Era o ano
de 2008, num momento em que os movimentos sociais estavam com gosto de gás, as
comunidades da região com orientação do Fórum em Defesa do Baixo Parnaiba,
SMDH, CCN, CPT, Fórum Carajás, Diocese de Brejo, Paróquias, em fim... várias
entidades e seguimentos da sociedade civil; conseguimos organizar a mais
importante das marchas em defesa da vida que partiu da Comunidade Nova
Esperança até a cidade de Santa Quitéria.
As
caravanas foram chegando a tardinha e se alojando nas casas que ficam na beira
da estrada. Lembro que a negada de Urbano Santos chegou por volta das vinte e
uma horas e tivemos dificuldades no alojamento, uns ficaram na escola do
povoado, outros procuraram quintais e ainda teve pessoas que armaram suas redes
nas árvores do pátio. Nessa mesma noite estava acontecendo um arraiá caipira
(festas juninas) no povoado, muita música boa, todas regionais, quadrilhão
corrido. Alguns companheiros que não conseguiram dormir resolveram ir para a festa,
entre esses eu estava lá. A poeira subia com o movimento dos apresentadores no
terreiro, o tempo foi passando até dá uma hora da manhã. Como o sono não
chegava e a marcha começaria a partir das quatro horas, arrumamos outras
amizades com o pessoal da comunidade Inxú que tinham acabado de chegar para
participarem do evento. O certo é que as horas passaram sem ninguém da fé. Três
e meia, lembro que o professor médico patologista Luís Alves do CCN acordou e
fez uma enorme fogueira para anunciar a concentração, foram chegando um, dois,
três... em fim, muita gente se aconchegou ao redor da fogueira não pelo fato de
já estarem no ponto para a marcha, mas porque o frio estava matando e a
preguiça de acordar também juntava-se à ocasião das quatro horas da manhã, o
melhor sono. As atividades começaram oficialmente às seis horas com muita
neblina, todo mundo na estrada em direção à cidade de Santa Quitéria, nós
manifestantes cobrávamos um Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural
Sustentável e Solidário, faixas apareceram contra o plantio da soja e do
eucalipto, gritos, cantigas de comunidades alegravam e davam forças à caminhada
pela via direita da estrada. O companheiro Zé Vale de Barreirinhos e membro da
SMDH liderava o microfone com suas falas e maneiras de fazer místicas. A
imprensa estava também fazendo o seu papel importante de divulgação.
Mas um dos
pontos principais das reivindicações foi o problema em que a Suzano Papel e
Celulose assumiu as tarefas da Empresa Margusa na época, desenvolvendo sua
política suja de intimidação com seus tratores e policiais nas comunidades,
querendo ocupar as chapadas... as áreas de Santa Quitéria em processo para fins
de reforma agrária, foi daí então que as comunidades deixaram o papel do
diálogo e partiram para a resistência do conflito agrário-ambiental e também
para o ponto da prática do conhecimento, da importância de participação popular
e política. O sol foi esquentando e ficando mais sufocante, chegou um momento
para uma parada e falas, a BR foi interditada, nós fizemos um paredão para
nenhum carro passar, não era por maldade, mas até mesmos os caminhoneiros
saberem que estávamos cobrando dos poderes competentes os seus direitos como
cidadãos. A pista foi liberada e a
caminhada continuou firme até chegar na sede do Município de Santa Quitéria
mais ou menos umas treze horas, todo mundo com fome e sede. A organização
preparou um palanque com apresentações das caravanas, de vários municípios que
compõe o Território do Baixo Parnaiba. Membros dos seguimentos populares em
defesa dos direitos humanos fizeram seus acentos. Redes de TVs e alguns jornais
vieram de São Luís e Teresina-PI para a cobertura dessa marcha que muito rendeu
nas conquistas de direitos no Baixo Parnaiba.
Sinto
saudades daquela época em que os nossos movimentos estavam fortes; precisamos
reerguer essa luta, reativar os grandes encontros de trabalhadores, os
seminários, as marchas. O agro-negócio neoliberal está aí, o movimento caiu um
pouco mas não morreu. Vamos a luta! “Um outro Baixo Parnaíba é possível, sem
soja, sem eucalipto; com frutas e verduras, com as chapadas e sustentabilidade
econômica para todas as comunidades tradicionais que ocupam esse território há
séculos.”
José
Antonio Basto
04/11/2014
militante social dos direitos humanos, Paixo Parnaíba
email: bastosandero65@gmail.com
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