15h, muita manga,
caju, juçara, e algumas hortas nos quintais das casas. Ao botar os pés na comunidade
fui logo visitar as residências de alguns velhos amigos do passado, como a
residência do companheiro Zé Diomar – Presidente da associação mais velha, a
esposa de Diomar é uma pessoa super educada,
serviu café com bolo de milho da roça e até convidou para o almoço a
pesar da ocupação aperreada na farinhada, não aceitei porque tinha que chegar
até a sede da Associação de Jovens Trabalhadores Rurais para o início do curso.
O Baixão é dividido em I e II, portanto a atividade foi no II. Quando
atravessei o riacho ceguei até as mangueiras em frente a sede da Associação;
mangas e caju se estragando pelos terreiros, como já dizia a Marlene cantora da
CEB local. O que chamou a atenção é que os jovens participantes do Seminário
trouxeram para ornamentação produtos da agricultura familiar como mandioca,
espigas de milho, pimenta, feijão, cana, mel, jaca, manga, juçara, côco babaçu,
tiquira, tapioca, cabaça, buriti... entre outros. O evento foi recheado de
informações repassadas aos jovens trabalhadores rurais, começando com a
História da Reforma Agrária no Brasil, as primeiras lutas no campo, Ligas
Camponesas e as conquistas do movimento no campo das décadas de 30, 40, 50 e
60. Ainda abordamos alguns pontos relacionados às políticas do MDA (Ministério
do Desenvolvimento Agrário) como o Programa Nacional do Crédito Fundiário,
Pronacamp, PRONATEC rural, Programas de Combate a Pobreza Rural, discutimos também a necessidade do Projeto
Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável na Agricultura Familiar. Depois
de minha explanação, foi a vez da Tarsila - Engenheira Agrônoma da Empresa COOPRAMA
que acompanha os projetos do PNCF no Baixo Parnaiba, Tarsila apresentou seu
trabalho sobre associativismo, o processo de organização dos camponeses para a
conquista da terra e desenvolvimento econômico, o assunto terminou as 12:00hs e
fomos para o almoço de galinha caipira com peixe tilápia. Descansamos um pouco
e retornamos as 14:00hs para a formação dos grupos de trabalho. As equipes de
organização das câmaras temática duraram duas horas para responder o
questionário que preparei, as perguntas foram de defesa pessoal, tudo
relacionado aos temas das palestras que foram dadas pela manhã. Todo mundo se
saiu muito bem, criativos, tocavam antes de se apresentarem, cantaram músicas das
comunidades como “Negro Nagô” e “Eu sou roceiro”, para alegrar o salão.
Todos os membros dos grupos tiraram
proveitos e foram bem sucedidos nas apresentações que duraram até as 17:30h. No
final fizemos uma avaliação em conjunto dos pontos que marcaram o dia. As
cartolinas foram guardadas para serem pregadas na sede da associação ficando de
lembrança, onde a juventude se deparou com assuntos talvez polêmicos e
desconhecidos por eles, mas que tem tudo haver com o dia-a-dia do homem e da
mulher do campo. O curso de formação agrária nos fez refletir sobre a luta dos
movimentos sociais no Baixo Parnaiba Maranhense nas décadas de 90 e inicio de
2000 quando as forças populares e os encontros de comunidades estavam no auge,
além de um aprendizado significante de ambos os lados.
José Antonio Basto
Novembro 2014
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